Aos 18 anos, Adriel Lopes da Silva estampa um sonho nas costas. Inscrito na Copa São Paulo Júnior com a camisa 18 do Novorizontino-SP, o meia é contemporâneo do amigo Endrick, com quem tabelou e conquistou título nas escolinhas do Entorno. A conquista do Palmeiras na Copinha de 2022 catapultou a carreira do protagonista hoje no Real Madrid. Reserva na goleada por 5 x 0 do time paulista contra o ABC-RN no último sábado, Adriel é um dos trunfos para o duelo de amanhã contra o Votoraty-SP pela segunda rodada na principal vitrine das categorias de base do futebol brasileiro.
Fã do volante espanhol Sergio Busquets, ex-Barcelona, atualmente no Inter Miami dos EUA, o jogador natural de Valparaíso de Goiás rodou a capital federal e o Brasil por um lugar ao Sol. Campeão paulista sub-20 em novembro passado, ele persevera na tentativa de engrenar na equipe e ser promovido ao profissional.
Coincidência ou não, Adriel trilhou os primeiros passos nos gramados ao lado de Endrick. Parceiros, destacaram-se na Escolinha Gol de Letra, no Bairro Jardim Céu Azul, em Valparaíso. Em 2014, recebeu oportunidade nas divisões de formação do São Paulo. Porém, ambos foram dispensados. Enquanto um deslanchou, o outro batalha para virar o jogo.
Ao Correio, o meio-campista e a mãe, Elaine, relatam a dura realidade da busca pelo sonho de se tornar jogador e os sacrifícios na tentativa de chegar lá. O sonho de Adriel começou antes do nascimento. A mãe, Elaine Lopes, era apaixonada por futebol desde a infância. Adepta do futsal, foi atleta da Igreja Batista Central de Brasília. Em meio ao planejamento de se profissionalizar, a gravidez ameaçou os planos. Posteriormente, mostrou apenas ter alterado o roteiro.
A trajetória dele começou aos três anos de idade. Na escolinha Gol de Letra, treinado por Marília Rocha, ele participou dos primeiros campeonatos. Depois de ser visto por um olheiro do tricolor paulista, chamou a atenção e conseguiu oportunidades para fazer testes. Foram dois, aos sete, e aos oito anos. Contudo, não obteve resposta. “Fiquei com aquela coisa, “deixo, ou não deixo?”. Mas vi vários amigos estragarem os sonhos dos filhos, por medo, receio. E aí, o deixei ir. Criei um filho para o mundo”, conta a mãe.
Depois do insucesso no São Paulo, a caminhada por um rumo na capital federal continuou. Adriel e a mãe peregrinaram por Brasília em busca de oportunidades. “Paranoá, Valparaíso, Gama, Sobradinho… Rodei a cidade toda com ele. Ainda fez peneiras no Atlético-MG, Cruzeiro, Palmeiras e Santos. Eu trabalhava, à época, como supervisora de hospital, e saía do plantão para levá-lo direto ao treino, pela manhã. Foi um momento difícil”, testemunha Elaine.
Resiliência
Foi, então, que a aparição do Brasília Novos Talentos (BNT) fez a diferença. Introduzido no grupo aos 15 anos, participou de diversos torneios de base. Com performances de destaque, Adriel chamou a atenção do Paraná Soccer Technical Center (PSTC), em Londrina (PR). O clube é conhecido por ter formado jogadores como Jadson, ex-Corinthians e São Paulo; Dagoberto, também ex-tricolor paulista; e Rafinha, ex-Flamengo, São Paulo e Bayern de Munique.
Por lá, acumulou sucessos em times das categorias sub16 e no sub-17, além da assinatura do primeiro contrato profissional. O retrospecto lhe rendeu uma passagem de ida para o SKA Brasil-SP. Integrante da Série A4 do Paulistão, o time tem como presidente o ex-jogador Edmílson, campeão da Copa de 2002 pela Seleção.
Em 2024, o Novorizontino manifestou interesse e contratou Adriel em definitivo para a equipe sub-20. “Não perco um jogo do Adriel. Sento, assisto e até xingo. Torço pelo time em que ele estiver. Hoje, pelo Novorizontino, mas sempre por ele. Vê-lo trilhando uma carreira é uma realização muito grande, independentemente de onde ele vai chegar. Eu faço e fiz tudo o que está ao meu alcance”, relata.
Incertezas
Elaine admite dificuldades constantes. Longe de casa, o garoto, de acordo com ela, passa por momentos de dúvidas sobre a própria carreira. “Ele guarda muita coisa, pois sabe que tem uma mãe maluca, que vai lá em Novo Horizonte brigar com todo mundo”, ri a mãe coruja.
“Minha família sempre me apoiou muito. Meus pais, meus avós, todos eles. As dificuldades fazem parte, esse é o preço do sonho. Nesses momentos, falo com Deus, com a minha família, para saber se esse é mesmo o meu propósito. Eu me apoio muito neles”, relata Adriel.
“Dá muita esperança ver onde o Endrick chegou, e saber que saí do mesmo lugar. Mesmo que sejam caminhos diferentes, creio que ele está no caminho certo, e eu também, se Deus quiser. Nós convivemos juntos, fazíamos parte da mesma rotina, mas logo ele seguiu o caminho dele. Cada um tem o seu próprio rumo”, pondera. Depois de disputar 23 partidas na temporada passada, o meia espera entrar em campo amanhã contra o Votoraty.
*Estagiário sob a supervisão de Marcos Paulo Lima
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