ENTREVISTA

Estêvão vê futebol e atual fase da carreira como "parque de diversão"

Vencedor mais jovem da principal premiação individual do país aos 17 anos, joia do Palmeiras manifesta o desejo de voltar a ser meia, dispensa comparações com Messi e Neymar e cumpre uma profecia do pai-pastor

Estêvão vive a turnê de despedida no Brasil: em julho, arrumará as malas para o Chelsea -  (crédito:  Andre Simoes/Agencia Com Z)
Estêvão vive a turnê de despedida no Brasil: em julho, arrumará as malas para o Chelsea - (crédito: Andre Simoes/Agencia Com Z)

São Paulo — Aos 17 anos, Estêvão William Almeida de Oliveira Gonçalves coleciona distinções e recordes. No último dia 9, ganhou a Bola de Prata ESPN 2024 como um dos melhores atacantes na seleção ideal do prêmio individual mais tradicional do país. Começava um sobe e desce ao palco. Vendida ao Chelsea por 34 milhões de euros, a joia do Palmeiras voltaria ao centro das atenções para receber o troféu de Revelação e, outra vez, quebrar a banca e se tornar o mais jovem vencedor da Bola de Ouro desde a primeira edição da festa, criada em 1970 pela revista Placar. Gabriel Jesus tinha 19 em 2016. Estêvão ganhou antes da maioridade. Saiu do Anhembi com três troféus.

Estêvão falou sobre o ano mágico depois da premiação. Elegeu a família, o estafe, o coordenador da base do Palmeiras, João Paulo Sampaio, e o técnico Abel Ferreira responsáveis pelo sucesso precoce. Satisfeito com 2024, o craque deseja mais em 2025. Um dos sonhos é voltar a jogar na posição em que se sente melhor: meia, camisa 10. As outras metas são encerrar a passagem pelo Palmeiras com o título do Super Mundial, a partir de 14 de julho, nos Estados Unidos, e conquistar espaço no Chelsea na temporada de 2025/2026.

Um dos alicerces da serenidade de Estêvão a cada resposta é o pai, com quem treinava na infância em um campinho de terra, em Franca (SP). O pastor Ivo Gonçalves semeou um jogador de futebol e colhe o cumprimento de algumas profecias. Uma delas, de que a humildade do filho seria recompensada e ele se sentaria com os príncipes. Vestido de terno na festa, Estêvão zoou a si mesmo ao ser questionado pelo Correio sobre a escolha da roupa para a cerimônia de gala: "Eu falei para o meu pai que estou parecendo com ele", riu, amenizando a pressão e definindo a profissão dele como "parque de diversão".

Pressão aos 17 anos

O goleiro Weverton não gosta que eu diga isso, mas estou no meu parque de diversão. Estou onde eu mais queria estar. Sou um moleque de 17 anos muito feliz e só quero jogar futebol. É o que eu mais amo fazer. Isso não é um fardo, é uma alegria.

"Messinho", "Neymar"

Os meus pais sempre falam para eu manter os pés no chão. Claro que essas situações não são do meu controle. Mas, sinceramente, não gosto, porque eles fizeram a história deles e agora estou construindo a minha. Eu, como Estêvão, fiz um ano espetacular em 2024, e prometo fazer anos ainda melhores. Fico muito feliz de ser comparado com esses grandes nomes do futebol mundial.

Meia ou ponta?

Como o coordenador da base João Paulo (Sampaio) diz, a gente sempre tem que estar preparado para as situações possíveis. Fui alinhado como ponta no fim da minha base. No começo, eu era meia e passei a ponta por causa do um contra um. Fui ganhando espaço ali, cheguei ao profissional de ponta, mas a minha característica é de um meia. É onde eu me sinto mais confortável, mas sei também o que posso fazer como ponta. Posso dar o meu melhor tanto em uma como na outra posição.

