política do esporte

Conheça as propostas dos candidatos à presidência do COB

Eleição do Comitê Olímpico do Brasil define, nesta quinta-feira (3/10), presidente e vice da entidade no ciclo até os Jogos de Los Angeles-2028. Paulo Wanderley busca a reeleição, enquanto Marco La Porta é o candidato da oposição

Cinquenta e três dias após o encerramento dos Jogos de Paris-2024, o esporte brasileiro passa por uma competição sensível nas urnas. Nesta quinta-feira (3/10), quando o relógio bater 10h, os 55 membros da Assembleia Geral do Comitê Olímpico do Brasil serão convocados a escolher o próximo presidente e o vice da entidade no ciclo até Los Angeles-2028. Paulo Wanderley Teixeira tenta a reeleição. Você leu no Correio que o dono da caneta do COB desde 2017 é questionado sobre a possibilidade um terceiro mandato, vetado por lei.

O potiguar, porém, considera a primeira gestão como "tampão" após a renúncia de Carlos Arthur Nuzman e espera mesmo desfecho do pleito de 2020. Paulo Wanderley tem como braço direito o amapaense Alberto Maciel Júnior, ex-chefão da Confederação de Taekwondo.

Marco Antônio La Porta encabeça a posição. Até março, ele era vice do rival político. A candidatura de La Porta é apoiada por Yane Marques, medalhista de bronze do pentatlo moderno em Londres-2012. Ao Correio o que planejam para a fábrica de 170 medalhas em Olimpíadas.

Editoria de arte/CB - Os personagens com direito ao voto na eleição do COB

Paulo Wanderley

Por que você tem que continuar no COB?

"Não tenho que ficar. Quero ficar. O motivo principal é consolidar a gestão que se encerra e avançar. Sinto confiança no que foi realizado, as inovações, a segurança, a governança que foi plantada nesta gestão. Vamos avançar daí para a frente, me sinto capaz e com experiência. Tenho trabalhos realizados e comprovado. Por que não?"

Como utilizar o patrocínio da Caixa?

"A Caixa veio porque sabe que aqui terá retornos dos investimentos. É um recurso a mais, que possibilitará a concretização do nosso projeto TOP COB (transferência para as Confederações, equipes e competidores). Registra-se que não é uma distribuição de recursos de forma igualitária, é projeto. Naturalmente, isso será direito na atividade finalística: o esporte, para melhorar os atletas, com competições no exterior, aclimatação dentro ou fora do Brasil. No ciclo passado, tínhamos seis patrocinadores. Agora, são 22, com a Caixa. E virá mais."

Qual é o seu plano de trabalho?

"Ideia e criatividades são fartas no mercado, mas recurso, não. O esporte de alto rendimento só funciona bem com recurso. Estamos partindo da criatividade e da ideia para concretizar com os recursos da Caixa, que entrarão nos projetos do próximo ano, diretamente às confederações. Não gosto de falar de proposta. Proposta é para quem nunca fez nada e está propondo. Eu já fiz e vou incrementar e avançar. Denominamos um programa de Caravana Olímpica, para levarmos o movimento e os valores olímpicos pelo território nacional. Escolhe-se uma cidade e, em um fim de semana, vai para lá uma caravana do COB, com ativações esportivas, atletas de expressão para motivar e termos divulgação do esporte em todo o Brasil. Também teremos a Conexão Lima, que fará a ligação com os Jogos de Los Angeles-2028. Os atletas classificados no Pan-Americano, têm uma cota para ter a classificação direta, eles não passarão por um processo classificatório. O COB, ao identificar esses atletas, apoiará diretamente as confederações deles para chegarem em Los Angeles com chances reais de performar bem. Medalha, se possível, mas de performar bem."

Haverá mais atenção às mulheres?

"A questão da mulher no esporte, ampliaremos. Temos a nossa área de mulher no esporte, que cuida da inserção da mulher na cadeia produtiva. Não é só técnica, atleta, é gestora também. Tem cursos no COB para isso. Hoje, temos 54% de mulheres, quando consideramos a área de coordenação até a alta gestão. Especificamente de gerência, são 33%, 3% a mais do que se preconiza. A meta é avançar e, ao término do mandato, chegar próximo a 40%, 45%, o quanto puder. Estamos propondo com fatos."

Qual é a demanda mais urgente?

"Os e-Sports, hoje, são um fato. Há pouco, não existia essa possibilidade. O movimento olímpico não aceitava, porque as regras e o foco eram diferentes, não tinha a questão da observação aos valores olímpicos, mas, hoje, a história é diferente. No ano passado, teve um evento em Singapura, onde o COB esteve como observador. Haviam dois presidentes dos Comitês Olímpicos presentes: o de Singapura e o do Brasil. Gostei do que vi. Haverá os Jogos Olímpicos de e-Sports na Arábia Saudita, em 2025. Evidentemente, o Brasil participará. Temos uma expansão exponencial dos e-Sports do Brasil."

Quais desafios visando LA-2028?

"Estamos em Brisbane-2032. Para 2028, estamos mapeando onde os nossos atletas ficarão, as bases. Já temos missão que foi para lá verificar isso in loco, porque precisa ser antes. Para nós, Los Angeles já está acontecendo. Acredito que os nossos objetivos serão alcançados, porque temos um conhecimento adquirido. Acertando as coisas que faltam, temos fatos que nos direcionam para chegarmos bem a Los Angeles."

