Esporte olímpico

Fórum do Esporte seguro reforça compromisso do COB para além dos resultados

Evento organizado nesta terça-feira (3/9) foi pensado para aumentar o engajamento e a conscientização de Confederações, clubes e organizações parceiras sobre violência física e psicológica, assédios, abusos e outros temas

Rio de Janeiro — Lá se vão 23 dias desde o encerramento na Olimpíada de Paris-2024, no Stade de France, e da a segunda participação mais vitoriosa do Brasil em pódios, com 20 — três ouros, sete pratas e 10 bronzes. A atuação do Comitê Olímpico do Brasil (COB) nos bastidores do esporte ajuda a entender esse resultado, como a realização da primeira edição do Fórum Nacional do Esporte Seguro, nesta terça-feira (3/9), na Barra da Tijuca, Zona Oeste da capital Fluminense.

O objetivo do primeiro Fórum Nacional do Esporte Seguro foi aumentar o engajamento e a conscientização das Confederações de esportes nacionais, dos clubes e de organizações parceiras sobre tópicos do tema, como violência física e psicológica, assédio moral, violência de gênero, negligência ou omissão, assédio sexual, abuso sexual, doping e manipulação de competições. Mais de 130 representantes estiveram presentes.

O encontro no Rio de Janeiro foi divido em atos e teve colaborações de palestrantes especialistas no assunto e envolvidos na rotina do esporte olímpico. Com o lema “Prontos para Los Angeles 2028”, o Fórum foi introduzido pela brasiliense Soraya Carvalho, ex-ginasta e líder do Programa Esporte Seguro (PES), com explicação sobre a iniciativa, baseada em quatro pilares: políticas e procedimentos, ações educacionais, canal de denúncia e recepção, acolhimento e remediação.

Constituem os principais objetivos do PES: manter atletas, comitiva, comunidade e organizações seguras; contribuir com a saúde física, mental e social das pessoas; estar consoante à Declaração de Direitos Humanos e diretrizes de governança do COI, COB e Legislação Local; sustentabilidade do esporte para as próximas gerações; evitar danos à reputação, perda de jogadores e torcedores, perda de patrocínio, redução do ganho de medalhas, redução da confiança pública, perda de confiança e depreciação de ativos.

Presidente do COB, Paulo Wanderley abriu o oficialmente o Fórum exaltando o trabalho nos Jogos Olímpicos e de bastidores. “Acabamos de chegar da nossa maior missão, os Jogos. Estamos muito satisfeitos, ficando atrás por uma medalha de Tóquio e à frente do Rio de Janeiro-2016. Mantivemos a média e ascendente, sempre, que é o nosso objetivo”, avaliou.

“Foi uma correria, realmente, e prazerosa. Cheguei ao Brasil e falei: ‘Agora, vou dar uma descansadinha, em Maceió (AL). Eis que, ao chegar no COB, Soraya falou que realizaria o primeiro Fórum do Esporte Seguro e, ainda em setembro, teremos o COB Expo. O Movimento Olímpico é verdadeiramente um movimento. Não tem esse de acabou e vamos dar uma respirada. Essa área do esporte seguro teve um tremendo desenvolvimento, com uma dedicação imensa da Soraya e da equipe do Instituto Olímpico do Brasil”, ressaltou o dirigente.

“Queremos o resultado esportivo, o máximo da performance do atleta, mas ao mesmo tempo temos a compreensão que o atleta é um ser humano e que impactos de violência duram uma vida toda. Por isso, celebro com muito entusiasmo a realização do nosso I Fórum do Esporte Seguro”, completou Paulo Wanderley.

Remotamente, a chefe da unidade de segurança do esporte do Comitê Olímpico Internacional, a neozelandesa Kirsty Burrows detalhou sobre a perspectiva da entidade sobre o assunto, destacou ações e elogiou a maneira como o tema é tratado pelo COB. Em seguida, Mônica Rivera, vice-presidente de Educação e Pesquisa, e Hannah Hinton, vice-presidente de Desenvolvimento Organizacional e Compliance, ambas do U.S. Center for SafeSport, colaboraram com esclarecimentos a respeito das políticas, iniciativas da entidade e citaram casos de abusos no meio esportivo nos Estados Unidos.

