Aquiles joga vôlei de praia de óculos. Lorenzo usa boné. Os acessórios não são aleatórios. Ajudam a diferenciá-los nas quadras de João Pessoa, capital da Paraíba, na disputa dos Jogos da Juventude. Os irmãos Boner, sobrenome da dupla brasiliense, são gêmeos, e fazem da experiência no Nordeste um atalho para o sonho maior dos atletas de alto rendimento: disputar os Jogos Olímpicos.
Não falta inspiração no próprio quadrado. O candango Bruno Schmidt conquistou a medalha de ouro nos Jogos Olímpicos do Rio-2016 e abriu o caminho para outros brasilienses. Embora não tenha mar, o cerrado continua formando talentos para o vôlei de praia, protagonista de 14 medalhas em participações do Brasil no megaevento: 4 ouros, 7 pratas e 3 bronzes na soma das conquistas masculinas e femininas.
Crias da Asa Norte e do Iate Clube, Aquiles e Lorenzo dão saques, bloqueios, cortadas e levantam a bola um para o outro desde a barriga da mãe. "Nós sempre fomos uma dupla, seja jogando esporte coletivo ou individual. Éramos apontados como a dupla dos gêmeos sensação. Desde pequenos, vamos para todos os lugares juntos. Depois que entramos no vôlei de praia, aí que passamos a andar mais juntos, mesmo", conta Aquiles em entrevista ao COB.
Os brasiliense atuam juntos e brigam também, como nas melhores famílias. "Estamos juntos todos os dias. Acordo e durmo convivendo com ele. Quem tem irmão vai entender. Nós brigamos muito também, mas cinco minutos depois já fizemos as pazes e volta tudo ao normal", admite Lorenzo.
A participação de Aquiles e Lorenzo nos Jogos da Juventude tem uma curiosidade: ambos podem duelar com uma outra dupla de gêmeos. Anfitriã do evento, a Paraíba torce pelos brothers Isaú e Esaú Alves. "Se enfrentarmos a outra dupla de gêmeos, vamos entender o que os adversários sentem quando jogam contra a gente", brinca o paraibano Isaú. "Sermos gêmeos é uma sorte, porque pode funcionar para atrapalhar a estratégia dos adversários. Eles podem se confundir e sacar no jogador errado", diverte-se.
Há uma outra coincidência entre os gêmeos brasilienses e paraibanos: as duas duplas treinam longe do mar. Compreensível nos casos de Aquiles e de Lorenzo. No mínimo estranho do que diz respeito ao meninos do litoral Isaú e Esaú. "A maioria dos meus amigos do esporte jogam vôlei de quadra e brincam na areia. Nós não, somos uns dos poucos que treinamos com foco total no vôlei de praia", conta Lorenzo.
A dupla paraibana mora em Logradouro, no interior da Paraíba, e treina no projeto Caiçara Jovem, na Escola Maria Gertrudes de Carvalho Neves, na cidade vizinha localizada a cerca de 3 km da casa dos meninos. As condições climáticas atrapalham: "Na minha cidade, venta pouco. Aqui em João Pessoa, deve ventar 10 vezes mais do que lá. É difícil se preparar para disputar torneios nas regiões litorâneas", lamenta Esaú.
Os paraibanos fizeram um período de aclimatação em João Pessoa sob o comando do técnico Luis Henrique Monteiro. Os candangos não tiveram a mesma oportunidade. "No DF, não chega nada semelhante a esse vento de João Pessoa. Eu brinco que nós jogamos vôlei de areia no DF e vôlei de praia no litoral, porque parecem esportes diferentes", observa Aquiles. "Nesse vento, a bola muda de direção de um segundo para outro. Mas temos que nos adaptar e estar preparados para isso também", pondera o jogador.
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