Não é de hoje que o automobilismo brasileiro despeja expectativas para Felipe Drugovich ter um lugar na Fórmula 1. O paranaense de 24 anos foi campeão da Fórmula 2 em 2022 e passou os últimos dois anos como reserva da Aston Martin para se credenciar por uma vaga. No entanto, a oportunidade para compor o grid titular da categoria ainda não apareceu, mesmo com uma série de novatos assumindo assentos, entre eles o compatriota Gabriel Bortoleto.
Drugo, inclusive, amarga a presença em uma lista curta de apenas dois pilotos campeões da F2 na última década e que ainda não tiveram lugar na elite. Além dele, apenas o francês Theo Pourchaire, vencedor em 2023, também ficou sem espaço nos anos seguintes após levantar o troféu.
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Enquanto isso, o brasileiro procurou se manter ativo, com participações em corridas de Endurance, como as 24 horas de Le Mans, mas até outros nomes da F1 reconhecem que as equipes deveriam olhar com mais carinho para Felipe. “Se alguém merece uma vaga neste momento, é o Drugovich, certamente. No GP de Abu Dhabi do ano passado (2023) ele foi mais rápido que Lance Stroll no primeiro treino livre e terminou em terceiro. Em 2024 ele foi mais rápido que o Fernando Alonso, não sei quais eram os planos da equipe, mas foi mais veloz. Então ele merece”, disse Liam Lawson, novo companheiro de Max Verstappen na Red Bull, em entrevista ao jornal Marca.
Independente do cenário, ou da falta de oportunidades, Drugovich tem claro o objetivo para o futuro: manter vivo o sonho de infância e se tornar piloto da Fórmula 1. Confira a seguir a entrevista do Correio com o piloto.
No final de 2023, você falou que abriria mão de tudo pelo sonho de estar na Fórmula 1. Um ano depois, esse pensamento permanece?
Sim, permanece, com certeza. Logicamente a gente tem que tomar cuidado, porque não é escrito que a oportunidade vai estar lá no ano que vem ou depois. Mas acho que venho trabalhando bem, conseguindo alguns planos Bs. Óbvio que quero me manter correndo, como fiz em 2024, seguir na ativa, mas quero me manter também com o pé na Fórmula 1.
E como você avalia seu 2024, com corridas em outras categorias e o trabalho de reserva na Aston Martin?
Acho que foi um ano bom, de experiências diferentes, principalmente. O objetivo era ser mais como um ano para me manter na ativa, então não tive resultados muito excepcionais. Foram novas experiências, pude mostrar meu talento na Endurance, nas corridas de longas durações, e acho que consegui fazer isso muito bem. Andei na Le Mans, na EMS e em todos fui bem. Como todos sabem, nestes campeonatos a performance depende só do piloto, então acho que fiz minha parte de uma boa maneira e fiquei feliz.
Houve uma expectativa de correr no lugar do Alonso no GP do Brasil, já que o espanhol estava com um problema de saúde. Como foi esse momento?
Fiquei ansioso, claro. Acho que teria sido uma oportunidade muito grande para mim, mas, logicamente, o mais importante era o bem-estar do Fernando (Alonso). Eu quero estar no grid da F1, não só como reserva, mas como piloto principal pelo ano inteiro. A gente tem que aceitar as coisas como elas são. Mas eu senti uma ansiedade, sim, e estava pronto para enfrentar esse desafio.
Acha que a ansiedade também é da torcida brasileira em poder ver um piloto do Brasil na F1?
Sem dúvidas. Acho que a cada ano que passa e a gente não tem piloto brasileiro na F1, a ansiedade cresce. Não só minha, mas de todo brasileiro que acompanha esse mundo. Precisamos sempre trabalhar o máximo possível para conseguir ter alguém representando o Brasil na F1. Toda vez que venho para cá recebo um carinho incrível, o pessoal torce demais e merece ter um brasileiro na categoria. É um calor único e muito legal de ver.
E o que falta para que a nova geração de pilotos brasileiros chegar mais na F1?
Acho que falta mais oportunidade mesmo. Eu e o Gabriel (Bortoleto), por exemplo, fizemos tudo o que precisava ser feito para mostrar que a gente merece estar lá entre os melhores. Existem outros também que fazem por onde. O que falta é a oportunidade no momento certo.
Por falar no Bortoleto, vocês são amigos de longa data e ambos ganharam a F2. Teve muita troca de dicas e conselhos para o título dele esse ano?
O Gabriel é um grande amigo meu, a gente se fala bastante. Agora ele com certeza precisa de muito menos dica do que há uns dois anos atrás. Mas estamos sempre juntos trocando ideias e ele está andando muito bem, merece tudo o que está vivendo.
Esse ano em Interlagos tivemos muito apoio ao Colapinto. Acha que no automobilismo também existe a rivalidade entre Brasil e Argentina?
É muito mais tranquilo. Eu e o Franco (Colapinto) conversamos sempre. Ele correu pela MP na Fórmula 2, a mesma equipe que eu, então criamos um vínculo. No começo do ano, enquanto ele ainda não estava na Fórmula 1, eu ia na garagem dele na F2 para poder encontrar e conversar. É uma experiência legal e com certeza vou apoiar ele em tudo. Fico feliz pelo Franco e espero que os torcedores argentinos também fiquem felizes pelos brasileiros quando for nossa vez.
Por falar na torcida brasileira, o público em Interlagos viveu muitas emoções com a homenagem ao Ayrton Senna. Como foi ver isso de perto?
Achei muito legal, foi de arrepiar. É um ídolo de todos nós. Foi bom ter o (Lewis) Hamilton pilotando a McLaren do Senna, acho que talvez não tenha ninguém mais apreciador e merecedor que ele para guiar esse carro em Interlagos. Um fim de semana especial, com um piloto especial homenageando outro piloto especial. Todo ano a gente precisa comemorar e celebrar o Senna, então em 2024 não podia ser diferente.
Tem algum recado para passar aos outros pilotos brasileiros da nova geração e também para a torcida ansiosa para ver você correr?
Para os pilotos, não têm muito o que falar, é realmente mais agir. Temos que continuar lutando sempre por mais vagas na Fórmula 1 e fazendo o que a gente sabe fazer de melhor, que andar bem na pista. Além de mostrar nosso carisma, que é único. Já ao povo brasileiro é agradecer por todo o apoio, que é incrível toda vez que venho para o Brasil. Não só aqui, mas em todo lugar do mundo que tem um de nós. É muito especial sentir tudo isso, é uma sensação incrível e sou muito grato a isso. Obrigado, de coração. O Brasil é único.
Com o ano novo chegando, quais os planos para 2025?
Ainda estamos vendo, não sei ao certo. Vamos ter que esperar mais um pouquinho para ver, mas que venham coisas boas.