A violência escolar no Distrito Federal se tornou um tema de debate nas últimos semanas, após casos de brigas entre estudantes — os dois episódios mais graves terminaram no esfaqueamento de um adolescente em Ceilândia e de uma garota em São Sebastião. Apesar de essas ocorrências terem sido em áreas da periferia, um estudo realizado por pesquisadores da Universidade de Brasília (UnB) e publicado na revista Educação & Sociedade mostra que, diferentemente do imaginário popular, as unidades de ensino que registram mais agressões entre alunos não estão, obrigatoriamente, inseridas em regiões administrativas com altas taxas de criminalidade.
O artigo A violência urbana e escolar nas periferias de Brasília foi publicado pelo doutor em educação pela UnB Sullyvan Garcia da Silva e pelos professores Paulo Lima Junior e Haydée Caruso, ambos da universidade. "Reunimos alguns dados fornecidos pela Secretaria de Segurança, de índice de homicídio e violência, e dados da Codeplan (Companhia de Planejamento do DF), como informações de renda e cor da população. Com isso, chegamos à informação de que as regiões administrativas com altos índices de violência não, necessariamente, tinham uma escola violenta", destaca Sullyvan.
O pesquisador avalia que o contrário também acontece. "Regiões tranquilas, como o Plano Piloto, que têm um baixo índice de criminalidade, têm escolas violentas. Apesar desse resultado, ainda é prematuro dizer qual o motivo dessa relação e fazer um diagnóstico. É preciso mais estudos e novos dados para entender esse fenômeno", pondera o doutor em educação.
O artigo nasceu da pesquisa de doutorado de Sullyvan, concluída em outubro de 2021. "Apesar desse foco dado agora no tema pela sociedade, as pesquisas sobre violência escolar acontecem desde 1980 de forma sólida. Em 2019, os dados que eu recebi foi de um aumento (de violência escolar) três vezes maior em relação à violência registrada nos anos de 2017 e 2018. Em 2020, não temos como quantificarmos isso, devido a pandemia", detalha.
Sullyvan considera que o distanciamento da escola, causado pelo isolamento social, é capaz de ter gerado uma dificuldade nos adolescentes se relacionarem. "Isso pode ter causado uma explosão dos casos de violência, devido a sensibilidade de lidar com o outro", analisa.
Respeito e convivência
Professora do Departamento de Psicologia da Educação da Universidade Paulista (Unesp) e líder do grupo de estudos e pesquisas em educação moral, Luciene Tognetta ressalta que o acolhimento é fundamental para mudar esse cenário. "Se quero combater a violência, devo promover a convivência. Ações que façam com que os alunos consigam entender a necessidade de respeitar o outro e que eles consigam pensar em ações para o bem, no lugar de terem tempo de fazerem outras ações, são essenciais. As causas da violência já existiam antes, mas, depois da pandemia, foi intensificado, devido às situações a que os adolescentes foram expostos, com muita ansiedade e depressão causados pelo isolamento", explica.
Para Luciene Tognetta, a busca por entender os estudantes individualmente é o caminho. "A escola é o lugar de formação para a convivência, que os alunos precisam conviver. Por isso, a especialização dos profissionais é tão importante. Nem sempre é dada a devida atenção ao problema, porque o aluno é direcionado à polícia, é suspenso, ao laudo médico, mas não recebe atenção para o problema de convivência. Ele é direcionado a outros locais e não tem o problema solucionado e reparado dentro da unidade", argumenta a professora.
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