O estabelecimento do Dia do professor no Brasil remete aos tempos do Império, quando o imperador D. Pedro I instituiu decreto que criou o ensino elementar. Em 1963, a data veio a ser oficializada por decreto federal. Antes disso, contudo, em 1947, um evento dedicado à confraternização entre professores e alunos ajudou a marcar 15 de outubro como um dia especial para os docentes. Na comemoração, um dos realizadores, o professor Salomão Becker, proferiu a seguinte frase: “Professor é profissão. Educador é missão".
A citação do mestre, mesmo tendo sido dita há mais de 70 anos, continua soando jovem em 2020. Este ano, em especial, foi desafiador para a profissão, pois, desde março, professores de todo o Brasil tiveram que se reinventar para atingir os alunos, cada um de sua casa. Mesmo que muitos não tivessem nenhuma experiência com aulas a distância, os docentes toparam o desafio de se reinventar e mostraram que têm como verdadeira missão de vida educar, independentemente das condições*.
O Eu, Estudante reuniu histórias de professores espalhados pelo Distrito Federal que se destacaram na forma como driblaram os desafios impostos pelas aulas remotas. Ao todo, foram colhidos nove relatos, sendo sete de escola públicas, um de escola particular e um de instituição federal de ensino. No período entre as aulas, cada professor reservou um momento da rotina agitada para contar como tem sido enfrentar esses desafios.
Educar é uma tarefa especial
A pandemia não poupou nenhum segmento da educação, todos tiveram que lidar com o fechamento repentino das escolas. Contudo, vale lembrar que a educação especial não foi poupada. Professores dessa modalidade, que já se desafiavam diariamente para ensinar, tiveram que se reinventar. Nesse grupo está Maria Cristina da Silva de Jesus, 43 anos, que leciona para alunos com transtornos do espectro autista no Centro de Ensino Fundamental 101 do Recanto das Emas.
No decorrer dos 22 anos de profissão, ela se apaixonou e se especializou pela área educação especial. Desde 2012, atua continuamente na mesma turma para alunos com Transtornos Globais do Desenvolvimento no CEF 101. A pandemia, porém, chacoalhou a rotina da professora e a forçou a reformular o método desenvolvido nesses oito anos. “Quando veio a pandemia ficamos naquela insegurança por trabalharmos com alunos especiais que têm pouca fala ou que não usam a verbalização”, lembra Maria Cristina.
“Eu tive, primeiramente, que conquistar a família, falar que era possível e que faríamos de tudo para que eles não desistissem. Primeiro, eu expliquei como acessar a plataforma, depois, todos os dias eu perguntava: ‘mãezinha, paizinho, ele conseguiu?”, recorda. Apesar do esforço em reter a atenção dos alunos, logo nos primeiros dias, a professora notou que não teve sucesso.
Porém, ela não receou em reformular seus métodos: começou a produzir vídeos curtos, de, no máximo, três minutos e meio, e que tivessem músicas. “Comecei a postar vídeos criativos, até aqueles que davam errado e as mães falavam que as crianças começaram a rir e que estavam conseguindo acompanhar”, lembra com entusiasmo. Maria também separou horários para atender cada aluno separadamente por videochamada. Ela viu sucesso no método desenvolvido com o apoio da gestão da escola.
Segundo Lídia Sena, 57, mãe de um dos alunos com transtorno do espectro autistas, não ocorreram maiores dificuldades na adaptação do filho às aulas on-line. Ela conta que foi explicando com jeito e ele aceitou, uma vez que ama as atividades da escola. No entanto, a mãe ressalta que o trabalho da professora foi muito importante nesse processo. “Está sendo muito bom o método que ela tem aplicado para, juntos, trabalharmos principalmente (no formato) on-line. A família está muito participativa, tanto eu quanto o meu esposo. Confesso que estou amando”, ressalta Lídia.
Maria considera que o ensino remoto levou para dentro da casa dos alunos o contato com os pais na realização das atividades. Segundo ela, a interação das famílias melhorou muito porque os pais tiveram corresponsabilidade na aprendizagem. “O modelo remoto é difícil e mais complicado? Sim. É um desafio porque a gente saiu da zona de conforto, mas valeu a pena”, afirma a professora.
