
Bicampeão mundial com a Seleção Brasileira de basquete em 1959 e 1963 e medalhista de bronze nos Jogos Olímpicos de Roma-1960 e Tóquio-1964, Wlamir Marques, o Disco Voador, subiu para fazer uma tabelinha com a eternidade. A lenda das quadras do país morreu, ontem, aos 87 anos, em São Paulo. A causa do óbito não foi divulgada. O velório é hoje, no Parque São Jorge.
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O reconhecimento a Wlamir Marques é justificado pelos números. A campanha do primeiro título mundial, em 1959, no Chile, teve sete vitórias em nove partidas. O "Disco voador", também carinhosamente apelidado de "Diabo loiro", contribuiu com 149 pontos. Foi o cestinha daquela jornada memorável sob a batuta o técnico Kanela. Jogador extraclasse, repetiu a dose quatro anos depois, com 108 anotados.
Das três conquistas olímpicas do basquete masculino brasileiro, duas foram com a geração de Wlamir Marques. Os bronzes obtidos em Roma-1960 e Tóquio-1964 se juntaram ao terceiro lugar em Londres-1948. Com o país, Wlamir também conquistou a prata no Pan de São Paulo-1963, bronze nas edições de Cidade do México-1955 e Chicago-1959, além de quatro títulos do Sul-Americano.
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Na infância, Wlamir foi recordista brasileiro nos 50 metros nado de costas e campeão estadual também nos 100m livre. Tentou a sorte como goleiro de futebol e chegou a ser campeão colegial de vôlei e arremesso de peso. Porém, um médico descobriu que a constante prática esportiva havia dilatado demais o coração do atleta e aconselhou o garoto a reduzir as atividades físicas. Teria que escolher só um esporte, e foi o basquete.
Em quadra, Wlamir era um coringa. Foi lapidado como pivô, desenvolveu-se na ala e se tornou armador. Há uma forte conexão da lenda com o Corinthians, escrita a partir de 1962. Pelo clube do Parque São Jorge, ergueu 18 troféus até 1971. Entre eles, três títulos brasileiros, três sul-americanos e cinco paulistas. Uma das partidas memoráveis de Wlamir Marques foi em 5 de julho de 1965. Naquela ocasião, o Corinthians enfrentou o Real Madrid, então campeão europeu, e o Diabo Loiro anotou 51 pontos na vitória por 118 x a 109. Em 2019, a Federação Internacional de Basquete (Fiba) exaltou a exibição de Wlamir e reconheceu o duelo como precursor da Copa Intercontinental de Clubes.
Tamanha entrega lhe rendeu uma homenagem em vida. Em 2016, a principal arena do Parque São Jorge foi batizada de Ginásio Poliesportivo Wlamir Marques. Dois anos depois, a camisa 5 que o consagrou foi aposentada pelo clube. Em 2023, o ídolo foi brindado com um busto, com sinalização das conquistas.
"Naquele ginásio, meu peito pulsa amor e felicidade. Sinto que ali ainda sou alguém. Infelizmente, para os futuros atletas, aquela camisa de número 5 foi eternizada, ninguém mais poderá vesti-la. A última me foi ofertada", discursou Wlamir, em 2018.
Wlamir jogou em outras posições, não apenas em quadra. Após se aposentar pelo Tênis Clube de Campinas. Formado em educação física, tornou-se treinador de equipes masculinas, como Jundiaí, Palmeiras, Hebraica, Pinheiros, e Corinthians e de femininas XV de Piracicaba, Corinthians e São Caetano. Após o período como dono de prancheta, foi professor e comentarista na TV.
Rainha do basquete nacional, Hortência lamentou a morte de Wlamir. "Foi um dos maiores do basquete brasileiro. Não tive a honra de vê-lo jogar e, infelizmente, não vi nenhum registro em vídeo. Mas quem viu me disse que jogo dele era um pouco parecido com o meu, o que me dá muito orgulho. Perdemos um ícone, mas ficou o legado dele", destacou, ao Correio.
História com a capital
Wlamir Marques nunca trabalhou no Distrito Federal, mas vinha à capital como supervisor dos Jogos Escolares Brasileiros, os JEBs. Em 2009, aterrissou em Brasília para a comemoração dos 50 anos do título mundial de 1959 ao lado de outros campeões. "Tenho até uma camiseta autografada por ele. O meu amigo, Sérgio Avelino da Silva, que estava organizando, para uma tese de mestrado sobre esse título. Houve uma solenidade para a entrega da homenagem", relata Rubens Cavalcante Júnior, responsável pelo projeto Registro Histórico do Basquetebol de Brasília.
Dezenove jogadores foram campeões mundiais em 1959 e em 1963. Seis estão vivos: Pecente, Paulista, Victor Mirshauswka, Jatyr Schall, Mosquito e Luiz Cláudio Menon.