Rio de Janeiro — A ginástica do Brasil vai muito além de Rebeca Andrade. Enquanto a modalidade artística segue como especialidade da casa e vibra com as conquistas da maior medalhista olímpica do país, com seis, a rítmica comemora a evolução no compasso de uma paranaense. Aos 24 anos, Bárbara Domingos, a Babi, é a protagonista dos melhores resultados nos principais eventos. Um dos mais especiais, obtido quatro meses atrás.
Babi estreou em Jogos Olímpicos na edição de Paris-2024. Foi 10ª colocada na prova individual geral. Mas nem tudo é sobre medalha. Na Cidade Luz, a curitibana brilhou ao se tornar a primeira brasileira a disputar uma final do evento mais nobre do calendário. Questionada pelo Correio sobre qual palavra escolheria para definir o ano, não titubeou: "Sonho". Inspirada por Daiane dos Santos, a menina que ensaiou os primeiros movimentos em uma praça da capital paranaense esbanja felicidade. Na quarta-feira, recebeu o prêmio do Comitê Olímpico do Brasil (COB) de melhor atleta da ginástica rítmica no Prêmio Brasil Olímpico, em cerimônia de gala no Rio de Janeiro.
"Eu diria que foi um sonho realizado. Saiu melhor do que eu imaginava, nem nos meus melhores sonhos eu imaginaria algo da forma que foi, foi com muita emoção. Foi um ano de grandes sonhos realizados, principalmente por terminar entre as 10 melhores da Olimpíada. Estar em uma Olimpíada foi algo surreal, com o qual eu sempre sonhei", ressalta.
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A curitibana é a personificação do legado das grandes competições no Brasil. O desejo de se tornar ginasta surgiu durante os Jogos Pan-Americanos do Rio de Janeiro, em 2007. A ambição se materializou com medalhas. Em 2019, competiu no Pan de Lima e conquistou a prata na disputa de fita. Babi estava pronta para a Olimpíada de Tóquio. No entanto, uma lesão no quadril a deixou fora por cinco meses em 2020. Com o adiamento do megaevento para o ano seguinte devido à pandemia, a classificação foi alterada e o sonho frustrado.
Não bastasse a decepção por ter ficado de fora da disputa no Japão, lidou com novo drama no quadril e precisou de cirurgia. A recuperação levou seis meses. Foi aí que Babi mostrou que há males que vêm para o bem. Os anos seguintes foram os melhores da carreira. Em 2023, levou três ouros e duas pratas no Pan de Santiago e se tornou a mais vitoriosa naquela edição. Até então, o Brasil jamais havia sido campeão pan-americano na ginástica rítmica.
Aos 24 anos, Babi almeja mais no esporte. O maior compromisso do ciclo é a Olimpíada de Los Angeles-2028. No entanto, há um longo caminho a ser trilhado por ela até lá. Fato é que está mais rodada e poderá tirar do papel o projeto do Brasil de conquistar a primeira medalha olímpica na ginástica rítmica. Há uma inspiração que vem de Brasília. Recentemente, o talento de Sobradinho Caio Bonfim abriu a porteira da marcha atlética com a prata aos pés da Torre Eiffel.
"Ganhamos uma experiência diferente quando vamos para uma Olimpíada. Projetar a próxima é meio difícil de dizer, porque no esporte nunca sabemos o dia de amanhã. Vamos estar trabalhando e, se Deus quiser, se for da vontade dEle, quem sabe", pondera.
Um dos "ensaios" mais importantes de Babi para Los Angeles-2028 será no Brasil. O maior compromisso do próximo ano para ela e a delegação é o Campeonato Mundial no Rio de Janeiro, de 20 a 24 de agosto. Será a primeira vez que o torneio desembarcará na América do Sul. "Foi muito importante ter trazido o Mundial para cá. Será um evento lindo, é a realização de um grande sonho competir um Mundial em casa", destaca.
Babi torce para que a ginástica rítmica siga os passos da artística. Para ela, o "efeito Rebeca" é benéfico. "Como é tudo ginástica, isso ajuda a ter visibilidade tanto para elas quanto para a rítmica. Foi, sim, muito importante (o desempenho das colegas em Paris)." Ela não é próxima de Rebeca Andrade, mas admira. Porém, tem uma amiga que também vive a ascensão da modalidade. "Sou do Paraná, conheço mais a Julinha, Julia Soares, que treina no Ginásio ao lado. A Rebeca, não tenho muito contato porque ela está no Rio. Sempre estou vendo a Ju", compartilha. Julia Soares estreou em Olimpíadas com a exibição em Paris. Foi bronze por equipes e finalista na trave.
O repórter viajou a convite do Comitê Olímpico do Brasil (COB)