Trazer a sala de aula para dentro de casa
O fechamento das escolas, apesar de necessário, pegou em cheio a educação infantil e os anos iniciais do ensino fundamental. A professora Aldecy Passos, 45, da Escola Classe 410 da Asa Sul ressalta que a medida interrompeu, por um momento, o primeiro contato dos pequenos com a leitura e a escrita, muitos de seus alunos não conheciam nem mesmo as vogais. Portanto, ficou na mão dos professores alfabetizar pela tela do computador. Foi desafiador, mas ela conquistou bons resultados.
Aldecy leciona para o primeiro ano do ensino fundamental, série em que muitos dos alunos sequer passaram pela educação infantil. “Quando você é professora de 4° ou 5° ano, seus alunos já sabem ler, e mesmo assim o ensino a distância seria um desafio. Agora, imagine você pegar 23 crianças que nem mesmo conhecem as vogais e ter que ensiná-las on-line?”
A professora conta que o trabalho foi árduo para que elas não perdessem o ano letivo. Junto à escola, Aldecy elaborou kits com materiais escolares como massinha, cadernos e lápis que os pais puderam buscar na escola. Essa saída foi a forma encontrada pela professora de levar, na medida do possível, a sala de aula para dentro da casa de cada aluno. Contudo, a docente destaca a dificuldade no acesso à plataforma por muitos estudantes. Para contornar, ela optou pelo envio das atividades e explicações para o número de WhatsApp dos pais.
“A gente vai sempre tentando formas de atingir os alunos. Em sala de aula não seria isso que eu iria fazer? Se a criança não está conseguindo aprender de uma forma, eu iria tentar outro jeito. Então, não é porque estou longe (que vou desistir deles)”, ressalta Aldecy. “Mesmo no formato remoto, eu vejo como meus alunos têm crescido e aprendido. Eu sempre falo para os pais que não é um ano perdido para os nossos pequenos. O máximo que eu puder ajudar, eu vou ajudar.”
“Como meu filho está com dificuldade de concentração a professora Aldecy preparou um kit com muitas atividades dentro. Muitos jogos, brincadeiras que ajudam na aprendizagem. Ainda estamos começando a mexer no kit, mas tenho certeza que será de imensa ajuda”, pondera Neila Santos Uecker, 52, mãe de um dos alunos de Aldecy. “Minha avaliação ao trabalho da professora Aldecy neste período de aulas on-line tem sido extremamente positiva. Ela é atenciosa, cuidadosa e, acima de tudo, faz um trabalho muito personalizado.”
Alfabetização a distância
Embora a Escola Classe Núcleo Rural Córrego do Atoleiro, em Planaltina, seja classificada pela Secretaria de Educação como urbana, a professora Caroline dos Anjos, 34, destaca que parte dos alunos lida com questões de área rural. A falta de acesso à internet, equipamentos ou mesmo atenção por parte dos pais é a realidade de muitos alunos da escola. “Cada um tem uma peculiaridade diferente, são várias dificuldades que a gente passa, seja financeira, seja de materiais, em muitos quesitos”, destaca a professora.
Aficionada por ensinar desde os 14 anos, quando dava aulas na igreja, Caroline desenvolveu gosto pela alfabetização de crianças. Atualmente, a professora leciona para o segundo ano do ensino fundamental. “Eu amo o que faço, gosto de estar em sala de aula com os meninos”, lembra a professora. No entanto, ela tem se desdobrado para alfabetizar os alunos a distância e encontrou uma solução criativa no uso de leituras diversificadas.
Logo na semana de ambientação, entre 22 de junho e 10 de julho, Caroline percebeu baixo engajamento dos estudantes, pois poucos retornavam as atividades. No entanto, foi no incentivo à leitura que a professora enxergou a saída para resgatar cada criança e evitar que perdessem o vínculo com a escola. “Mesmo que passem de ano com algumas dificuldades, tendo uma leitura fluente, eles conseguirão mais facilmente alcançar os objetivos”, ressalta.
