
Desde o primeiro dia que entrou em sala de aula, há 33 anos, o professor de geografia Paulo Roberto Magalhães, 57 anos, sonha em contribuir para melhorar a sociedade e fazê-la acreditar que o caminho da mudança está atrelado à educação.
Professor de uma escola pública na região central de São Paulo, ele conta que a violência urbana é a tônica local e que as famílias dos alunos fogem à estrutura nuclear tradicional e muitas vivem em situação de vulnerabilidade.
Mestre em arquitetura e urbanismo, o professor desenvolveu um projeto, em 2016, para levar os estudantes a visitações em vários pontos da capital paulista, para mostrar, a partir de fotografias antigas, como se deu a ocupação do espaço e como isso influencia a vida na região, em especial no Glicério, onde está inserida a escola em que ele trabalha: Escola Municipal de Ensino Fundamental (EMEF) Duque de Caxias. Surgiu assim o projeto Aula Pública: Além dos muros da escola.
Dia do Professor: educadores envolvem jovens da periferia com projetos inspiradores - Acervo pessoal
"Através da Aula Pública, tornou-se possível contribuir de forma mais eficaz para a formação intelectual e cidadã dos alunos, incentivando a compreensão e o entendimento de questões políticas da sociedade brasileira a partir de dados da sua região. Este projeto, na medida do possível, tem contribuído para formar líderes, desdobrando-se na vertente do objetivo inicial: compreender e fortalecer o processo de transformação do espaço e sua real ocupação, além de melhorar os índices de aproveitamento escolar", afirma o docente.
O início da empreitada, entretanto, contou com desafios: a própria comunidade não via com bons olhos os alunos saindo para campo, fotografando o bairro ou tentando entrevistar os moradores. "Às vezes, ouvíamos na rua pessoas em rodinha perguntando: ‘quem é esse cara?’, ou ‘lugar de aluno é na sala de aula!’. Mas, a relevância de sair da sala e a minha persistência fez com que nossos alunos reconhecessem a importância de preservar o espaço público e de reconhecer, através dele, o seu papel na sociedade".
Em 2020, durante o primeiro ano da pandemia, um outro desafio veio à tona: com o isolamento social, o educador não podia levar os estudantes às experiências presenciais. Surgiu a ideia de ir sozinho aos locais para fotografar e criar conteúdos virtuais que proporcionassem aos alunos a sensação de ter estado naquele lugar. "Como eu não podia levar meus alunos para as ruas, eu trouxe as ruas para as telas deles", destaca Paulo.
A iniciativa levou o professor a ganhar o Prêmio Ibero-americano de Educação em Direitos Humanos Óscar Arnulfo Romero, uma iniciativa que reconhece o trabalho das instituições de ensino e da sociedade civil na defesa e promoção dos direitos humanos por meio da educação, promovido pela Organização de Estados Ibero-americanos para a Educação, a Ciência e a Cultura (OEI).
Paulo conta que, durante o isolamento imposto pelo surto sanitário, as atividades tinham de ser lúdicas e envolventes. "Utilizamos jogos para prendermos a atenção dos alunos, e eles, felizmente, não se afastaram da escola", comemora.
Quanto ao prêmio, ele diz que se sentiu fortalecido. "E corajoso a enfrentar todos os desafios que virão pela frente a partir do prêmio, pois defender um projeto que representa o nosso país em educação em direitos humanos, nos dá uma responsabilidade enorme, que o educador ele pode sim, transformar a nossa sociedade e lutar pelos seus direitos e deveres. Sempre olhando de forma positiva que um dia todos serão respeitados dentro da lei".
Saiba Mais
Cruzando Fronteiras
Um dos eixos de atuação da OEI envolve a promoção do bilinguismo. Os idiomas das nações ibero-americanas pautaram iniciativas pelo Brasil, como o Programa Ibero-americano de Difusão da Língua Portuguesa, criado para valorizar as duas línguas oficiais – espanhol e português – e potencializar o uso das línguas em um modelo bilíngue na região ibero-americana.
Para estimular estudos relevantes sobre o bilinguismo, que mostrem a importância geopolítica dos dois idiomas, o programa busca identificar, promover e reconhecer experiências educativas realizadas por escolas da rede pública de ensino que se destacam no ensino bilíngue e intercultural.
Assim surgiu o Prêmio Cruzando Fronteiras, que reconhece as experiências educacionais de interculturalidade e bilinguismo nas escolas da rede pública de educação básica formal, englobando a educação infantil, o ensino fundamental e o ensino médio, e instituições de educação profissional técnica de nível médio.