ENTREVISTA

Alex não se arrepende do início como técnico: "Não faria nada diferente"

Bi da Copa América com a Seleção detalha os três primeiros trabalhos na área, comenta sobre flerte com o Cruzeiro e vê golaço do Ceilândia como o mais bonito do ano

Alex participou da CBC & Clubes Expo, em Campinas, e falou sobre a formação dos jogadores no futsal e transição para o futebol -  (crédito:  CBC/Divulgação)
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Alex participou da CBC & Clubes Expo, em Campinas, e falou sobre a formação dos jogadores no futsal e transição para o futebol - (crédito: CBC/Divulgação)

Campinas (SP) — Em 5 de março, você leu no Correio sobre como clubes e jogadores usam plataformas de proposta de emprego para buscar profissionais e se recolocar no mercado. Os classificados digitais podem ser facilitadores e também tabelar com treinadores, sobretudo aqueles sem tantas experiências. Alexsandro de Souza, o Alex, é um deles. Gabaritado pelos títulos da Copa América (1999 e 2004), da Copa do Brasil (1998 pelo Palmeiras e 2003 pelo Cruzeiro) e da Libertadores (1999 pelo alviverde), o paranaense de 47 anos está livre na praça desde a saída do Antalyaspor, da Turquia, em janeiro.

No país em que se tornou ídolo do Fenerbahçe, encontrou bastidores turbulentos, com salários atrasados e disputas pelo poder. Mesmo assim, não se arrepende da escolha. Flertou com o Cruzeiro após a saída de Fernando Diniz, mas viu a preferência da diretoria pelo português Leonardo Jardim. Após viver dois anos como técnico das categorias de base do São Paulo, comandar o Avaí na Série B, ele afirma saber o que quer: futebol profissional. Retornar ao trabalho na formação está descartado. Torcedor do Coritiba, Alex assegura não sofrer com a situação do time. Elogia o Ceilândia e elege o gol de bicicleta do atacante alvinegro Felipe Clemente como o mais bonito do ano, no jogo da classificação à segunda fase da Copa do Brasil. A seguir, outros trechos da entrevista ao Correio.

Faria algo de diferente no início da carreira? O tempo de Turquia não foi bom?

A experiência foi muito boa. Ela foi diferente do que eu imaginava, mas foi muito boa. Eu não faria nada de diferente. Tive dois anos de sub-20 muito bons no São Paulo, de aprendizado grande. Depois, fui para o Avaí e vivenciei experiência boa, e Turquia. Aquilo que acordei com os três clubes, consegui cumprir. Para mim, é satisfatório, não tenho do que reclamar. Muito pelo contrário, tenho de agradecer pelas três experiências.

Onde você sabe que não serve?

Isso depende muito da conversa que eu tenha com quem me procurar. Converso sobre futebol praticamente todos os dias. Categorias de base, não quero mais, já tive essa experiência, vivenciei, aprendi e ajudei algumas pessoas no São Paulo. Foi bom para o São Paulo e para mim, mas é algo que ficou para trás.

A minha cabeça está em futebol profissional. A série é o de menos. A série vai depender das conversas com quem me procurar do que propriamente pela competição que joga. Na verdade, o treinador de futebol é o funcionário de alguém que vai contratá-lo. A conversa entre contratante e contratado tem que valer muito a pena. Eu já tive três, com São Paulo, Avaí e Antalyaspor. Dá para eu ter uma percepção de como a coisa funciona após a conversa. Essa conversa é que determina aonde devo ir ou não.

Como enxerga Filipe Luís no Flamengo? Gostaria de viver essa experiência dele?

Espetacular. Não vivenciei, porque a história do Filipe é única. Oito meses antes de assumir o lugar do Tite, ele era treinador do sub-17. Acho que nem o próprio Filipe imaginava isso. Do sub-17, ele salta para o sub-20, com a troca do Mário Jorge. Ele joga no Flamengo, encerra a carreira no Flamengo e começa como treinador. É uma história que ele construiu. No time de cima, ele faz de uma maneira muito boa.

Zubeldía balança no São Paulo. Imaginou-se retornando ao clube, agora no profissional?

Não fico imaginado cenário. Para mim, o São Paulo tem treinador, e o treinador é o Zubeldía. Se vier um clube me procurar, sento e converso. Mas não fico no meu celular olhando se esse ou aquele pode sair. Estou acompanhando, que é o meu papel, acompanho jogos, conversar com as pessoas do futebol. A hora que aparecer alguém que acredite que eu posso ser o treinador, vou conversar.

Tem aparecido algo concreto?

Nada concreto. A única coisa que tive foi uma conversa com o Cruzeiro naquele período em que saiu o Fernando e contrataram o Jardim.