No Projeto de Leitura Desafio Diário, a cada dia, a professora disponibiliza na plataforma de aulas ou envia por WhatsApp um texto para que os alunos do segundo ano apresentem a leitura por meio de vídeo, áudio gravado ou ligação telefônica. Depois da iniciativa, ela conta que o engajamento dos estudantes foi bem maior: dos 26 alunos presentes na turma, 20 já são bastante assíduos.
Iohara Hamine, 28, é mãe de um dos alunos beneficiados pelo projeto de leitura de Caroline. Ela conta que o filho, mesmo tendo dislexia, começou a ler durante as aulas a distância. “Com as aulas on-line e com o projeto de leitura, ele começou a ler. A dislexia é um problema que faz com que ele tenha muita dificuldade, mas com o projeto em que ela fica ligando e apoiando, ele começou a ter um bom desenvolvimento. A gente está tendo um resultado bem positivo com esse jeito da professora ensinar”, destaca a mãe.
Ao fim de cada mês, a professora contrata um motoboy que entrega lembrancinhas na casa dos alunos que cumpriram todos os desafios propostos. “Para mim, isso é muito gratificante e muito bom ver que estamos conseguindo alcançar os alunos e que eles estão conseguindo participar”, afirma. “Eu tenho alunos que não estavam lendo no início do ano e que começaram a ler durante a pandemia. Então, vale a pena.”
Prover primeiro o básico
“Eu sempre acreditei que a educação pudesse trazer respostas melhores para o mundo. Então, sempre fui muito de acreditar que a gente consegue mudar para melhor as coisas. De todas as profissões que eu poderia escolher, acho que ensinar foi que me ajudou a seguir essa busca de tentar fazer alguma diferença”, relata Thailise Maressa, 33, que atua no Centro Educacional (CED) Fercal.
A escola em que trabalha está situada em uma das regiões administrativas com menor renda per capita do DF. As dificuldades eram diárias no modelo presencial e não foi diferente durante as aulas remotas. Segundo Thailise, a nova realidade desafiou completamente os professores que não estavam preparados para dar aulas com o intermédio da tecnologia. “Nós tivemos que nos reinventar, tudo que já dominávamos em sala de aula tivemos que adaptar”, destaca.
“Para a captação dos alunos, foi extremamente complicado. A Fercal tem muitas características de zona rural. Então, existem locais em que a comunicação é escassa ou inexistente, por isso, a gente teve muito trabalho para captar esses alunos”, conta a professora de língua portuguesa. Além disso, a escola teve que lidar com famílias com condições financeiras impactadas pela pandemia.
“Não tínhamos como exigir que o ensino fosse prioridade em uma família que não tem sequer o alimento. Então, a gente teve que parar nossa angústia interna diante da adaptação e pensar nas dificuldades individuais das famílias dos alunos”, relata Thailise. “Nós, professores, junto com a direção, decidimos fazer uma campanha para arrecadação de alimentos e cestas básicas para ir ao encontro dessas famílias que tinham como prioridade se alimentar e não estudar.”
As dificuldades não param por aí: com a falta de acesso, a professora conta que passou a enviar por WhatsApp as aulas, vídeos e áudios explicativos e formulários para atingir os alunos sem acesso. Até de peruca, chapéu de bruxa e réplica de uma caveira na mão enquanto ensina verbo transitivo, a professora faz de tudo para chamar a atenção dos alunos nas aulas. Porém, ela lamenta ver que muitos alunos que tinham bom desempenho nas aulas presenciais agora estão desestimulados. “A pandemia trouxe à tona diversas fragilidades da educação, a gente viu essas deficiências bem na nossa cara”, resigna-se.
Uma das alunas de Thailise, Júlia Paiva, 15, que está no 9° ano do ensino fundamental, destaca que o principal diferencial da professora é fazer vídeos se caracterizando como personagens para explicar o conteúdo. Segundo a estudante, outro ponto positivo da docente é o controle das atividades para não sobrecarregar os alunos durante as aulas remotas. “Ela é uma professora que está sempre disposta a ensinar aos alunos. Ela consegue tornar a aula mais interessante”, destaca a estudante
Gincana do Boa tarde
A professora Lourdes Cosmo, 57, que dá aulas para a turma do 5º ano no Centro de Ensino Fundamental Cerâmicas Reunidas Dom Bosco, atualmente, se divide entre a plataforma, onde dá aulas para oito alunos, e o WhatsApp, onde se encontram mais seis estudantes. Ela conta orgulhosa que, mesmo sendo uma escola na região rural de Planaltina, com diversas dificuldades de acesso, atingiu 100% dos alunos participando dos projetos que desenvolve remotamente.
