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TÊNIS DE MESA

Calderano curte a vida de campeão e revela tietagem dos chineses

Acompanhado por 1,2 milhão de seguidores no Instagram, número três do ranking destrincha os dias após a conquista a Copa do Mundo e fala sobre o carinho dos fãs, mesmo após se tornar carrasco da principal potência da modalidade

O planeta da raquete e da bolinha vive a “Calderano mania” após o título inédito conquistado por Hugo na Copa do Mundo de tênis de mesa, em Macau, na China, no domingo (20/4). Número três do ranking de uma modalidade dominada por asiáticos, o carioca de 28 anos curte a semana mais importante da carreira e o “boom” nas redes sociais. Nos últimos dias, viu saltar para 1,2 milhão o número de seguidores no Instagram. Claro, há brasileiros, mas também chineses que o veem para além de algoz. 

“Os chineses gostam muito de tênis de mesa, todas as competições na China lotam os ginásios e, dessa vez, não foi diferente, desde a fase de grupos. Sempre que estou na China também recebo muito carinho dos fãs lá, eles são muito respeitosos. Em Macau, inclusive, é muito difícil até a gente andar um pouquinho na rua. Você sai um pouco, já vem muitas chinesas, acho que 95% dos fãs são mulheres, isso é bem curioso e eu já tinha consciência disso, mas acho que agora com o título da Copa do Mundo, vencendo o chinês, acho que vai aumentar a minha popularidade na China ainda mais, e isso é muito bom”, celebrou, em entrevista coletiva nesta quinta-feira (24/4).

Calderano tem máximo respeito pelos chineses fora da mesa, mas, nos ginásios, quer seguir como carrasco. “É o país do tênis de mesa, eles têm uma cultura do tênis de mesa muito grande e é bom ter esse reconhecimento deles. Hoje, sinto que ainda tenho muito o que alcançar. Esse título foi o maior marco da minha carreira, mas logo depois eu já estava com vontade de fazer isso de novo, brigar com os chineses no mundial mês que vem, nas próximas Olimpíadas. Sempre acreditei que era possível, mas esse título me mostrou ainda mais isso”, destacou. 

Na campanha vitoriosa na Copa do Mundo em Macau, Calderano desbancou o então terceiro colocado do ranking, o vice-líder e o dono do topo, tudo em sequência. Tomokazu Harimoto (JAP - 3°), Wang Chuqin (CHN - 2°) e Lin Shidong (CHN - 1°) foram as vítimas do brasileiro. 

Os resultados alçaram Calderano ao terceiro lugar do ranking mundial e, de quebra, reverberaram no alto escalão da Associação Chinesa de Tênis de Mesa. Então presidente da entidade, Liu Guoliang renunciou ao cargo após a Copa do Mundo e foi substituído Wang Liqin. 

“Não sei exatamente se foi por causa do meu resultado, mas acho que foi interessante o que aconteceu. Liu Guoliang é o principal cara da delegação chinesa. Foi um grande jogador, o primeiro a conseguir grandes títulos importantes. Realmente, é uma notícia muito grande ver que ele esta saindo, mas é muito bom ver as coisas mudando no cenário do tênis de mesa e, claro, com meu título e espero que isso abra mais espaço”, comentou Calderano. 

Calderano mora há 11 anos na pequena cidade de Ochsenhausen, na Alemanha, mas está sempre rodando o mundo para a disputa de torneios internacionais, principalmente na Ásia. Porém, pelo menos uma vez ao ano, tem disputado torneios no Brasil. Em 2025, será a grande atração do WTT Star Contender de Foz do Iguaçu (PR), de 29 julho a 3 de agosto. 

“Com certeza, vou participar dessa competição e espero que a torcida brasileira compareça em peso. Eu sempre gosto muito de jogar na América Latina em geral, sempre sou muito bem recebido, mas claro, especialmente no Brasil. Eu sempre tenho um carinho muito grande da torcida brasileira e eu acho que isso tem tudo para crescer ainda mais depois desse título, acho que isso vai fazer muito bem para o tênis de mesa brasileiro. Espero que muita gente venha acompanhar essa competição”, vibra. 

