“Uma segunda chance na vida”. A frase é do engenheiro eletricista e tenista amador Haroldo Rodrigues da Costa, de 59 anos. O mineiro radicado em Brasília precisou lidar com a insuficiência dos rins na casa dos 30 anos. Ex-jogadora de vôlei profissional, Silvana Baccin, 61, também conviveu com o drama de saúde e passou pelo transplante para continuar a caminhada. Operado, Haroldo se reencontrou em uma modalidade incomum na vida dele. A ex-funcionária pública da Caixa Econômica Federal recomeçou a partir do esporte. Entre amanhã e domingo, eles serão, junto a sete atletas, parte dos representantes de Brasília no 1º Torneio de Tênis para Transplantados do Brasil. Realizado pela Associação Brasileira de Transplantados (ABTx), o torneio será disputado nas quadras do Clube do Exército. O evento acontece das 8h às 18h nos dois dias e será aberto ao público.
Praticante assíduo do futebol e do vôlei durante a adolescência, Haroldo sentiu os primeiros sintomas do problema renal ao alcançar a maioridade. Em 1989, mudou-se para Brasília com uma oportunidade para trabalhar na Caesb. O problema de saúde, entretanto, agravou-se. Na casa dos 20 anos, o mineiro observou a rotina afetada. Aos 30, não viu outra alternativa a não ser o tratamento de hemodiálise.
A filtragem do sangue era feita artificialmente, pois as impurezas não podiam ser despejadas pelo próprio órgão. Na família, ele viu uma salvação. “Enquanto muitos precisavam aguardar em filas para receber uma doação, fui agraciado com o amor dos meus. Tenho nove irmãos e todos se dispuseram a me ajudar”, relembra.
Transplantado em 1997, Haroldo se deparou com uma nova realidade. Depois de um tempo, poderia viver sem a necessidade de se prender a uma cama. Dois anos mais tarde, estava competindo no exterior. “Na primeira consulta após o transplante, perguntei ao médico se poderia voltar a praticar esportes e me movimentar. Ouvi da boca dele que eu deveria fazer isso. Dois anos depois, estava na Hungria para competir”, compartilha
Ao contrário do colega, Silvana relata ter adquirido a condição nos rins através de uma doença transmitida geneticamente. A Doença Renal Policística passou a afligi-la na vida adulta. Graças à doação do ex-marido, pôde voltar a jogar vôlei. Dos 25 anos até o póstransplante, ela esteve nas quadras de forma competitiva. Viu nas raquetes, porém, uma alternativa. “Entrei no tênis por conta de lesões em articulações causadas pelo vôlei. Optei por um esporte menos agressivo”, explica.
“Começou como uma terapia, como um pós-transplante e nunca mais larguei. O esporte traz vários benefícios, pelos bem estar que sentimos por ver que é possível se movimentar novamente. Ver que pude voltar a confiar no meu corpo foi o que me salvou”, descreve. Silvana foi a primeira tenista brasileira a participar do World Transplant Games, realizado no ano passado, na Austrália.
Inspiração
Fã da lenda do tênis brasileiro, Gustavo Kuerten, Haroldo explica que se inspirou na “febre” que vivia o país para apostar no esporte da bolinha. No ano do transplante do mineiro, em 1997, Guga conquistava o primeiro título de Grand Slam na carreira, o badalado torneio de Roland Garros, em Paris.
“Eu me senti contaminado por aquilo. Vi que um esporte individual pudesse ser melhor, então mergulhei fundo. Não me arrependi. Recupera-se tudo com um brilho novo”, ressalta. Em 2011, conheceu o ídolo por meio de um encontro promovido pela reportagem do Globo Esporte.
O ícone das quadras se mostrou interessado em conhecer Haroldo. Com o sonho realizado em contemplar pessoalmente a referência do tênis brasileiro, o engenheiro radicado em Brasília tocou a carreira. Hoje, Haroldo orgulha-se em dizer que é o brasileiro com o maior número de participações nas Olimpíadas de Transplantados, com nove disputas no currículo e cinco medalhas conquistadas (três bronzes e duas pratas).
“Vi que poderia usar o esporte como benefício para o cuidado com a saúde e com o transplante. Queria mostrar uma mensagem de esperança. Eu estava lá na fila da hemodiálise e agora estou aqui. Vi uma luz no fim do túnel, e fui permitido a ser feliz de novo”, discursa o tenista.
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