O gingado do axé baiano, a forte influência do irmão e as 30 tatuagens espalhadas pelo corpo. Convocada para representar o Brasil e o Distrito Federal na Gymnasiade Sub-18, o mundial de desporto escolar, na cidade de Manama, capital do Bahrein, Sarah Souza dos Santos coleciona inspirações para alcançar o sucesso em um enredo tão amado por ela: o do boxe.
Entre esta sexta-feira (25/10) e a próxima quinta-feira (31/10), a atleta de 17 anos vestirá as luvas para lutar por uma medalha na categoria até 57kg do certame Juvenil. Apesar da tranquilidade para falar sobre a oportunidade do próximo desafio, Sarah prospecta com vigor: “quero dar mais condições de vida à minha família”.
Nascida na região de Areal, localizada entre Águas Claras e Taguatinga, a garota possui na família justamente a fonte de maior fortificação. Produto da relação entre uma baiana e um brasiliense, a pugilista elenca o “gingado baiano”, vindo da mãe, como o grande diferencial do estilo de luta. Apesar disso, ela iniciou no esporte graças ao irmão mais velho, Rafael.
Fortemente interessado por diferentes modalidades de luta, ele praticava o MMA em uma academia especializada. Com interesse cada vez maior pelas artes marciais, Sarah topou fazer uma aula experimental e não parou mais. “Durante a pandemia de covid-19, assistia muito à Ronda Rousey, à Sasha Banks e passei a me interessar. Depois de ouvir que eu tinha talento, comecei a treinar”, relembrou.
A fortificação do amor pelo boxe não demorou para acontecer. Eudes José dos Santos, criador e coordenador do Instituto Boxe Mais Vida, e fundador da Federação Brasília Open Boxe (FBOB), e Agnaldo Arruda, medalhista de bronze do Campeonato Brasileiro de Boxe e atleta da Seleção Brasiliense, foram os responsáveis por liderar o caminho da promessa candanga rumo à primeira competição de grande porte, o Campeonato Brasileiro.
Foi aí onde Sarah alcançou a primeira conquista: sagrou-se campeã na Categoria Cadete em até 54kg, em 2022, aos 15 anos. Em 2023 e 2024, também se classificou para o torneio, mas não conseguiu repetir o feito. Curiosamente, acabou eliminada, nas duas oportunidades, por uma mesma adversária baiana. “Os baianos têm um gingado diferenciado. Por causa da minha mãe, eu acredito que esse ‘molejo’ seja algo que esteja no meu sangue. Tento encaixar isso no meu estilo de jogo. Essa rapidez, a forma mais solta, dançante”, explica.
Outro valioso fator para a atleta foi trazido pelo irmão: o amor pela tatuagem. Aspirante a tatuador, Rafael serviu como modelo para a irmã aderir à moda. Hoje, são 30 espalhadas pelo corpo da jovem. São quase dois desenhos para cada ano de vida dela. Entre as representações, estão personagens de desenhos animados, frases marcantes e homenagens a conquistas da ainda breve, mas já vitoriosa carreira.
“Como meu irmão e minha mãe sempre tiveram muitas tatuagens, segui esse caminho. Tatuei minha medalha, quando fui campeã brasileira, e outras coisas importantes para mim, tanto em relação ao boxe quanto sobre espiritualidade, como essa frase ‘o que Jesus faria?’”, conta, enquanto mostra as artes no corpo.
Fã declarada da baiana Vivi Tanque, da carioca Rebeca Lima e da estadunidense Claressa Shields, Sarah sonha em um dia fazer parte da Confederação Brasileira de Boxe (CBBoxe) e poder representar o Brasil em uma edição de Jogos Olímpicos. Ainda assim, o grande desejo permanece no fortalecimento do círculo.
“O boxe me traz uma felicidade imensa. É uma arte de tocar, mas não ser tocada, embora isso não seja possível. Todas as vezes que vou lutar, falo para mim mesma que preciso dar o meu melhor”, salienta Sarah. “É gratificante ver como as crianças na minha rua me enxergam como um modelo. Eu não luto por mim. Luto pela minha família, pela minha equipe, pelo lugar onde nasci. Quando subo no ringue, não subo sozinha. A preparação está boa (para o Gymnasiade). Espero conseguir o resultado que quero lá e, mais importante, mostrar o boxe que o Brasil tem, que Brasília tem”, acrescentou a promessa.
*Estagiário sob a supervisão de Marcos Paulo Lima
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