Chega ao fim na tarde deste domingo (8/12) um dos capítulos mais bonitos e vitoriosos do livro do torcedor flamenguista. Às 16h, no Maracanã, contra o Vitória, Flamengo e Gabigol encerram um casamento de seis anos, 160 gols e 13 títulos para um adeus cercado de polêmicas. Depois de todas as conquistas e bolas na rede, o atacante, antes unânime nas graças dos rubro-negros, se despede do clube carioca em um 2024 conturbado e que representa bem o simbolismo do jogador, capaz de dividir opiniões independente da geração, dos mais velhos aos mais jovens.
Tão decisivo quanto polêmico, o camisa 99 deixa o Ninho do Urubu com a torcida separada entre os que pedem a permanência e os que estão contentes pelo encerramento do ciclo. O clima de dualidade está presente, inclusive, entre a garotada, que por muito tempo festejou a presença de Gabigol no time vermelho e preto. O Correio acompanhou um treino da escolinha do Flamengo, na Asa Norte, para entender o sentimento dos torcedores mirins sobre a saída do atleta.
Nem mesmo a relação de irmãos gêmeos sobrevive a capacidade do artilheiro em colocar de lados opostos os que o defendem e quem fica na bronca. “Ele poderia ficar mais tempo, vai fazer muita falta. Sempre acompanhei vários jogos dele e vai ficar marcado. Eu queria que ele ficasse, mas meu pai e meu irmão acham que ele tem que sair”, disse Carlos Henrique Sabino, de 10 anos. “Não estou achando nem bom e nem ruim, porque esse ano ele não jogou bem. Acho que vai ser triste para os jogadores que jogaram com ele, mas para mim não”, retrucou Carlos Eduardo Sabino.
Ainda assim, os feitos de Gabigol justificam a idolatria comum entre os mais novos, como o caso de Henrique Almeida Rufino. O garoto de 10 anos pediu de presente para o Papai Noel uma camisa do jogador e não esconde a torcida por uma reviravolta. “Ele é nosso ídolo. Foi uma palhaçada o que ele fez de vestir a camisa do Corinthians, mas o carinho é maior por tudo que ele já fez por nós. Todo dia peço para que ele fique, por mim continuava até se aposentar no Flamengo. Vai fazer muita falta. Se pudesse falar com ele, com certeza seria para falar que amo ele e que não fosse embora”, pediu.
A identificação com a torcida e desempenho em campo, apesar das polêmicas, servem como motivo de sobra para plantar a semente da admiração e deixar um legado influente entre a criançada. “Jogo no ataque e tenho ele como inspiração, é meu ídolo. Não estou achando nada legal, não queria que ele saísse. Chorei quando ele disse que estava de saída depois da final da Copa do Brasil. Espero que faça muitos gols na despedida”, torce Matheus Mesquita, de 8 anos.
Sobrou espaço também para as cornetas. Atleta da escolinha rubro-negra, mas torcedora do Goiás, Sofia Peixoto, de 13 anos, defendeu gostar do atacante e que o aceitaria no Esmeraldino, mas reforçou: “o Tadeu é goleiro e tem mais gols que ele no campeonato, são quatro contra três (nas Séries A e B)”.
É neste clima que Gabigol se despede do Flamengo em um Maracanã com todos os ingressos vendidos para a torcida mandante. O clube preparou uma festa com as taças conquistadas por um dos protagonistas da “geração de 2019” e mosaico, mas negou o pedido do atacante para ter um microfone e falar diretamente com as arquibancadas.
Apesar de estar garantido na terceira colocação, a partida envolve um tabu para o rubro-negro. Desde 2010, o time carioca venceu apenas uma vez na 38ª rodada, justamente contra o Vitória, em 2017. Além disso, são sete derrotas e seis empates. Do outro lado, para o Leão, o interesse é por uma posição melhor na zona de classificação para a Sul-Americana e a chance de Alerrandro terminar com a artilharia do campeonato. No momento, o jogador está empatado com Yuri Alberto, do Corinthians, ambos com 14 gols.
Ainda assim, a festa tem dono e, se depender da torcida, a despedida será em grande estilo. “Acho que vai ser 2 x 0 Flamengo, com pelo menos um gol do Gabigol. Tem que ser assim”, projetou Vitor Martins, de 11 anos.