Era “apenas” uma semifinal de Copa do Brasil entre duas grandes camisas, era dia de Vasco e Atlético em jogo decisivo.
Como habitual, todo o charme de São Januário num gramado de puro suco de Brasil que não sabe valorizar seu grande patrimônio, o futebol. Seguimos sem saber embalar bem nossos presentes.
Tudo bem! Estavam ali duas camisas gigantes. Havia um sonho vascaíno de voltar a uma decisão nacional após 13 anos e um Galo obstinado na personificação de um tal de Givanildo.
Em meados da década de 1940, o cartunista Fernando Pieruccetti, mais conhecido como Mangabeira, criou o Galo para se referir o brio de nunca se dar por vencido do Atlético. A referência para o simbolismo atendia pelo nome de Zé do Monte.
Zé do Monte foi um volante, chamado na época de pivot, que jogava de cabeça erguida, de forma imponente e elegante, mas que rachava a cabeça para o Atlético não capitular. Afinal, o preto e branco eram sua vida. Se não houvesse matéria relevante nos jornais da década de 50, a resposta era básica: coloque uma foto do Zé e busque uma opinião, tá resolvido.
Hulk, um artista
Então! O Galo caracterizado lá atrás por Monte teve após vários craques, quadros de décadas, mas a atualização de uma era se faz necessária. A era Hulk é real, é renascentista. Diante de um jogo de muito empenho, desejo, chuva, gramado ruim, mas de um ambiente de total passionalidade, Givanildo, o tal do Hulk tirou, em uma fração de segundos, uma pintura renascentista da perna esquerda e classificou o Atlético.
Contrariando o estereótipo do homem forte, bobão, sem talento, que só tem vigor, o atacante de 38 anos desfrutou do automatismo do fundamento apurado em treinos particulares e específicos e abriu o leque, beirando os 80 minutos de jogo…
…A pintura foi concebida no “ontem”, mas fora construída ao longo de várias sessões. Uma bola chega, o adversário também, o corpo recebe, se direciona ao objetivo. E com o pincel dos pés, com um traço curvo, valorizando a figura humana, coloca em cores realistas e vivas, com utilização de técnicas de luz e profundidade, a pelota dentro da moldura do goleiro Léo Jardim. Literalmente, valorizando a natureza, a capacidade e a excelência tão difundidas pelos renascentistas.
Até quando?
A grande questão é temporal. Como incluir Giva? O Renascentismo, arte que exalta o racionalismo, o humano e a natureza tem registros nos século XIV, XV e XVI e tinha como expoentes Mica (para os íntimos) ou Michelangelo, Leo da Vinci e Galileu Galileu tem agora um problema. Afinal, como anexar Hulk nessa linha do tempo? Seria o novo Renascimento?
Realmente, isso é um problema sério. De qualquer forma, o problema do atleticano nesse momento é só um: esse pintor, esse tal de Hulk terá muita tela e tempo para pintar? Enfim, tá longe desse sonho acabar?
Saborear, desfrutar e apreciar as telas. O atleticano está vivendo um museu de Louvre a céu aberto, com a melhor companhia, ótima música e sabe muito bem disso. Saborear é preciso.
Era “apenas” mais uma semifinal que tinha chuva, tinta a óleo, uma tela e um tal de Givanildo renascentistamente a retocar.
Galo, som, sol e sal é fundamental
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