A Polícia Federal interceptou mensagens de um grupo de fraudadores envolvidos em manipulação de resultados de jogos da Patrocinense, de Minas Gerais, pela Série D do Brasileiro. Os apostadores investiram cerca de 250 mil para aliciar atletas e adulterar partidas do time mineiro na temporada. O esquema estava em ação desde a primeira fase da competição.
Em outubro, a PF encaminhou um relatório à Justiça ratificando manipulação de resultado no jogo entre Inter de Limeira e Patrocinense, pela 1ª fase da Série D. Ainda de acordo com o documento, apostadores tinham conhecimento prévio da derrota mineira na etapa inicial da partida por ao menos dois gols de diferença. O duelo terminou 3 a 0 para os mandantes, do interior paulista, com todos tentos marcados no primeiro tempo.
O caso terminou com indiciamento de seis pessoas envolvidas com o clube. O gestor Anderson Brahim Rocha; o treinador Estevam Soares (ex-Palmeiras e Botafogo); auxiliar Rodolfo Santos de Abreu; atletas Felipe Gama Chaves e Richard Sant Clair Silva. Além de Marcos Vinicius da Conceição do Nascimento, citado como possível investidor.
Manipulação de resultados
Em março, meses após assumir a gestão da Patrocinense, Anderson Bahim troca mensagens com um empresário ucraniano. O dirigente e o homem identificado como Jan organizavam a manipulação de partidas na Finlândia, e Rocha envia uma imagem da chave de grupos do clube mineiro na Série D.
“Só equipes de mercado forte. Estou com uma possibilidade muito boa”, escreveu Rocha em mensagens divulgadas pelo GE.
Um mês depois, Rocha retoma o assunto e insiste no convite para “um trabalho muito seguro, com 12 atletas confiáveis”. O dirigente brasileiro pede, em espanhol, US$ 25 mil na ação.
“Precisaria de um investimento, mas para um trabalho muito seguro, com 12 atleta confiáveis. Sou o diretor executivo, contratei a comissão técnica, que segue minhas ordens”, escreveu Rocha.
A imprensa local começa a levantar suspeitas de manipulação dos jogos após a derrota por 4 a 1 para o Pouso Alegre, em maio. Àquela altura, o treinador Estevam Soares, com passagens por Palmeiras e Botafogo, já liderava a comissão técnica do clube. Ele encaminha mensagens a Rocha em tom de preocupação, mas sem desconfiar das supostas ações do gestor.
“A gente precisa ficar atento. Ver quem serve e quem não serve desse corpo atlético aí, desses atletas. Porque senão estoura em você, estoura em mim. Os primeiros que vão se ferrar ficam no executivo e o treinador. Jesus!!! Se você tiver um tempinho aí me dá uma ligada que estou com isso na cabeça. A gente fica perturbado”, disse Estevam.
Ainda de acordo com as investigações, o técnico também conversava com uma mulher identificada como Roseli – que atuava como conselheira espiritual de Estevam. Entre os diálogos, a profissional sugeriu que o treinador não aceitasse o convite para trabalhar na Patrocinense.
“Eu vou tomar esse banho de louro aí. A coisa aqui está meio pesada a barra. Fora de campo que está me preocupando um pouco. Estão surgindo alguns problemas aqui, meio esquisito”, contou.
O atacante Thiago Ribeiro, que havia deixado a Patrocinense antes do escândalo, aconselhou Estevam a se demitir. “O gol contra do Richard foi escandaloso, coisa para sair preso do estádio. Por isso eles queriam tanto que ele jogasse”, avaliou o ex-Santos. “Sai daí, professor. O senhor não precisa passar por isso. Eu sei que o senhor está precisando do dinheiro do salário, que o senhor precisa trabalhar. Mas não dá para aceitar isso”.
O gol contra citado acima se refere ao terceiro da vitória do Inter de Limeira sobre a Patrocinense, por 3 a 0. Richard só atuou na partida a pedido de Anderson Ibrahim Rocha, o gestor do clube.
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