Lourdes atua há 25 anos na sala de aula, já poderia ter se aposentado, mas decidiu permanecer na escola após ganhar o Prêmio Professores do Brasil, edição de 2018. Porém, ela lembra que, quando se deparou com o modo remoto de dar aulas, ficou receosa e se questionou sobre a aposentadoria. Mas enfrentou: “No começo, foi muito desafiador porque eu não tinha familiaridade com as tecnologias e não sabia nem o que era a plataforma. Mas fui aprendendo na raça.”
Na plataforma oferecida pelo GDF, existe um mural onde professores podem desenvolver suas atividades e alunos fazerem postagens. Foi nesse lugar que a professora quis fazer a diferença. Ela lançou um desafio para os alunos chamado Gincana de 'Boa tarde', em que, a cada dia, um aluno, professor ou convidado, fica encarregado de elaborar uma mensagem e postar na plataforma. Os conteúdos são trabalhados concomitantemente e os alunos são incentivados a responder uns aos outros.
O que começou com um incentivo a dizer boa tarde, virou um espaço pedagógico. Nessa mudança, o número de interações saltou. Além disso, para os alunos que não podem acessar a plataforma, a professora recebe as atividades pelo WhatsApp e ela mesma posta no mural, para que os alunos não sejam excluídos. “Dessa forma, eu crio a interação entre todos eles”, diz a professora. “Eu trabalho na plataforma conteúdos que eles vão usar para a vida toda, eles são estimulados a serem protagonistas.”
Graciele Rodrigues, 30, conta que a filha Emanuelle Rodrigues, 10, gosta bastante da gincana do 'Boa tarde', pois envolve vários desafios diferentes que ajudam no aprendizado dos conteúdos. Emanuelle ressalta que a curiosidade de saber quem vai ser o desafiado do dia é o mais divertido da atividade. “A professora Lourdes é muito dedicada no que faz, é de uma atenção com alunos que nos surpreende sempre tentando fazer coisas diferentes que fazem com que os alunos gostem da aula dela”, reforça a mãe.
Jogos nas aulas remotas
Não só os professores do ensino fundamental e médio tiveram que se desdobrar para envolver os alunos no formato on-line. Segundo a professora Laís Moreira Silva, 31, do Centro Interescolar de Línguas do Guará (CILG), o período de adaptação foi desafiador. Ela precisou motivar e, ao mesmo tempo, acalmar os estudantes que enfrentavam quadros de ansiedade ou que tiveram que lidar com perdas de amigos e familiares.
Mostrar-se disposta a apoiá-los, com suporte tanto tecnológico quanto emocional, foi a chave que a professora encontrou para que os alunos se acostumassem e se engajassem com as aulas remotas cada vez mais. Além disso, a Laís apostou no uso de jogos para tornar as aulas ainda mais instigantes.
“O ensino remoto é um desafio muito maior do que o presencial. Os alunos se dispersam com mais facilidade, se cansam mais rapidamente e acabam perdendo o interesse com o passar das aulas. Foi aí que a ideia dos jogos surgiu, pois ajuda muito a despertar o interesse da turma. O que tornaria nossas aulas especiais, seria trazer o dia a dia dos alunos para dentro das aulas remotas por meio da utilização de jogos para motivação e fixação do conteúdo”, ressalta a professora.
Além dos jogos, a professora viu nas aulas on-line uma oportunidade para utilizar materiais educacionais que são desenvolvidos com conteúdos presentes na cultura pop, como filmes, séries, músicas. “Muitas vezes, temos limitações em utilizar esses materiais em uma sala de aula tradicional, mas a utilização desses conteúdos com os meios tecnológicos disponíveis no sistema de educação a distância é praticamente ilimitada, o que tornou minhas aulas, não somente divertidas, mas também ricas em aprendizado”, destaca a professora.
