A duas semanas da realização do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) sofreu duas baixas. Eduardo Carvalho, coordenador-geral de exames para certificação, e Hélio Junio Rocha Morais, coordenador-geral de logística da aplicação, pediram demissão do MEC. Entre outras atribuições, ambos os servidores tinham parte na aplicação do Enade e do Encceja. O Enem está previsto para ocorrer nos dias 21 e 28.
As exonerações ocorreram em meio a críticas de suposta falta de "comando técnico" na presidência do órgão. Em maio deste ano, o presidente da República, Jair Bolsonaro,proibiu a publicação de uma pesquisa do Inep, alegando que o certame não teria passado por todas as etapas. Na quinta-feira, ainda houve reunião da cúpula do Inep onde foram abordados riscos e prejuízos da aplicação das provas.
Especialistas ouvidos pelo Correio avaliam que a saída dos coordenadores prejudica o Enem. Na avaliação de João Marcelo Borges, pesquisador do Centro de Desenvolvimento da Gestão Pública e Políticas Educacionais, da Fundação Getúlio Vargas (FGV/DGPE), os problemas acumulados desestimulam os candidatos. "O conjunto de erros deste governo na educação, em particular no Enem, já fez com que essa edição tenha o menor número histórico de participantes", observa. "Mais do que isso, é uma redução expressiva de candidatos pretos, pardos e indígenas", acrescenta. Segundo o especialista, do ano passado para cá, houve uma queda de inscrições de 53% de candidatos pretos, 54,8% de candidatos indígenas e 51,7% de candidatos pardos. Entre os concorrentes brancos, a redução do número de inscritos foi de 35,8%.
João Marcelo ressalta outros prejuízos. "Claramente, (a demissão) é mais uma etapa de um processo de degradação das instituições que compõem o Ministério da Educação, que não se restringe ao Inep. Esse é o quinto presidente no Inep, no mesmo governo, em três anos", elenca. "Obviamente essas constantes mudanças de comando tanto no MEC quanto no Inep, afetam a capacidade de trabalho. Não é isolado, nem do governo, nem dessa presidência específica, que com certeza coloca em risco tanto o Enem quanto o Saeb (Sistema de Avaliação da Educação Básica)".
Para Catarina de Almeida Santos, professora da Universidade de Brasília e Coordenadora do Comitê Distrito Federal da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, o Ministério da Educação realizou um processo repleto de vícios. "Essas pessoas não querem se colocar num processo que sabem que vai dar errado, pois serão responsabilizadas", afirma.
Ela conta que há um equívoco generalizado na gestão dos exames nacionais. "Tudo isso faz parte do conjunto do projeto desenvolvido pelo Inep alinhado ao governo. É como o MEC vem fazendo as coisas: sem garantir segurança do processo" critica Catarina Santos. Ela citou um exemplo: "Por que alunos têm que apresentar atestado em plena pandemia? Nesse contexto, só os mais pobres são impactados",
Procurados pela reportagem, o MEC e Inep não se pronunciaram até o fechamento desta edição.
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