
Com quase 25 anos de história, o clássico entre Gama e Brasiliense tem um punhado de grandes histórias, algumas delas perdidas no tempo ou nunca contadas. Quando se fala do duelo, é natural lembrar de Iranildo. Maior ídolo do Jacaré, o ex-meia se acostumou a brilhar no confronto. Ele é, por exemplo, o maior artilheiro do jogo, com 10 gols. Quem lembra do atleta, automaticamente o associa ao uniforme amarelo. Mas não faltou convite para vestir as cores do alviverde. Em entrevista ao podcast CB Esportes, no esquenta do primeiro encontro dos clubes nas semifinais do Campeonato Candango de 2025, hoje, às 16h no Estádio Bezerrão, o Chuchu lembrou a proposta gamense e outras ligadas à principal rivalidade do Distrito Federal.
Por si só, o duelo entre os times de maior torcida da capital atrai atenções. No entanto, os próximos encontros contam com grande apelo esportivo. Nos próximos dois fins de semana, os rivais locais batalham não apenas por uma vaga na final do Candangão, mas também pela garantia de um calendário cheio de competições nacionais em 2026. Conhecedor do poder de engajamento de grandes duelos estaduais ao redor do país, como Flamengo x Vasco e Santa Cruz x Náutico, Iranildo não titubeia ao colocar o confronto entre Gama x Brasiliense no mesmo patamar de importância.
"É o clássico dos clássicos aqui. É que nem Flamengo e Vasco no Rio de Janeiro. Falo por ter vivido isso e dá para saber. A cidade e as duas torcidas param com esse jogo e, hoje, não vai ser diferente. Infelizmente, agora é só torcida única (medida estabelecida pelo Ministério Público do Distrito Federal e Territórios devido ao histórico recente de brigas no clássico). Mas que seja um grande jogo", prospectou o ídolo do Jacaré. Na partida do Bezerrão, na qual apenas alviverdes estarão no estádio, a expectativa é de quebra de recorde de público do Candangão — a marca atual é de 7.985 presentes no empate por 0 x 0 entre Gama e Capital, no mesmo local do duelo de hoje.
Iranildo viu e ajudou o duelo a crescer até se transformar no principal enfrentamento do Campeonato Candango. Em 2001, o meia marcou gol, mas perdeu a primeira final disputada pelo clube. Ali, viu o potencial do clássico. "O Serejão estava lotado. Ficou marcado aquilo", relembra. Dali em diante, ele atuou em diversas edições do confronto amarelo, sempre representando o Brasiliense. A relação de bolas na rede e títulos diante do maior rival reforçou o status de ídolo no clube amarelo. A torcida do Gama pegava no meu pé, Nossa Senhora (risos). Mas era gostoso. Mexia comigo e eu gostava mais ainda. Fiz um gol de falta no Serejão, em 2005. Ganhamos de 3 x 1. Aquele jogo foi marcante. Foi o gol do título e dei passes para o Marcelinho Carioca e o Tiano", destacou.
No entanto, por pouco o jogador também viveu a experiência de vestir a camisa alviverde. Recebeu convites, mas recusou pela ligação construída em quase 10 anos vestindo a camisa do Jacaré. "Sim, o Gama tentou me contratar. À época, tinha a coisa de Flamengo x Vasco e de Brasiliense x Gama, de trocar os clubes. Com todo respeito à torcida do Gama, eu sempre cumpri o que eu tinha com o Brasiliense. De coração, não iria fazer isso. E não fiz. Me ligaram várias vezes. Agradeci o convite. Fiquei no Brasiliense, encerrei a carreira e fiquei feliz demais", rememorou. Na equipe de Tagautinga, Iranildo conquistou, por exemplo, oito edições do Campeonato Candango.
A taça mais especial pelo clube, no entanto, é nacional. "Foi a Série B do Brasileirão de 2004. Fui eleito o melhor jogador da competição. O time era bom demais. Tinha Deda, Pituca, Robston, Jairo, Tiano, Durval, Wellington Dias... que grupo maravilhoso. Você tinha o prazer de trabalhar", explicou, feliz pela história construída no Brasiliense. "Quando vim para cá, muitos amigos meus falaram que eu era maluco. "Vai fazer o que em Brasília?". Disse que ia vir pelo projeto e deu certo. Esses mesmos que falaram de mim vieram para cá com indicação minha. Isso é bacana, fazer história no clube. Fui feliz demais aqui", contou.
Boas memórias
Iranildo foi protagonista da época de ouro do Brasiliense. A ascensão meteórica do clube no início dos anos 2000 foi impulsionada por títulos e contratações badaladas. No entanto, o momento não rendeu apenas êxitos em campo, mas também gerou muitas histórias. O grupo da única participação do Jacaré na Série A do Campeonato Brasileiro, por exemplo, rendeu causos curiosos. "Falávamos que era o Butantan, cheio de cobra (risos). Marcelinho, Vampeta... uma rapazeada muito boa. Tem que saber levar. Cada um fazer o seu, não tem problema nenhum. Muitos vieram para ajudar. Não tivemos sucesso em 2005, infelizmente. O barco afundou no segundo turno. Eles conheceram Brasília direitinho, os bastidores. Os caras aproveitaram bem e a gente caiu (risos). Faz parte", brinca.
A passagem do histórico técnico Joel Santana é outra lembrada com carinho por Iranildo. "O papai Joel é uma lenda. Em 2005, quando saiu o Valdir Espinoza, tinha três opções: Paulo Autuori, Osvaldo de Oliveira e o Joel. No dia seguinte, o Joel apareceu. Fiquei feliz demais. Conquistava o clube com as histórias dele. E ele tem mania de esquecer nome de jogador e colocar apelido. No Brasiliense, era Robston, Pituca e o meu irmão, o Igor. Meu irmão era muito cabeludo. Ele chamava de Peludo. Muito pêlo. Pituca e o Robston não eram lá muito bonitos. Ele chamava o Pituca de Brad Pitt e o Robston de Rodrigo Santoro. No treino, era "vem cá, Brad", contou, em meio a gargalhadas.
Com o filho Yago Ferreira no elenco do Brasiliense, Iranildo estará no Estádio Bezerrão para acompanhar a 76ª edição do clássico no qual é personagem central e de extrema importância. Quando perguntado sobre favoritismo no duelo, não fugiu de apontar o Jacaré, mas ressaltou o poder de engajamento causado por tamanha rivalidade. "Clássico é clássico e não tem jeito. Independentemente da situação, os jogadores se transformam. Mesmo mal ou com problemas financeiros. Não querem saber a fase do clube. Quando entra no gramado, são 11 contra 11 e tem essa rivalidade. Vai ser um grande jogo", assegurou.
Saiba Mais
Danilo Queiroz
RepórterFormado em Comunicação Social pela Universidade Católica de Brasília (UCB), está no Correio desde 2020. Cobriu presencialmente os Jogos Olímpicos de Paris-2024, a Copa América e finais de Libertadores, Recopa e Copa do Brasil