Em 19 de dezembro de 2004, a Série A do Brasileirão terminava com um recorde intacto há 20 anos. O brasiliense Washington Stecanela Cerqueira conquistou a artilharia isolada com 34 gols vestindo a camisa do Atlético-PR, cuja grafia (ainda) não tinha o acréscimo da letra "h" à época. O centroavante levou o Furacão ao vice-campeonato na primeira divisão (assista ao podcast com o Coração Valente neste post).
Duas décadas depois, Germán Cano é quem mais se aproximou da marca de Washington. Em 2022, o atacante do Fluminense balançou a rede 26 vezes na Série A. Antes dele, Gabriel Barbosa havia anotado 25 na campanha do título rubro-negro em 2019.
Há quem desmereça a marca de Washington sob a alegação de que o Brasileirão de 2004 foi disputado por 24 clubes. Portanto, teve 46 rodadas, oito a mais do que o formato atual, em vigor desde 2006. Aos detratores, o Coração Valente tem resposta na ponta da língua.
"O meu número de jogos era maior, mas poucos lembram que eu disputei exatamente 38 partidas, a mesma quantidade de rodadas disputadas atualmente", responde Washington em entrevista ao Correio Braziliense. O maior artilheiro de um só edição da Série A trabalha no Ministério do Esporte como presidente da Autoridade Pública de Governança do Futebol.
Os 34 gols em 38 jogos dão média de 0,89 por partida. A contar de 1971, marco do primeiro Brasileirão desconsiderando a canetada do ex-presidente da CBF Ricardo Teixeira em 2010, seis atacantes registraram média superior a um gol por partida na primeira divisão.
Reinaldo fez 1,55 gol por partida em 1977. Zico terminou com 1,10 na campanha do título do Flamengo em 1980. Serginho Chulapa registrou 1,05 em 1983. Edmundo conseguiu 1,03 em 1997, Guilherme contabilizou 1,04 em 1999 e Romário 1,16 na temporada de 2001.
Questionado sobre as lembranças do Brasileirão de 2004, Washington se emociona. "As melhores possíveis. Eu vinha de uma uma indefinição se eu voltaria a jogar. Desafiava a medicina. Por isso essa marca é muito histórica", recorda.
O centroavante havia parado de jogar futebol devido a uma cardiopatia. Esteve próximo da aposentadoria e retornou justamente para quebrar o recorde. "Depois da tempestade veio a bonança", recorda Washington. Antes dele, Dimba havia feito 31 gols em 2003; Edmundo encerrou com 29 em 1997; e Reinaldo sustentou a 28 de 1977 até 1997.
"O meu número de jogos era maior, mas poucos lembram que eu disputei exatamente 38 partidas, a mesma quantidade de rodadas disputadas atualmente" Washington, ex-centroavante
Questionado se projeta a quebrar do recorde em um futuro próximo, Washington mostra-se descrente. "É muito difícil. Hoje, há muita preocupação com a questão física, mais demanda por marcação, menos técnica. O jogo naquela época era mais jogado", opina o goleador.
Convicto da imponência do recorde e ciente da alta demanda por centroavantes raiz, Washington response se seria titular de algum time do Brasileirão atualmente em tempos de pontas e de falsos 9. "Sendo sincero, eu seria titular da Seleção Brasileira. Quem decide jogos é centroavante. Atacante de movimentação não faz gol. Faltam centroavantes", crava.
Top 5: Maiores artilheiros em uma edição
Números absolutos
1. Washington (Athletico-PR, 2004): 34 gols em 38 jogos
2. Dimba (Goiás, 2003): 31 gols em 41 jogos
3. Renando (Paraná, 2003) 30 gols em 42 jogos
4. Edmundo (Vasco, 1997): 29 gols em 28 jogos
5. Luis Fabiano (São Paulo, 2003): 29 gols em 35 jogos