Resultados do Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (Enade) divulgados, ontem, mostram que 11 cursos de ensino superior no Distrito Federal atingiram nota máxima na avaliação de 2019. A análise é um dos processos do Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior (Sinaes), e foi detalhada pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), ligado ao Ministério da Educação (MEC). Ao todo, 150 cursos da capital foram observados, de 29 áreas. A Universidade de Brasília (UnB) teve destaque na pesquisa com 10 graduações entre as 11 que alcançaram a maior pontuação. A 11ª da lista é enfermagem, da Escola Superior de Ciências da Saúde (Escs), instituição que também é pública. Os índices variam de 1 a 5, sendo que as notas 1 e 2 são consideradas insatisfatórias. Outras instituições de ensino privadas e públicas do DF tiveram 48 notas 4, outras 48 notas 3, mais 39 notas 2 e três cursos avaliados no conceito 1, além de um sem classificação.
A prova é realizada a cada três anos com as mesmas áreas, o que significa que os cursos avaliados em 2019 voltam a ser analisados em 2022. O exame tem 40 questões, sendo 10 de formação geral — que aferem aspectos da formação profissional — e 30 de componente específico — com perguntas sobre a área na qual o aluno está se formando. Assim como foi verificado no DF, de maneira geral, nas outras unidades da Federação, o desempenho dos estudantes de instituições públicas foi melhor que o de alunos de universidades e faculdades particulares. Um dos motivos que pode explicar isso é o conceito de aplicações em atividades universitárias além do campo do ensino, como pontua a reitora da UnB, Márcia Abrahão Moura.
Ensino público
“O Enade avalia também a qualidade da nossa pesquisa e extensão. Grande parte da formação do estudante é influenciada também por inovações científicas, pela relação com a sociedade. Temos quase 100% dos docentes com doutorado, formados nas melhores universidades do mundo, mostrando em conjunto com os alunos a capacidade de uma pesquisa de excelência. Nesta pandemia mesmo estamos atuando no combate à covid-19 com pesquisas para a população, como o teste da vacina chinesa, por exemplo, que a UnB está participando”, lembra Márcia. Para a reitora, as conclusões divulgadas ontem são satisfatórias também por mostrarem que o investimento público nas instituições de ensino superior acabam sendo recompensados.
“O financiamento público da UnB vem da população brasileira. Ou seja, um resultado positivo como esse significa retornar à sociedade o investimento que ela prestou no ensino. Temos de comemorar nossa capacidade de estar sempre à frente, mesmo com situações adversas. As notas da UnB são expressivas e vêm como presente para Brasília nos 60 anos da cidade”, diz. Os cursos com conceito 5 da Universidade de Brasília foram arquitetura e urbanismo (integral e noturno), engenharia ambiental, engenharia civil, engenharia de produção, engenharia mecânica, farmácia (integral), nutrição e odontologia (esses nove do Campus Darcy Ribeiro) e enfermagem do Campus Ceilândia. Ainda houve 17 notas 4 na UnB e uma nota 3. Nenhum curso de graduação da instituição foi considerado insatisfatório, com as duas piores pontuações.
Estudante de arquitetura e urbanismo na UnB, Karen Mendes, 24 anos, fez a prova do ano passado. Prestes a se formar, ela considera que os bons resultados contribuem para a visibilidade da universidade. "Mesmo que o Enade não valha ponto para a faculdade em si, ele é muito importante para mostrar o nível do ensino. A parte da prova sobre conhecimentos específicos foi o que a gente aprendeu, não tinha nada que não tivesséssemos visto", avalia a jovem.
Catarina de Almeida Santos, integrante do comitê do DF da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, avalia que observar a educação como um processo, não um produto, é o melhor caminho para alcançar bons índices. “Os dados divulgados refletem a seriedade das universidades públicas, que olham a educação como um bem, um direito, não como um serviço a ser comercializado. Tudo isso é importante no processo de formação e mostra muito que a instituição pública olha a questão geral, não só o ensino”, opina.
A especialista destaca que a dedicação de alunos e professores nesse sistema pedagógico, para o desenvolvimento da instituição e da sociedade que a cerca, provocam boas notas. “Grande parte dos cursos com melhores avaliações estão vinculados às instituições públicas, porque elas não são simplesmente de ensino. Têm alunos que se dedicam à universidade, desenvolvem ciência, integração, pensam as questões dos estágios. Muitos cursos bem avaliados são das áreas de saúde, que têm muito contato com a comunidade, por exemplo. Os professores também são dedicados, participam de pesquisas, publicações, não são só ‘aulistas’”, afirma Catarina Santos.
Rafael Vilela, 25, cursa o 11º semestre de engenharia de produção na UnB, outro curso que teve nota máxima no Enade. Para o jovem, o resultado, além de assegurar aos estudantes a qualidade do ensino prestado, abre portas para qualificações posteriores. "Caso eu queira fazer algum mestrado ou doutorado, (isso) pode ajudar muito se eu precisar de uma bolsa de estudos”, diz o estudante.
Desempenho
Outro índice divulgado ontem foi o Indicador de Diferença entre os Desempenhos Observado e Esperado (IDD). Ele faz um paralelo com o desempenho do aluno no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) para calcular o quanto os estudantes que estão terminando o curso se desenvolveram ao longo do percurso acadêmico. Apenas três cursos obtiveram nota máxima no IDD 2019: enfermagem do Centro Universitário de Brasília (UniCeub), engenharia da computação do Centro Universitário do Instituto de Educação Superior de Brasília (Iesb) e agronomia no Centro Universitário Icesp (Unicesp). Cinco cursos do DF tiveram nota 1 no IDD: medicina no Uniceplac, enfermagem no Centro Universitário Estácio de Brasília, enfermagem e farmácia no Uniplan e arquitetura e urbanismo no Iesplan.
Simone Maria Espinosa, diretora institucional de Regulação e Avaliação do UniCeub, explica que “o IDD mostra o quanto o aluno agregou de conhecimento”. “Essa nota de enfermagem mostra que o curso agregou muito em relação tanto aos conhecimentos gerais, quanto aos assuntos específicos do curso. Atingimos um grau de maturidade interessante nesse sentido”, diz. Simone pondera que as instituições privadas têm como desafio realizar a conscientização dos estudantes quanto à importância da prova. “A luta que nós temos em relação ao Enade é para fazer com que o aluno faça a prova com interesse e com responsabilidade, porque a nota não é só para a instituição. Os professores fizeram o trabalho de conscientização e mostraram que eles evoluíram durante a jornada acadêmica que participaram. Para a instituição, esse é um instrumento de gestão, que permite saber o que foi feito de forma assertiva, olhar fragilidades dos nossos cursos e apresentar planos de ações”, considera.
*Colaborou Tainá Seixas