O WTT Star Contender em Foz do Iguaçu (PR) terá uma premiação recorde. Serão distribuídos US$ 300 mil (cerca de R$ 1,8 milhão). Em 2024, o torneio reservou recompensa de US$ 80 mil.

Hugo Calderano está na Alemanha, onde jogará as semifinais da Bundesliga de tênis de mesa. No domingo (27/4), defende o Ochsenhausen no duelo de ida contra o Saarbrücken. A partida de volta será três dias depois.

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Como foi a comemoração?
“Os dias depois do título foram bem agitados. Nos dois primeiros, quase não consegui dormir, estava falando com muita gente, tentando comemorar, aproveitara o máximo também. Sei do tamanho do meu feito, estou há tanto tempo no tênis de mesa e sei que uma competição dessa grandeza não é fácil. Poucas vezes isso acontece: os chineses perderem uma competição tão grande como a Copa do Mundo. É muito bom ver o quanto as pessoas acompanharam e torceram por mim. Isso só me ajuda e ajuda o tênis de mesa brasileiro a ficar mais popular.”

O que passou na cabeça após o título
“É uma emoção tão forte, acho que foi simplesmente uma onda de alegria, de felicidade, talvez um pouco de satisfação de ter conseguido uma coisa tão grande no tênis de mesa. Imediatamente, percebi que, naquele momento, me tornei o campeão da Copa do Mundo e que vou ser o campeão da Copa do Mundo para sempre, não importa o que aconteça. Acho que é a sensação de ter deixado o meu nome na história do esporte.”

As lições da dor em Paris
“Precisei me reconstruir e aceitar o que aconteceu. Sabia que esse período seria passageiro e que tinha que continuar fazendo meu trabalho. Sempre fui muito resiliente, não tenho medo de sofrer, de lidar com a dor da derrota. É uma coisa muito importante. Quando você se entrega e dá tudo de si é uma forma de ter coragem, porque tem que aceitar o resultado que aconteça no fim.”

Despedida do clube alemão e futuro
“Ainda não tenho nada confirmado. Essa decisão foi justamente pensando em tempo de estar mais tranquilo, ter um pouco mais de liberdade. Coloquei o objetivo pós-Olimpíadas de brigar por títulos com Ochsenhausen por toda a história que a gente teve juntos. Ano que vem, será bom jogar menos por um clube ou até ficar sem clube. Quando tem competições na Ásia, o vai e vem para jogar nas ligas da Europa é desgastante.”

Existe segredo para o sucesso?
“A força mental é muito importante para conseguir me manter tanto tempo entre os melhores. Realmente, exige muito de um atleta estar com essa pressão. Toda as vezes que entro na mesa, todos esperam que eu ganhe, é muito inesperada uma derrota. Sempre foi muito importante eu conseguir lidar bem com esse tipo de pressão externa.”

E agora?
“Sei da responsabilidade que eu tenho, quero estar entre os melhores, não baixar meu nível. Essa parte mental, de sempre tentar entender quando algo dá errado, fazer um trabalho para voltar mais forte, é o que me ajuda. Quando tenho fases ruins, tento sempre me reerguer, olhar fundo dentro dos problemas para encontrar uma solução. É difícil e muitos atletas não conseguem se aprofundar nisso. Quando eu tinha problemas, eu sempre sabia sofrer para buscar uma solução e resolver.”

Vai tirar o pé?
“Vou continuar participando do mesmo número de competições que participo. Mas acho importante fazer com que esses campeonatos não sejam tão duros. A ideia é passar mais tempo no Brasil entre competições, com pessoas que eu gosto, ou levá-los comigo. Nada muito radical, mas acho importante estar rodeado das pessoas que me fazem feliz.”

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