São Paulo — A única parada da Fórmula 1 na América do Sul é para o Grande Prêmio do Brasil, mas nem por isso a festa se restringe ao público brasileiro. No meio do verde e amarelo, a combinação de branco e azul da Argentina aparece aos montes nas arquibancadas e nos arredores do Autódromo de Interlagos. O principal motivo da festa é celebrar o garoto Franco Colapinto, único representante sul-americano no grid. Ele virou sensação.
A chegada do argentino de 21 anos pegou o paddock de surpresa, quando assumiu o assento da Williams no lugar do demitido Logan Sargeant. O posto é apenas temporário. A equipe britânica acertou com Carlos Sainz para 2025 e tem contrato com Alex Albon. Ainda assim, bastaram cinco corridas para o ex-anônimo ganhar o carinho do público e a moral no paddock.
Colapinto terminou dentro da zona de pontuação nas etapas do Azerbaijão (8º) e Estados Unidos (10º), mesmo com um carro que briga na parte inferior do pelotão, além de a pior colocação ter sido um 13º lugar na estreia, em Monza. Nos bastidores, a personalidade descontraída e o "jeitão hermano" de ser atraíram a torcida, que aumentou os pedidos para que ele tenha vaga no grid no futuro. Christian Horner, chefe da Red Bull, assumiu que monitora a situação do jovem para, quem sabe, compor o time taurino como opção para a RB (ex-Alpha Tauri).
O conjunto da obra deu motivos para os argentinos comparecerem em peso e prestigiá-lo no GP do Brasil. Na quinta-feira, a frente da garagem da Williams foi tomada por coros chamando Franco. Ele foi retribuir o carinho vestindo uma camisa da seleção de Lionel Messi. Ontem, o clima de festa foi dividido pelo luto após o falecimento do avô do piloto na noite de quinta.
"É muito significativo para nós. Faz muitos anos que não tínhamos um argentino nos representando, é uma referência que faltava, como o próprio Franco diz nas entrevistas. Queremos apoiá-lo ainda mais nesse momento de pesar. É muito importante ter essa figura para que as pessoas se inspirem. Não são muitos argentinos que viram pilotos de F1, então pode ser algo único, por isso temos que aproveitar. Sei que é difícil, mas tomara que ele tenha um lugar em 2025", contou ao Correio o jovem Fran Albergati. Ele veio de Buenos Aires com o pai, a mãe e a irmã.
Em meio à invasão dos hermanos em Interlagos, o clima é de parceria com os brasileiros. Enquanto o país não tem uma figura na F1 desde 2017, ano da saída de Felipe Massa, a Argentina amargou 23 anos de jejum, quando Gastón Mazzacane deixou a categoria. Os cenários parecidos fizeram as duas torcidas se unirem, como o próprio Colapinto, cujo ídolo é Ayrton Senna, pediu. "Nunca corri perto do meu país, isso é o que tenho mais próximo de uma corrida em casa. Acredito que muitos brasileiros e argentinos estarão juntos torcendo. Somos muito parecidos. Há uma relação boa entre os latinos na Fórmula 1", disse.
O sentimento do piloto é espelhado na torcida. "Não me lembro de ter visto (Carlos) Reutemann, porque eu era muito novo, então essa é a primeira vez que vejo um argentino na Fórmula 1, é emocionante. Não vejo rivalidade com o Brasil, acho que aqui somos todos irmãos e queremos que todos apoiem Franco. Para a corrida, sendo realista, torço para que termine em oitavo, mas quem sabe não aconteça algo que mude o cenário", analisou o argentino Alberto Tobis, de 41 anos.
Na pista
Abalado pela notícia do falecimento do avô, Colapinto foi presença discreta na classificação da sprint. O argentino avançou para a segunda sessão, eliminando o bicampeão Fernando Alonso no caminho, mas precisou se contentar com o 14º lugar. O domínio foi da McLaren, que garantiu dobradinha para a largada com Oscar Piastri na pole position e Lando Norris em segundo. A segunda fila terá Charles Leclerc, da Ferrari, e Max Verstappen, da Red Bull. A largada é hoje, às 11h.
O dia ainda terá mais compromissos, com a classificação da prova principal às 15h30 e uma homenagem a Ayrton Senna. Será feita uma ação com a McLaren do título de 1990 do brasileiro. O carro será pilotado por Lewis Hamilton em Interlagos. A corrida oficial é amanhã, às 14h. Band, BandSports e F1 TV transmitem.
*Estagiário sob a supervisão de Marcos Paulo Lima