Quase metade dos técnicos da Série A são estrangeiros. É a favor dessa importação?

Não olho para a nacionalidade do cara. Quem contrata os treinadores são os gestores: por que A e não B? Eu, particularmente, não vejo problema nenhum. Relacionado aos treinadores, entendo, estudo e vejo cada um no seu estilo. O Abel é supervencedor no estilo dele. O Vojvoda é muito vencedor no Fortaleza, tem feito um trabalho legal. O Filipe está iniciando e indo bem. Tem outros treinadores, o Mano Menezes está aí há muito tempo, o Cuca no Atlético-MG, Roger no Internacional. Está cheio de treinador por aí. Fico olhando, estudando, mas todas as equipes têm bons profissionais à frente. O Brasil é bem servido.

Tem sofrido com o Coritiba? Como acompanhou a eliminação do Coxa Branca para o Ceilândia?

Passei dessa fase de sofrimento, sabe? Assisto e torço pelo Coritiba, óbvio que queria que tivesse vencido Maringá, Ceilândia. Eu apenas olho o jogo e vejo o que acontece. Contra o Ceilândia, o Coritiba foi melhor, teve oportunidades. O menino do Ceilândia, talvez na melhor noite da vida dele, fez um gol e um gol extraordinário. Para mim, o gol mais bonito do ano foi aquele. Nas penalidades, o Sucuri teve uma noite maravilhosa. Acompanho um jogo como treinador de futebol, mas acabando o jogo, não tenho aquele sentimento do torcedor, perdi esse direito.

Conhecia o atual campeão do DF?

Tinha ouvido falar várias vezes. Tenho amigos em Brasília e que acompanham o Candangão. Eu, particularmente, sabia que o Ceilândia vinha de uma sequência boa. Enfrentei mais o Gama. Quando eu jogava pelo Palmeiras, era o time do momento. O Gama fazia bons times. O Brasiliense fez a final da Copa do Brasil de 2002 contra o Corinthians, mas não me lembro de ter enfrentado. O time forte de Brasília do meu período foi o Gama.

Você passou dois anos no sub-20 do São Paulo. Em que pé está a formação dos nossos jogadores?

A resposta tem de ser muito ampla. Não podemos generalizar. O São Paulo era um clube preocupado em formar para o São Paulo. O pedido do Muricy para mim é que eu melhorasse o jogador tecnicamente para a entrada no time principal mais bem preparado. No meu período, a preocupação era jogar a lá São Paulo. Quem eram os jogadores do São Paulo? Eles tinham referências. Lateral-direito Cafu, lateral-esquerdo Leonardo, os meias são Cerezo, Kaká, Raí, Hernanes… a meninada, a partir do momento que estivesse em cima, iria contar a sua historinha e mostrar a qualidade.

O Cruzeiro vingará?

A expectativa de todos é grande. Acredito que o Cruzeiro será competitivo, um clube que terá anos melhores do que teve. Foi uma conversa, não avançamos. Seria prazeroso, mas em algum momento pode acontecer.

E a Seleção Brasileira?

É uma briga para montar o time. Classificará e, ao longo desse período, montará o time para chegar fortalecido na Copa. São adversários duros. Hoje, a Colômbia vive um bom momento, com bons jogadores, juntos há muito tempo. A Argentina dispensa comentários, é a campeã do mundo, vive a lua de mel com o público. Não ganhava nada há muito tempo. De repente, ganhou Copa América e Copa do Mundo. Serão jogos duríssimos. Acho legal, bom para o Brasil e para essa rapaziada se mostrar. Individualmente, estão bem nos clubes, tanto aqui quanto na Europa. Serão interessantes esses jogos.

Vini Jr. merecia a Bola de Ouro?

Merecia. Não foi injusto, porque é votação. Para mim, pode merecer, para você, não. Quando se fala em votos, você está falando de quem teve mais. O meu não seria no Rodri, seria no Vini Junior. Futebol e eleição são de opiniões individuais.

Qual Palmeiras foi melhor: 1999 ou os da Era Abel?

O meu Palmeiras era forte, foi vencedor, mas esse time atual da Era Abel é melhor. É diferente do futebol de hoje, mas é muito mais vitoriosa do que aquele nosso.

Gramado natural ou sintético?

Gosto da grama natural, desde que seja bom. Essa é a discussão principal. Se você tem gramado sintético e natural bons, o natural ganhará. Acho que a discussão maior é sobre o gramado bom e o ruim. Infelizmente, não temos no Brasil padronizado, gerando essa discussão toda.

O repórter viajou a convite do Comitê Brasileiro de Clubes (CBC)

 

Victor Parrini
postado em 22/03/2025 06:00