Volta à meia

Com certeza, esse é um objetivo meu. Voltar ao meio de campo, a posição em que eu me sinto mais confortável. Sei que garanti o meu espaço aqui no Palmeiras como ponta, temos vários outros jogadores como meias, mas creio que, em breve, voltarei à minha posição de origem.

Protagonismo

Amadureci muito nesse tempo em que fiquei no futebol profissional do Palmeiras. Agradeço muito os elogios que tenho recebido não somente do Luiz Felipe Scolari, mas de todos que encontrei aqui na premiação na Bola de Prata.

Cabeça boa

A família é uma parte fundamental. Ela me blindou bastante de todas as coisas, não botaram pressão, eles simplesmente falaram: "Se diverte". É isso que eu faço até hoje. A minha maior alegria é jogar futebol. Não vejo isso como peso, mas como forma de retribuir o que eles fizeram por mim, de abandonar a família deles, a cidade onde nasceram, moraram, para estar ali vivendo um sonho meu que se tornou um sonho deles.

Chelsea

Estou muito feliz com a minha decisão de ir para o Chelsea. Tenho certeza de que foi a decisão certa. Chegando lá, vou trabalhar para tentar conquistar o meu espaço. Independentemente de quem esteja ali. Quero que seja uma competição saudável. Vou estar sempre buscando jogar e ter oportunidades. Aproveitar ao máximo para me consolidar no time.

Los Angeles-2028

É um objetivo meu. Vi o Neymar ganhar a Olimpíada no Rio-2016 e quero ganhar também se eu tiver a oportunidade de jogar e conquistar mais um título pela Seleção Brasileira.

Cobrança de falta

Eu sempre bati na base. Eu busco sempre aperfeiçoar depois dos treinos para ter o máximo de repertório possível. Hoje, o Raphael Veiga é o cobrador oficial e não tenho muito espaço. Converso, e ele deixa eu bater uma ou outra.

Pai pastor

Eu falei para ele, antes da Bola de Prata, que estou parecendo com ele. Não sou muito de usar terno, é a primeira vez. Um versículo que ele sempre fala para mim é: "Deus tira o pobre do pó e faz sentar-se com os príncipes". Ele sempre falava isso para mim quando eu treinava com ele em um campinho de terra. Hoje, tenho sido recompensado com isso, sentando com os príncipes.

Origem

Nunca esqueço de onde eu vim, da cidade de Franca, onde estão os meus familiares orando por mim. É isso que tiro de lição de ter um pai pastor que sempre está comigo, ajudando a me blindar dos males do mundo.

Adeus, ano velho

O primeiro sonho que eu tinha neste ano era subir para o profissional. Consegui ser titular, ajudar o Palmeiras da melhor forma possível, fui vendido e creio que esse foi um ano maravilhoso para mim. Vai ficar marcado na minha carreira. Meu primeiro ano como profissional. Só tenho que agradecer a Deus por tudo o que ele fez na minha vida, à minha família, ao Palmeiras, ao meu estafe por tudo o que fizeram. O que estou vivendo é a realização de um sonho fruto de um trabalho.

Abel Ferreira

Foi um cara fundamental para mim nessa temporada no Palmeiras. Ele me ensinou a jogar taticamente. Quando eu passei a cumprir o que ele me pedia em campo, passei a ganhar cada vez mais espaço e me consolidando no time titular. Pude fazer isso da melhor maneira possível até atingir o objetivo de ser titular e ajudar o Palmeiras.  

Feliz ano novo

Quero evoluir cada vez mais como pessoa, como atleta. No ano que vem, os desafios serão ainda maiores com mudança de país, de cidade. Antes, eu quero trazer ainda mais alegria para a torcida do Palmeiras dando o meu melhor com uma versão do Estêvão ainda melhor do que foi em 2024.

*O repórter viajou a convite da ESPN (Grupo Disney) 

Marcos Paulo Lima
MP
postado em 26/12/2024 06:00
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