"Os goleiros vão sofrer, e os atacantes vão curtir". Essa é a opinião majoritária sobre a primeira bola importada na história do Candangão. A exatamente um mês do início da edição de 2025 do Campeonato de futebol do Distrito Federal, o Correio foi a campo ouvir as avaliações de atletas e profissionais do futebol local sobre a mudança da protagonista da competição doméstica. Antes, era a Topper.
Cliente de marcas nacionais até o ano passado, a Federação de Futebol do Distrito Federal terá, pela primeira vez, desde a profissionalização do torneio, em 1976, uma fornecedora internacional de bola. A próxima temporada do torneio contará com a bola da Uhlsport. A marca alemã é conhecida no futebol brasileiro. É utilizada desde 2022 na Série D do Campeonato Brasileiro. No ano seguinte, passou a figurar nas Séries B e C, além de novamente marcar presença na quarta divisão nacional.
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Esta será a primeira união entre a marca escolhida e o futebol candango depois de anos de parceria com etiquetas nacionais. Argentina de criação, a empresa com sede em São Paulo Topper era quem enviava o material esportivo ao campeonato. Entregou o produto de 2018 a 2024. Anteriormente, a goiana Super Bolla era a responsável pela distribuição do artigo.
A escolha pela mudança passou por diversos aspectos. De acordo com Márcio Barbosa Coutinho, diretor técnico da Federação de Futebol do Distrito Federal (FFDF), a manobra contemplou uma bola "de qualidade e preços superiores mais rentáveis". Além disso, a presença da marca em três divisões distintas do futebol nacional e no exterior serviu como valorização para o campeonato. "Vimos uma oportunidade de engrandecer o nome do nosso torneio aos olhos do cenário nacional. Falamos com alguns jogadores e vimos um montante positivo de aceitação. Se a bola não fosse boa, já teriam dado um grito", disse, ao Correio.
Opiniões
O Correio foi a dois clubes da eleite do Candangão ouvir os usuários da nova bola. As avaliações foram diferentes no Ceilândia e no Capital. Os dois times foram finalistas do Candangão em 2024. Apesar das divergências, seguiram um padrão: todos a classificaram como exacerbadamente "leve". Os goleiros e jogadores de defesa mostraram certa insatisfação. Os atletas mais ofensivos, o contrário. O modelo escolhido para uso é a Resist Synergy. Construída com poliuretano (polímero que forma um material sólido com textura muito similar à espuma) de alta resistência à abrasão (desgaste por fricção), a bola é especialmente construída para ser utilizada em gramados imperfeitos, muitas vezes com ausência de grama.
Goleiro vice-campeão candango com o Capital em 2024, Luan testemunhou certa dificuldade ao iniciar os treinamentos. "Ela é muito mais leve do que a outra (Topper). Varia muito no ar, é impressionante. A outra era mais pesada. No começo, foi um pouco difícil, pois essa variação no ar é complicada para nós (goleiros). Mas vamos nos acostumando", ponderou.
Preparador de goleiros do Ceilândia, Josuel da Cruz Filho concorda. Para ele, a bola é claramente mais leve, e deve proporcionar facilidade aos atacantes. "Temos treinado com o campo molhado para que os goleiros se acostumem com a velocidade dela. Na minha cabeça, a tendência é que saiam mais gols, pois os goleiros terão um pouco mais de dificuldade", opinou. A média de gols da edição passada do Candangão foi de 2,76 por partida.
Segundo Nilton Franco, Head de produtos da First Sports, distribuidora da Uhlsport no Brasil, a bola é, sim, propositalmente mais leve. Isso, no entanto, é consequência da utilização de materiais de "alta qualidade, que promovem mais velocidade, sem exigir esforço extra dos atletas". "Leveza em bolas muitas vezes é vinculada à velocidade, e não ao peso físico, ou seja, a força que você imprime para que a bola atinja um nível de velocidade. A sensação que ela te passa. (...) Uma bola veloz torna o jogo mais dinâmico, e, claro, precisa de um tempo de adaptação", explica Nilton.
O meia-atacante Matheuzinho, do Capital, e o lateral esquerdo Danilo Ribeiro, do Ceilândia, manifestaram-se em outro tom. Apesar de concordar com a leveza da bola, o meio-campista do Coruja comemorou o fato de desfrutar de mais de um mês de adaptação. "Tivemos um período longo para nos adaptar. Na Copa do Brasil, por exemplo, é mais difícil, pois recebemos a bola dias antes das partidas", compara. "A primeira impressão, e pelo que eu conheço da marca, acho que vai agregar legal", considera Danilo.
Figurinha carimbada no campo ofensivo do Ceilândia, o atacante Felipe Clemente avalia a bola com otimismo. Na visão do especialista em gols, a vida será mais fácil com uma bola mais leve. "A primeira impressão que tive é de que a bola é muito boa. É mais leve, sim, mas tive uma primeira experiência ótima. Para nós (atacantes) é melhor, pois é mais fácil para pegar o jeito. O fato da variação dela no ar pode nos ajudar, por exemplo, em um chute que não for tão bem executado. Espero que ela (bola) também goste muito de mim".
A opinião de ambos os treinadores é distinta. Do lado do Capital, o vice-campeão Paulinho Kobayashi foi sucinto: "Normal. Em princípio, ninguém falou nada. Não vimos muita diferença, não". Tricampeão pelo Ceilândia, Adelson de Almeida não ficou em cima do muro. "A primeira impressão é de que a bola é muito boa. Antes, esse não era o caso. Havia muitas reclamações. Mas, apesar disso, as avaliações mais pertinentes são as dos goleiros, que são os que sofrem mais e devem passar um pouco de aperto com essa leveza", projeta.
*Estagiários sob a supervisão de Marcos Paulo Lima
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