Além de dirigentes, o Fórum Nacional do Esporte Seguro teve a contribuição de uma mesa redonda formada por atletas. Medalhista de bronze por equipes da ginástica artística, Jade Barbosa dividiu o palco com a colega e ex-ginasta rítmica Angelica Kvieczynski e Gabriel Campolina, do taekwondo. O trio compartilhou as experiências negativas na vida pessoal e nas carreiras, que poderiam ter sido evitadas se houvesse mais conscientização sobre o tema. Recentemente, Campolina foi vítima de racismo ao ser agredido física e verbalmente em uma estação de metrô em São Caetano do Sul (SP).

Antes do encerramento, puxado pelo diretor-geral do COB e campeão olímpico do judô em Barcelona-1992, Rogério Sampaio, o Havard B. Overgrad, conselheiro sênior do Comitê Olímpico e Paralímpico Norueguês e da Confederação de Esportes da Noruega levou o workshop Salvaguarda Internacional para Crianças no Esporte — Unicef.

Levantamento do COB mostra que 88% das organizações parceiras trabalham com menores de idade. No entanto, pouco mais da metade possui uma política de salvaguarda (47%). Dados indicam que 54% nunca fizeram uma avaliação de risco de salvaguarda, 73% não realizam verificação de antecedentes criminais de colaboradores ou apenas em casos específicos e 66% não monitoram ações de salva guarda.

Entre os principais desafios para melhorar as ações do Esporte Seguro, estão: falta de profissionais qualificados e dedicados ao tema; ausência de uma área específica para o esporte seguro, políticas e procedimentos; inexistência de um departamento de compliance; desafios com a resistência da cultura organizacional e dos gestores; e processo colaborativo moroso.

O compromisso do COB com o tema é reforçado pela obrigatoriedade da conclusão de cursos para atletas e membros de delegação envolvidos nos Jogos Olímpicos Tóquio-2020 e nos próximos grandes compromissos do Time Brasil. Segundo a entidade, mais de 20 mil pessoas participaram das ações sobre os temas de ética, prevenção e enfrentamento da violência, assédio, abuso e racismo.

“Este fórum foi uma oportunidade para fortalecermos laços e definirmos novos caminhos para um esporte seguro no país. O esporte seguro não é apenas um programa, é uma jornada contínua, que culmina no processo de recepção e acolhimento. Esse caminho é difícil, contínuo e necessita de esforços diários. Que as novas ideias discutidas aqui se tornem concretas e beneficiem nossa sociedade”, desejou Rogério Sampaio.

O que é o Programa Esporte Seguro?

O Programa Esporte Seguro (PES) visa tornar o esporte um lugar seguro para todas e todos, contribuir para uma cultura de prevenção, reconhecimento, enfrentamento e adoção de boas práticas no ambiente esportivo, conforme a legislação vigente. A implementação de princípios gerais de segurança, bem como a busca por prover um ambiente seguro, acolhedor e respeitador, é essencial. Para o COB, proteger tanto atletas quanto todos os envolvidos com o esporte deve ser uma missão constante.

A linha do tempo do PES

2018: Lançamento da Política de Prevenção e Enfrentamento à Violência, Assédio e Abuso no Esporte;
2019: Criação do Programa Esporte Seguro e do Canal de Ouvidoria e Ética;
2020: Lançamento do Curso de Prevenção e Enfrentamento ao Abuso e Assédio no Esporte;
2021: Lançamento do Programa Esporte Seguro para Organizações e do Curso Esporte Antirracista: Todo Mundo Sai Ganhando; COB recebe Prêmio Neide Castanha por suas iniciativas na área em relação a crianças e adolescentes;
2022: COB, através das colaboradoras e ex-atletas Soraya Carvalho e Mariany Nonaka, recebe certificação de Safeguarding Officer do Comitê Olímpico Internacional;
2023: Lançamento do Protocolo de Segurança e do Procedimento de Gerenciamento de Casos;
2024: I Fórum Nacional do Esporte Seguro.

*O repórter viajou a convite do Comitê Olímpico do Brasil (COB)

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