A primeira entrevista de José Boto como diretor de futebol do Flamengo serviu para o torcedor rubro-negro dimensionar o tamanho do choque de gestão pretendido pelo dirigente na condução do departamento. Na segunda-feira (30/12, o português atendeu à imprensa, no CT Ninho do Urubu e, durante 40 minutos, abordou de maneira direta todos os pontos de como pretende trabalhar no clube carioca. O português detalhou prioridades e anunciou mudanças importantes no dia a dia da equipe profissional.
Mesmo abordando temas diferentes, todas as respostas de Boto levam a uma conclusão: o dirigente terá, de fato, livre-arbítrio para exercer o papel de homem-forte do futebol do Flamengo na gestão do recém-eleito presidente Luiz Eduardo Baptista. Chamando a responsabilidade para si desde já, o português garantiu liberdade para centralizar decisões importantes do futebol rubro-negro. A primeira diz respeito a manutenção do técnico Filipe Luís no cargo, um dos atos iniciais da passagem pelo clube, realizado antes mesmo da chegada ao Rio de Janeiro.
"Escolha minha. Tive carta-branca se quisesse mudar. Eu poderia ter escolhido outro treinador. Se falhar, a culpa é minha. Isso é profissionalização. É fácil mudar o treinador 11 vezes e ninguém ter culpa disso", destacou, citando o número de técnicos da era Rodolfo Landim no Flamengo. Boto, porém, também afagou Filipe Luís. "Analisei, vi muita coisa que gostei, muita entrevista. O contato diário tem confirmado tudo. Vai ser um treinador top mundial. Lancei técnicos como Luís Castro, como De Zerbi (italiano do Olympique de Marseille) e o Filipe está na linha deles", pontuou.
Boto citou como será a ação do Flamengo no mercado da bola: ações para o bem do clube e não reforços populares para agradar os torcedores ou a imprensa. "O elenco tem uma qualidade enorme. Sabemos que temos que fazer alguns ajustes e no tempo que nós achamos que será ideal. Quero a torcida feliz em dezembro e não em janeiro", explicou. As carências, segundo o dirigente, também estão mapeadas. "Identificamos o que precisamos. Minha leitura e a do Filipe é que o grupo é muito bom e pode render ainda mais do que tem rendido. Mas vamos reforçar tentando minimizar o erro", destacou.
Um centroavante para o lugar de Gabigol, inclusive, será a principal meta na primeira janela de transferências para a temporada de 2025. Boto admitiu o interesse do Flamengo em Lassina Traoré, atacante de 23 anos natural de Burkina Faso. "É um jogador que conheço muito bem. Quando eu estava no Shakhtar, compramos do Ajax, com 18 anos, por 10 milhões de euros. Está em análise, como muitos outros. A posição é a mais prioritária e não queremos falhar", advertiu. O português lembrou, até mesmo, do antigo camisa 99 do rubro-negro. "Eu estava no Benfica quando chegou o Gabigol. O rendimento lá foi quase zero. Depois, virou ídolo aqui."
Profissionalização
De cultura europeia, José Boto chega ao Flamengo com a missão de profissionalizar as movimentações do departamento de futebol. O português garante ações para isso. Até mesmo, modificar a rotina de visitas ao centro de treinamento. A ideia do dirigente é excluir a entrada de qualquer pessoa estranha ao ambiente para evitar problemas de distração e vazamento de informações e escalações, por exemplo. "Os torcedores podem esperar cobrança, primeiro de mim, dos jogadores e todos têm que trabalhar bem. Isso é profissionalismo", ressaltou.
O famigerado DNA do Flamengo também está no vocabulário de Boto. "Temos que criar esse DNA, jogadores talentosos e ao mesmo tempo responsáveis", ressaltou, antes de fazer uma crítica ao atual modelo de revelação de atletas no Brasil. "No futebol profissional, a chegada de técnicos estrangeiros deu mais rigor tático ao jogo, mas replicar na base é um erro tremendo. Vocês são os maiores produtores de jogadores de todos os tempos. Foram copiar a Europa e estão mal", alfinetou. "A base é minha área. É algo que vou me orgulhar", complementou.