Entrevista

De mãe do Endrick a gestora da carreira do filho: conheça Cintia Ramos

Mãe de Endrick apresenta ao Correio uma nova versão: inspirada na mãe de Cristiano Ronaldo, ela peita o machismo e comanda a carreira do craque. Ex-funcionária do velho Mané viu o pupilo de camarote

A noite de terça-feira foi especial para uma mulher empoderada: Cintia Ramos, a mãe do atacante Endrick. Há 20 anos, ela era funcionária de limpeza do velho estádio Mané Garrincha. Conheceu o companheiro e colega de trabalho à época, Douglas Ramos, na arena. Casaram-se. Da união veio Endrick. Ela subiu e desceu as escadas do Mané com o filho nascido em 2006 na barriga. Um parto cesariano de risco no Hospital de Taguatinga trouxe o jovem astro da Seleção Brasileira e do Real Madrid ao centro das atenções no mundo da bola com as camisas do Palmeiras, do Real Madrid e da Seleção Brasileira.

A goleada por 4 x 0 contra o Peru em Brasília pelas Eliminatórias para a Copa de 2026 teve um significado especial. A ex-funcionária do antigo foi ao novo Mané Garrincha para ver o filho do camarote. Cintia revela, em entrevista ao Correio Braziliense, o talento para a gestão dos negócios. Inspirada em Maria Dolores dos Santos Aveiro, a mãe de Cristiano Ronaldo, ela administra a carreira de Endrick. É uma das responsáveis por quebrar paradigmas em um esporte machista como o futebol. Uma das raras mulheres empoderadas a representar o galático de 18 anos, a brasiliense de 43 anos avisa: "Sinto-me motivada a ajudar tantas outras mães que sonham com isso".

Roberto Assis é o empresário de Ronaldinho Gaúcho. Bosco Leite representava Kaká. Neymar pai cuida do Neymar filho. A senhora consolida um novo tempo no futebol. É quem administra a carreira do Endrick. Em vez do pai, a mãe. Como é ter o poder de decisão?

Não me vejo como uma administradora, mas como uma gestora. Sei que minhas decisões são importantes. Os valores que tento passar para ele também fazem parte da carreira dele.

A gestora Maria Dolores dos Santos Aveiro, mãe do Cristiano Ronaldo, é um dos segredos do sucesso do filho, eleito cinco vezes melhor do mundo. Fayza Lamari, mãe do francês Kylian Mbappé, é a representante dele, parceiro do Endrick no Real Madrid. Existe alguma figura materna que a inspirou a se posicionar na gestão da carreira da sua família e, consequentemente, na do Endrick?

Meu maior exemplo é a mãe do Cristiano Ronaldo (Maria Dolores dos Santos Aveiro). A maneira como ela trata o Cristiano até hoje me inspira muito.

Endrick ainda não é titular absoluto com Dorival Júnior na Seleção Brasileira nem com Carlo Ancelotti no Real Madrid. O que tem dito ao Endrick sobre isso?

Ele sabe que eu não entendo tanto de futebol. Eu entendo de resiliência. Digo a ele que tudo tem seu tempo. São momentos como esse que nos fazem exercitar a fé. Nada na vida acontece por acaso, e ele precisa suportar o processo.

 

João Pontes/Agência i10 - Cintia Ramos

Por falar em suportar processo, o Estádio Mané Garrincha faz parte dele na sua família. A senhora foi funcionária de limpeza do velho Mané Garrincha em 2005, 2005. Ontem, voltou ao novo Mané Garrincha para ver o filho Endrick com a camisa da Seleção na cidade em que ele nasceu. Qual é o sentimento nessa conexão entre passado e presente?

O sentimento é de gratidão. Estar aqui novamente é muito prazeroso. Saber que vou assistir ao meu filho jogar da arquibancada onde eu costumava trabalhar é surreal. Sinto uma gratidão imensa ao pensar que, quando saí daqui, tinha em mente que não poderia retroceder, e hoje sei que Deus preparou tudo para que meu filho jogasse.

Endrick nasceu em 21 de julho de 2006. Foi várias vezes ao velho Mané Garrincha dentro da sua barriga...

Quando lembro de estar grávida dele, recordo o início da minha família. Quase não consigo descrever em palavras a emoção que é ter passado pela minha gravidez lá (no Mané Garrincha). Tudo foi muito difícil, mas, sem saber, eu estava começando uma grande etapa da minha história e construindo a minha família. Nunca passou pela minha cabeça que meu filho se tornaria quem ele é hoje. Sinto-me muito privilegiada por ter sido alcançada por Deus e, mesmo trabalhando lá, já era muito feliz.

A senhora trabalhou grávida do Endrick em 2006, subindo e descendo escadas limpando o antigo Mané Garrincha? Como foi o parto de risco do Endrick em Taguatinga?

Precisei pedir afastamento no oitavo mês. Minha prioridade era a vida do meu filho, e lutei por ele até o último segundo. Ele foi meu único filho nascido de cesariana, e, na hora do parto, ele subiu. Assim que a bolsa estourou e percebi que ele estava em risco, tomei a decisão de lutar pela vida dele. Hoje, quando o vejo correndo, sinto que cada segundo valeu a pena.

João Pontes - Cintia Ramos

Qual é a maior lembrança da senhora nos momentos de vaivém do Endrick para as peneiras e escolinhas do DF e Entorno, antes de ele conseguir vaga no Palmeiras?

São muitas memórias. Lembro-me de levá-lo do Céu Azul até a rodoviária, correndo o risco de não conseguir voltar. Graças a Deus, todos foram muito bons conosco e nos ajudaram da forma que puderam, mas tínhamos medo e muita vontade de fazer dar certo. Recordo dele ainda pequeno, comendo rápido para não perder o ônibus, e de toda a disciplina que sempre demonstrou ter.

Sente-se uma inspiração a outras mulheres no retorno ao Mané Garrincha?

Uma alegria imensa. Tudo é muito surreal. Estar acompanhada da minha família e saber que vou ver meu filho vestindo a camisa da Seleção Brasileira é inexplicável. Sinto-me motivada a ajudar tantas outras mães que sonham com isso. É uma bênção de Deus.

Quais são os conselhos que a senhora dá ao Endrick? O que ainda falta ao filhão?

Não acho que falta algo. Sinto que é um novo ciclo. Desde que ele se tornou maior de idade, fiz o possível para dar a ele autonomia. Ele assina seus próprios contratos. O que continuo dizendo é que o criei para ser um homem bom, de caráter, um bom marido e, principalmente, temente a Deus. Quero que ele esteja sempre próximo da nossa família e que, na medida do possível, viva a infância do irmão.

Juliana Remigio -
Juliana Remigio -
Juliana Remigio -
João Pontes/Agencia i10 -

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