
A 40 quilômetros do gramado do Mané Garrincha, onde o Brasil entra em campo, nesta quinta-feira (20/3), contra a Colômbia, o piso da Escola Classe 09, do Gama, guarda um laço íntimo com a Seleção Brasileira. Entre os pátios e as salas de aula, o colégio viu crescer o talento de Endrick, um dos nomes que atualmente veste a Amarelinha no ciclo para a Copa do Mundo de 2026. Nascido em Taguatinga, o jogador do Real Madrid passou quatro anos da infância estudando em solo gamense e ainda serve de inspiração para as novas crianças que batem bola pelos mesmos corredores.
Cria do Distrito Federal, Endrick fez do 1º ao 4º ano do ensino fundamental na Escola Classe 09. Por lá, mesmo com a pouca idade, já dava pinta do potencial que o levou a ser convocado para representar o país. Quem lembra com carinho dos tempos do craque no colégio é o professor Francisco Assis. Atualmente aposentado, na época ele trabalhava com turmas do 2º ano, na fase de alfabetização. O maior contato com o futuro jogador foi através de um projeto em que o garoto participava e, desde ali, o mestre já conseguiu identificar a capacidade do menino.
“O que ele mais falava era o futebol, tinha muita ambição por isso. Era bem perceptível que ele chegaria ao patamar em que se encontra hoje, porque tinha muito talento, era diferenciado, até pela força física. Desde pequeno ele me falava que logo estaria em um time grande e talvez fosse para a Europa”, relembrou Francisco ao Correio.
O professor guarda até hoje as imagens que tem do jogador cuidando da horta da escola. Apesar de ser bom aluno e participar bem das atividades, o maior interesse no esporte era nítido, tanto que as outras crianças também reparavam na qualidade nos pés.
“Eu sempre observava ele na sala de aula. Era muito agitado, ansioso para o momento de jogar futebol no recreio. O Endrick sempre trazia uma bola na mochila e às vezes até precisei recolher para que não atrapalhasse as atividades. Acompanhava ele na quadra e era bem destacável o nível dele em relação aos outros, até os coleguinhas tinham essa percepção e ficavam idolatrando o jeito que ele jogava”, comentou o mestre.
Se ainda como aluno ele já servia de espelho para os colegas, a moral continua grande hoje em dia. Quem anda pelo mesmo piso que o craque bateu bola não esconde a admiração e o desejo de um dia seguir os mesmos passos. Até mesmo os professores usam o legado do atleta para incentivar a garotada a não desistir dos sonhos.
“Ele é um exemplo lá na escola. Quando os alunos ficam sabendo que o Endrick estudou lá, querem saber como era, o que ele fazia, se tornou quase uma mitologia. As crianças se espelham nele. Ver o Endrick chegar ao nível que está hoje é uma satisfação muito grande, porque era uma criança de uma família carente, que os pais tiveram que lutar muito. Me deixa orgulhoso saber que ele saiu dali, de um bairro simples, e agora está brilhando”, disse Francisco.
“Nós ficamos muito orgulhosos em saber que o Endrick fez parte da nossa história. É muito bonito ver onde o mérito dele o levou. Sempre que ele conquista alguma coisa a gente posta nos grupos, comenta com as pessoas para passar essa história dele, porque também tem outras crianças aqui que sonham em ser jogador profissional. Mesmo de longe, ele ainda é um espelho para todos”, acrescentou Cristiane Alves, vice-diretora do colégio.
As crianças da Escola Classe 09 do Gama já sabem na ponta da língua quem é o craque que estudou no mesmo lugar que eles. Alguns ficam na bronca por não gostarem de Palmeiras ou Real Madrid, mas o desejo é unânime: poder brincar com Endrick e, um dia, quem sabe, realizar o sonho de dividir um gramado profissional ao lado do ídolo.
“Eu amo ele. Queria muito que ele pudesse vir bater bola com a gente, levar para ver jogo do Brasil”, disse o garoto Everton. “Ontem eu dei duas canetinhas no recreio, queria que ele visse”, completou Leandro, todos da turminha entre 8 e 10 anos.
Do lado de fora dos campos e das quadras, o Francisco segue de olho nos passos do pupilo e na expectativa em vê-lo representando o Brasil.
“Minha torcida pelo Endrick é 100%. Acompanho ele no Real Madrid, na Seleção, vi todo o processo de desenvolvimento no Palmeiras, sempre procurando saber como ele estava. O que eu mais torço por ele é que continue com humildade, porque isso vai ser essencial na vida dele. Tomara que ele tenha a oportunidade de jogar hoje e mostrar que é capaz”, projetou o professor.