Existe um padrão nas trocas de temporada do futebol brasileiro. Nele, os clubes se lançam ao mercado da bola em busca de reforços para transformar as características do elenco. No entanto, a cada ano, as modificações não estão restritas somente aos grupos de jogadores. De tempos em tempos, as diretorias das agremiações também entram na ciranda com a alternância de gestões. Quatro camisas protagonistas do cenário nacional vão abrir 2025 sob nova direção: Botafogo, Palmeiras, Flamengo e Fortaleza passaram por eleições e inauguram eras diretivas.
O recorte abrange uma imponência esportiva: o quarteto foi o responsável por ocupar, justamente, as quatro primeiras colocações da última edição da Série A do Campeonato Brasileiro. O Botafogo elegeu João Paulo Magalhães. O alviverde manteve Leila Pereira no comando administrativo. No Flamengo, o novo líder é Luiz Eduardo Baptista, o Bap. José Rolim Machado responderá à frente do Fortaleza. No Glorioso, o mandato vai até o fim de 2028, enquanto nos outros três o ciclo será até 31 de dezembro de 2027. No entanto, as trocas terão impactos diferentes nas rotinas dos clubes.
A principal diferença no alcance do poder administrativo nas equipes é explicada com uma sigla: SAF, de Sociedade Anônima do Futebol. Botafogo e Fortaleza são adeptos do modelo de gestão empresarial e tiveram presidentes eleitos para comandar a parte associativa das agremiações. Palmeiras e Flamengo seguem o padrão diretivo tradicional. Com isso, os novos presidentes eleitos mandam e desmandam. Inclusive, têm a caneta em mãos para definir qualquer situação importante envolvendo os departamentos de futebol do alviverde e do alvinegro.
Entre as SAFs
Presidente do Botafogo, João Paulo Magalhães é empresário. Enquanto John Textor comanda o futebol alvinegro, o botafoguense cuidará dos esportes olímpicos e do clube social. Foi eleito com 573 votos contra 399 de Vinícius Assumpção. Umas das promessas é a reforma do Mourisco Mar, complexo aquático alvinegro. No futebol, ele indicará o representante da associação na SAF. "Se o Textor quiser minha ajuda para qualquer coisa, seja para trocar o pneu do carro na rua às 3h da manhã, pode me acionar, porque estou aqui para ajudar", disse. Com a gestão do Boavista no currículo, o dirigente foi agraciado pelo norte-americano nas redes sociais. "Vamos buscar troféus juntos", postou.
CEO da SAF do Fortaleza, Marcelo Paz continuará com status de mandachuva do futebol. José Rolim Machado estará na retaguarda do associativo do Leão. Membro de chapa única, totalizou 598 votos. O empresário e engenheiro confirmou um dos principais desafios: a possível venda de 20% do futebol da agremiação para investidores. "Nós trabalhamos neste ano para preparar o clube para isso, trabalhamos bastante para organizar a SAF para o mercado. Então, quem chegar para investir vai encontrar uma SAF muito bem organizada e com zero dívidas", destacou, em entrevista recente à CBN.
Aqui mando eu
No Palmeiras, a pressão sob a presidente é maior. Após primeiro mandato vitorioso em campo, Leila Pereira foi reeleita para seguir o trabalho. A mandatária ganhou de Savério Orlandi por 2.295 votos a 858. No novo ciclo, a dirigente comandará o fim da era Crefisa (empresa da família dela) e a entrada de um novo patrocínio. A manutenção do projeto atual é outro desafio. A mandatária não esconde o desejo de superar os frutos do primeiro triênio da gestão. "Vários clubes se fortalecem, querem o primeiro lugar. Um só é vencedor. Vamos lutar para continuar sendo a Sociedade Esportiva Palmeiras. Agora em 2025, vamos reconquistar o que é nosso", garantiu.
Bap assume o Flamengo prometendo ruptura. Oposição da antiga gestão, venceu o pleito por 1.731 votos, contra 1.166 votos de Rodrigo Dunshee, tem como principal bandeira profissionalizar o futebol do clube rubro-negro e colocou um gestor de carreira (o português José Boto) na pasta. Uma mudança no estatuto para diminuir a influência de dirigentes amadores está na rota. Ele também deverá tocar o maior projeto administrativo da agremiação no século: a construção do estádio próprio, no terreno do Gasômetro. "Ninguém constrói do zero sem um estudo desse, e no Flamengo não é diferente. Esse é o projeto da vida do clube. Vamos fazer nosso estádio, mas não a custo de performance esportiva", prometeu.
Talvez, o torcedor não veja a transição de diretorias nos clubes de coração como algo tão relevante quanto a chegada de reforços badalados embrulhados como presentes de fim de ano. No entanto, a caneta dos mandatários têm poder suficiente para guiar o destino das agremiações (dentro e fora de campo) não apenas na próxima temporada, mas em todo o ciclo da gestão diretiva. Em 2025, o top-4 da última Série A do Brasileirão será colocado à prova administrativamente e os novos gestores terão o desafio de manter as equipes no trilho, seja com mais ou menos poder no departamento de futebol.
Pleitos 2025
Dois grandes clubes presentes na próxima composição de elite do Campeonato Brasileiro estão com eleições marcadas para o fim da temporada de 2025. Um deles é o Fluminense. Mandatário na campanha do título da Libertadores da América de 2023, o maior feito da história do clube, Mário Bittencourt ocupa a cadeira presidencial até dezembro. Cumprindo a segunda gestão, o dirigente não poderá exercer um novo mandato à frente do clube carioca. O prazo é o mesmo de Alberto Guerra na liderança do Grêmio. O cartola pode tentar manter o cargo no tricolor gaúcho. No entanto, ainda não há definição se ele, de fato, sairá em campanha pela manutenção do posto máximo no poder da equipe.