Casos de violência escolar sempre acendem o alerta para a Segurança Pública, mas, principalmente, sobre como os sistemas de ensino encaram as relações entre estudantes, professores e outros integrantes da comunidade escolar. No último dia 20, um adolescente de 14 anos foi apreendido, suspeito de planejar assassinatos em uma escola de Santa Maria. As investigações da Polícia Civil apontaram que ele fingiu integrar uma facção carioca com o objetivo de causar medo nas redes sociais. Para o psicólogo e mestre em educação Mauro Gleisson de Castro Evangelista, esses casos de violência em ambientes escolares seguem padrões muito "popularizados por grupos afins nas redes sociais". O especialista é servidor da Secretaria de Educação do Distrito Federal há 30 anos, e explica que esses fenômenos são comuns em locais que buscam apenas a "coerção da violência sem possibilitar espaços de expressão". Mauro defende que o ambiente escolar deve ser melhor regulamentado e também oferecer práticas esportivas e culturais, com o objetivo de permitir ao estudante se expressar enquanto sujeito, "porque se não estaremos abafando pressões que vão explodir e trazer problemas muitos sérios".
"Quando a escola não deixa muito clara sua lei, a lei da rua entra, e ela é ambígua e, psicanaliticamente falando, é perversa. Um terceiro ponto são as mídias sociais, que têm popularizado condutas de manifestação de violência", emenda Mauro.
Para Luciana Custódio de Castro, diretora no Sindicato dos Professores no Distrito Federal (Sinpro-DF), a violência nas escolas pode ser entendida como um efeito colateral do cenário violento presentes nas comunidades em que as unidades de ensino estão inseridas. "Por isso, nós combatemos tanto o projeto da militarização, porque não resolve o problema da violência. Só se resolve com políticas públicas voltadas à comunidade", avalia.
"É preciso investir em projetos para tirar as crianças da rua, com planos de esportes, cultura. É preciso ter busca ativa da evasão dos estudantes nas escolas. Outro problema grave é o abandono das escolas públicas pelo Estado. Estamos vivendo uma realidade de turmas superlotadas, carência de professores", elenca Luciana.
A diretora também critica o número de docentes em regime de contrato temporário no DF. "Isso é insustentável. Tem escola em que apenas a equipe gestora é do quadro efetivo. Aí, perde o caráter da continuidade do trabalho, da possibilidade que esses profissionais precisam ter de conhecer os estudantes e as comunidades, para, a partir daí, criar uma proposta pedagógica voltada às demandas. Sem contar também na quantidade insuficiente de orientadores educacionais, profissionais que atuam na mediação de conflitos", afirma a diretora.
Saúde mental
Outro fator a ser considerado, segundo Mauro, é a precarização da saúde mental no país — o que impossibilita a aplicação de ações efetivas para direcionar a "pulsão agressiva" de alguns alunos. "Vemos quadros de adoecimento psíquico muito sérios e que não são devidamente mediados, porque a rede de saúde mental é frágil. Faltam remédios e psiquiatras na rede pública. Os Centros de Atenção Psicossocial (Caps) tentam tirar leite de pedra, mas estão sucateados", avalia o psicólogo.
Uma das maneiras de enfrentar o cenário de violência é colocar as vulnerabilidades humanas em pauta nas salas de aula, além de criar e aplicar planos de convivência. "Há muita discussão no campo da relação entre aluno e conhecimento, que chamamos de aprendizagem, e do professor com o conhecimento, que é o ensino. Mas não é rica na Secretaria (de Educação) uma discussão sobre a relação aluno-professor, aluno-aluno ou professor-professor", analisa Mauro.
"As relações pessoais e as vulnerabilidades não são colocadas em pauta. As populações em situação de risco não são colocadas em pauta, e são essas que estouram, causando danos para si mesmas e para aqueles que as cercam", acrescenta o especialista.
Ontem, um aluno de 13 anos invadiu uma escola em São Paulo, matando uma professora e ferindo outras quatro pessoas. O episódio se desenrolou após uma briga motivada por ações racistas do autor contra o colega.
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Equipes especializadas
Ao Correio, a Secretaria de Educação informou que há uma equipe de psicólogos, profissionais especializados em mediação de conflitos e comunicação não violenta em ação nas escolas, "dando apoio à saúde emocional da comunidade escolar, tanto estudantes, como professores e servidores, com acolhimento e sessões de escuta solidária, em um projeto de gerenciamento de estresse".
"Para combater ações de violência, a SEEDF implementou o Plano de Urgência pela Paz nas Escolas, em março de 2022. O programa continua sendo implementado durante todo este ano letivo nas unidades escolares em que as Regionais de Ensino indicaram como prioritárias. Vale ressaltar que não é possível identificar as instituições em que o plano está sendo implementado por questões de segurança, tanto da escola, quanto dos alunos", continua a pasta, em nota.
Entre as ações do plano, segundo a secretaria, estão inclusas a distribuição do Caderno de Convivência Escolar e Cultura de Paz para todas as instituições, criação de um canal direto entre os coordenadores das Regionais de Ensino e a Polícia Militar, reforço do efetivo do Batalhão Escolar e continuidade da operação de revista nas portas das escolas e nas salas de aula.