O São Paulo é enorme pelo combo títulos de expressão, história, ídolos, torcida e estádio. Mesmo assim, durante a semana, os seguidores do clube apelaram para o metafísico no jogo de volta das quartas de final da Copa Libertadores. Eles tinham consciência que do outro lado havia um Botafogo muito melhor, com um elenco farto de opções. Ou seja, os tricolores trocaram o voto de confiança na própria equipe por fatores sobrenaturais, como a tal mística do Cícero Pompeu de Toledo e as almas penadas da década passada, como sugeriu, aliás, uma colunista da imprensa do 7 a 1.
Na pastelaria ou na padoca, porém, ninguém conseguiu apontar um jogador que poderia fazer a diferença no confronto contra o Botafogo. Nem mesmo Lucas e Calleri, dois ídolos convertidos em vilões. Ninguém conseguiu apontar uma estratégia do técnico Luis Zubeldía para brecar o adversário depois de levar um amasso no Engenho de Dentro.
“Vamos apostar na atmosfera do Morumbis e que Telê Santana, de algum lugar, nos ajude”, decretou o torcedor do São Paulo, horas antes de partir para o local da decisão contra o Botafogo.
O Glorioso poderia utilizar o mesmo argumento. Afinal, três de cinco estrelas da Seleção Brasileira têm a assinatura do Mais Tradicional. Seria de bom-tom, então, para desequilibrar o duelo transcendental, apelar para Didi, Garrincha e Nilton Santos, três pilares do futebol mundial. Mas o torcedor alvinegro não precisou mirar o passado. Bastou rever os lances de Luiz Henrique, Almada e Savarino para, de bate-pronto, rebater o tricolor. Além disso, o Botafogo, até 2023, não costumava conviver em harmonia com o sobrenatural.
“Este time é confiável”, repetiam os alvinegros, em preparação nas caravanas para a Terra da Garoa.
Botafogo e o bordão de Muricy Ramalho
Na guerra de narrativas, o campo provou que os botafoguenses estavam certos. Os cariocas tiveram duas grandes exibições na metade de cada encontro. O São Paulo, por sua vez, em 1/4 da série, foi mais incisivo. Saiu ao ataque com base no coração e conseguiu, quase nos acréscimos, levar a disputa pela semifinal para os pênaltis, onde cairia por 5 a 4. Este roteiro engradeceu o encontro entre alvinegros e tricolores.
Em 2024, o Botafogo, reestruturado, passou por cima de todos os baques aos quais estava associado, inverteu lógicas recentes e encerrou jejuns incômodos. A Estrela Solitária conseguiu somar uma dose de sorte à indiscutível competência no ano. A mentalidade é outra. Desde junho, o time do técnico Artur Jorge portou-se como o grande protagonista do futebol brasileiro. Em agosto, passou a ser observado na América do Sul como um candidato fortíssimo a levar a Libertadores para General Severiano.
“Aqui é trabalho”, costumava repetir o filósofo e ex-técnico Muricy Ramalho, curiosamente, funcionário do São Paulo. Um bordão que resume o Botafogo da era SAF, com seus acertos e deslizes. Não existe mística! Há planejamento, montagem de elenco, comissão técnica eficiente e pés no chão. O Alvinegro está pronto para reencontrar a sua grandeza.
*Esta coluna não reflete, necessariamente, a opinião do Jogada10
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