“Os jogos são um ponto fundamental para a aprendizagem. Pois para aprender outro idioma, ainda mais na fase adulta, é primordial a prática. E de certa forma esses jogos auxiliam bastante. Além de servir para revisão da matéria,” destaca a aluna do segundo semestre de inglês no CILG Karoline Eleni, 27. “Me surpreendi com as aulas, pois o rendimento foi quase o mesmo de estar em aulas presenciais, e sem o estresse do deslocamento”
O primeiro semestre letivo de 2020 foi finalizado no fim de setembro e a professora já consegue avaliar que a junção desses elementos resultou em um desempenho bastante satisfatório. Ela destaca que os alunos falam com gratidão dos momentos de diversão das aulas. “Só espero que esse período não desapareça da mente das pessoas quando tudo isso passar e que nós, professores, também sejamos lembrados assim como os grandes profissionais de saúde. Também somos heróis, que embora não tenhamos a capacidade de curar o corpo, fizemos o nosso melhor, tendo como objetivo curar a mente”, destaca Laís.
Renovar-se depois de anos
A professora do Centro Educacional Da Criança do Gama Dulce Helena da Silva, 51, já contabiliza 28 anos dando aulas. No entanto, o ensino remoto foi novidade na carreira. Ela não encontra outra palavra a não ser “desesperador” para definir o processo de adaptação. “É tudo novo, um novo formato. Por mais que a gente tenha acesso à tecnologia, em muitos processos o professor não tem domínio com a máquina, mas tivemos que nos adequar de maneira bem rápida”, lembra Dulce.
Às vésperas da aposentadoria, a professora topou o desafio, mas ficou nervosa perante à câmera do computador. Dulce conta que lidar com a possibilidade do julgamento de quem a observa a deixava extremamente apreensiva. “Só de imaginar dava um frio na barriga, um desespero e uma vontade de chorar. Era tudo muito novo”, ressalta. Mas, aos poucos, e com as orientações da gestão, ela foi se adaptando.
“Uma situação que a gente tinha no começo é que sabia o conteúdo e dominava, mas diante das câmeras parece que você não sabe mais nada, porque você está preocupado com quem está assistindo. Será que estou falando bem? Como será que vão me interpretar? Os pais estão me olhando? Porém, agora, depois de muito tempo, a rotina está mais tranquila e acredito que a gente tem que se reinventar todos os dias”, ressalta.
A mãe de aluno Suelen Barbosa, 36, se diz sem palavras para descrever o trabalho de Dulce na pandemia. Mesmo com as dificuldades de adaptação, ela considera que a qualidade do ensino continua impecável. “Foi difícil, pois foi novidade tanto para os professores quanto para os pais, mas, em um período muito curto, a gente se adaptou e foi super tranquilo”, ressalta. “Eu vejo que as aulas da professora Dulce estão sendo um desafio, mas que ela está cumprido com sucesso e muita dedicação.”
Além das aulas on-line, que são disponibilizadas na plataforma e no Youtube, a professora participa dos projetos especiais da escola, como o Funhouse, que busca levar diversão para dentro das casas por meio da entrega de kits e um evento remoto. Olhando em retrospecto, ela considera que valeu a pena o tortuoso caminho da inovação. “Nós não podemos ficar parados no tempo, temos sempre que estar se reinventando, sempre buscando o novo para estar lidando com essas situações”
Adaptação na educação superior
O professor da área de física do Instituto Federal de Brasília (IFB) Eryc de Oliveira Leão, 34, considera que diversas dificuldades ainda não foram superadas e que novos desafios sempre surgem durante as aulas remotas. O docente pensa que a forma como as relações vem sendo intermediadas pela tecnologia mudaram a dinâmica do contato entre professor e aluno. “Quando eu estava em ambiente presencial, eu não tinha essa dificuldade (de entender o aluno) porque era visível quem estava bem e quem estava mal, era só ler o rosto e a expressão da pessoa”, pondera.