Está otimista?

"Se eles (da Assembleia Geral) observassem realmente o que foi o COB nessa gestão, com certeza, estariam todos do lado de cá. Mas isso não conta em eleição. O que contam são os 55 votos que estarão na urna e, depois, saberemos quem venceu. Quero ganhar, pretendo, tenho motivos e acho que vou ganhar, mas, de fato, é depois da apuração."

Marco La Porta e Yane

Por que devem assumir o COB?

La Porta: "O COB precisa ter uma gestão mais moderna, de uma oxigenação, vem com essa gestão há sete anos, com erros e acertos. Fiz parte dos dois mandatos do presidente Paulo Wanderley. Pude, de dentro do COB, acompanhar as necessidades. A gente percebe que o resultado esportivo teve um bom ciclo em Tóquio, mas em Paris parou de crescer. Precisamos ter investimento mais assertivo. Visualizamos ter uma proposta de um investimento no esporte de uma maneira que possa refletir no resultado, sabendo que há uma grande lacuna no desenvolvimento. Precisamos bater melhor e investir nessa área, pois os atletas de Paris e Tóquio são os mesmos. Não temos muitas renovações aparecendo para Los Angeles."

Yane: "Estamos muito bem intencionados, com sensibilidade para entender cada confederação, grupo de atletas, clubes. Sinto que o COB precisa ter um direcionamento de energia para entender que cada confederação tem uma história, uma demanda, uma necessidade e um potencial. Trabalharemos isso. Somos receptivos a sugestões, conversas e portas abertas para uma gestão colaborativa e sensível. Estamos preparados. Tenho essa história, não tão longa, vivendo a gestão pública no Recife. Conheço as dores dos atletas e dos dirigentes."

Yane, como vê a chance de se tornar primeira mulher eleita para um grande cargo no COB?

"É ocupar esse espaço não pelo simples fato de ser mulher. A minha trajetória me trouxe até aqui. Estou muito feliz com a possibilidade de escrever o meu nome no livro da história do esporte do Brasil. Mais do que isso, quero escancarar essa porta para que muitas outras se encorajem e entendam que esse espaço nos cabe. Conto as horas para isso acontecer. Tenho certeza de que outras virão. Daqui a pouco, não contaremos mais quantas mulheres fazem parte da cúpula e dos cargos de liderança. Pelo que sinto e acredito, essa história vai se naturalizar."

Qual é a principal proposta?

La Porta: "O COB tem um investimento muito bom no alto rendimento. Percebemos que esse resultado parou de crescer, e por um simples motivo: o investimento na área de desenvolvimento diminuiu bastante. Hoje, há aporte de 22 empresas, os recursos privados aumentaram o orçamento. Esses recursos precisam ser investidos no desenvolvimento. Nossa proposta é ter um investimento mais assertivo juntos às confederações para o desenvolvimento de atletas e, em paralelo, com uma estrutura de centros de treinamentos. Se investirmos no desenvolvimento, não dará tempo para Los Angeles, mas estamos pensando em Brisbane. Se não começar mos agora, nunca haverá renovação. Queremos potencializar os Jogos da Juventude para revelarmos talentos."

Criar um Centro de Treinamento como o do Comitê Paralímpico é um caminho?

La Porta: "Temos muitas estruturas não aproveitadas. Ao invés de construirmos um novo, temos de aproveitar o que existe. Queremos fazer convênios com as universidades que têm projetos voltados para o esporte, como a UFMG, UFSM e a UnB, para distribuirmos modalidades e que essas estruturas virem os centros de treinamentos de modalidade."

Yane: "Existe a importância de pulverizar os centros pelo Brasil, pois hoje é centralizado no Rio de Janeiro. Para isso, precisamos ter uma análise muito criteriosa e entender que cada região do Brasil tem uma vocação esportiva. É um sonho de consumo o CT do CPB. Por ora, encurtamos o caminho e vamos sonhando para mais para frente. O que temos hoje, com a nossa intenção, canalizando os esforços para esse fim, dará certo."

Vocês são de modalidades não tão divulgadas. As confederações "menores" podem esperar mais atenção?

La Porta: "Não digo nem atenção maior, mas conhecemos muito melhor a realidade delas. Quando você tem uma confederação grande à frente do COB, talvez não passe as agruras que as de menor investimento e visibilidade passam. O COB nunca esteve duas confederações de porte pequeno na presidência, sempre foi atletismo, vôlei e judô. Trazemos uma visão diferente. Cito exemplos do remo, do ciclismo e do tiro esportivo, que talvez precisamos de investimentos diferentes que possam resultar na melhora dessas modalidades. São muitas medalhas em jogo."

La Porta, existe algo que Paulo Wanderley fez que você não faria?

"Sempre descordei muito a respeito da centralização das decisões, sempre muito na figura do presidente, no que ele quer. O que defendemos é uma gestão colegiada. Não dá para ficar tudo só na mão do presidente, tem de haver uma gestão colegiada e trazer os atletas. Esse é um dos motivos da Yane nesta chapa, para termos uma interlocução muito maior entre o COB, Comissão de Atletas e confederações."

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