Ele ressalta que entre as principais dificuldades estão os desafios emocionais de muitos alunos, pois alguns sofrem pela perda de pessoas próximas como resultado da pandemia. Além disso, ele considera que a cultura escolar atual tem sido um fator dificultador, uma vez que existem alguns professore receosos em flexibilizar seus métodos e estudantes que não assumem o protagonismo no aprendizado. No entanto, ele tem feito o possível para compatibilizar o conteúdo com a nova rotina das aulas on-line.
Para os calouros do curso de física, Eryc leciona a disciplina de Cálculo 1. O professor destaca que esses alunos do primeiro semestre têm maior dificuldade de se adaptar ao curso e sofrem pelo choque de sair do médio para o superior. “Eu estou contornando essa dificuldade por meio de um contato semanal em que dou aulas de forma síncronas e também gravada. Eles também se beneficiaram porque já ministro esse curso há um tempo. Então, eles recebem minha experiência e os materiais produzidos. Estou me esforçando mais para que eles não evadam”, ressalta.
“Com relação aos estudantes avançados, que estão mais habituados ao estudo e à física como matéria difícil, os que já estão há um ano, dois ou três na instituição, eu tenho me dedicado mais à produção de material didático como guias de estudo para que eles tenham recursos para estudar”, lembra o professor. Como nesse estágio do curso é difícil que os fluxos de todos os alunos seja o mesmo, o professor tornou os prazos e as avaliações mais flexíveis.
Izabela Prado, 24, que está no 7º semestre do curso de licenciatura em física, ressalta que o professor leciona as aulas pelo Google meet, por vídeos no YouTube e utiliza o Telegram para ter um contato mais próximo com o aluno. Ela lembra que ele faz isso pensando na dinâmica doméstica, onde cada aluno enfrenta problemas particulares. “Dentro do possível em um curso de física, sua metodologia favorece a autonomia e liberdade do aluno, visando as complicações que essa pandemia pode provocar”, considera.
“Nesse semestre, além de professor, ele também faz parte de um núcleo de apoio aos estudantes nesse regime emergencial que estamos. Além das aulas, suas orientações são as maiores contribuições que temos. Sempre conectando pessoas, formando grupos de nichos de interesse para fortalecer nossas comunicações e união diante de tudo isso”, pondera a estudante. “Enfim, (ele está) sempre muito próximo e preocupado com nossas condições atuais e nosso futuro.”
A importância de falar dos sentimentos
A professora Sandra Lino de Carvalho, 43, resolveu levar a bagagem que tem com o tema de Sentimentos e Oralidade para a Escola Classe 419 em Samambaia Norte. Desde o período em que lecionava em modo presencial, Sandra valoriza esse tema dentro da sala de aula. Agora, no período de pandemia, ela introduziu a temática dos sentimentos e da expressão para as aulas on-line, pois revelou ser uma ferramenta para melhor compreender a situação emocional dos estudantes.
“Eu percebi (entre os estudante) muita ansiedade e tristeza, situações de angústia. Em algumas chamadas de vídeo, eu pude perceber (essa situação). Mas sempre (tento estar) passando algo de bom para eles e sempre explicando que (o isolamento social) é para o nosso bem, mas que virtualmente a gente estava próximo”, ressalta a professora do 2° ano do ensino fundamental.
A característica de querer doar carinho e afetividade foi o que levou Sandra ao magistério. Já se passaram 21 anos de profissão, mas esses ainda são traços que ela valoriza e busca passar para os estudantes. O trabalho de sentimentos e oralidade foi a forma que ela encontrou e já vê resultados. Em uma das atividades, por exemplo, ela pede que cada aluno grave um vídeo declarando os sentimentos para um colega. Ela destaca que o trabalho vai além da sala de aula, pois não basta trabalhar só com os estudantes, mas também com os pais.
Eduarda Fernandes, 29, que é mãe de uma aluna de Sandra, considera importante o projeto, pois percebe a filha ansiosa por ficar em casa durante a quarentena. Ela destaca que, com o projeto, a filha pôde se expressar melhor e brincar de forma lúdica, o que ajuda muito no período de isolamento social. “Os resultados são bem significativos e proporcionam total diferença no nosso dia a dia, além de aproximar mais minha filha e eu, nós também nos divertimos muito”, pondera.
*Estagiário sob a supervisão da editora Ana Sá
*colabou com essa reportagem MF Press Global