Racismo

Casos de racismo no futebol brasileiro aumentaram quase 40% em 2023

É o maior número desde que a organização começou a fazer a contagem, em 2014, ano em que o Brasil sediou a Copa do Mundo da Fifa

Ato em solidariedade ao jogador Vini Jr. e contra o racismo, na Embaixada da Espanha em Brasília     -  (crédito: Rafa Neddermeyer/ Agência Brasil)
Ato em solidariedade ao jogador Vini Jr. e contra o racismo, na Embaixada da Espanha em Brasília - (crédito: Rafa Neddermeyer/ Agência Brasil)

Os casos de racismo no futebol brasileiro aumentaram quase 40% em 2023 e tiveram um crescimento quase constante desde que esse tipo de monitoramento começou a ser feito, segundo relatório de uma ONG divulgado nesta quinta-feira (26). 

No ano passado, foram detectados 136 incidentes racistas, 39% a mais que os 98 registrados em 2022, segundo o relatório anual do Observatório da Discriminação Racial no Futebol.

É o maior número desde que a organização começou a fazer a contagem, em 2014, ano em que o Brasil sediou a Copa do Mundo da Fifa.

"Desde 2016, observa-se um avanço anual, à exceção em 2020, em função da pandemia do novo coronavírus. Em relação a 2014, primeiro ano do monitoramento realizado pelo Observatório, os incidentes aumentaram em 444% (de 25 para 136)", indica o documento.

Os autores garantiram que o aumento de casos se deve ao fato de atualmente serem apresentadas mais queixas por atos discriminatórios, porque há uma diminuição "importante, embora ainda insuficiente" da tolerância a estes atos.

Mas reconheceram a possibilidade de subnotificação no estudo, realizado a partir do monitoramento de publicações na mídia local e internacional.

"Esses dados me entristecem, sei bem dessa realidade, convivo com preconceito desde criança e a todo momento, todo o dia", disse o presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), Ednaldo Rodrigues, durante a apresentação do relatório nesta quinta-feira no Rio de Janeiro.

"Mas vejo também muitos avanços e procuro ser sempre otimista. Se a gente tem mais denúncias, é porque também a sociedade brasileira está mais atenta ao que é racismo e as suas diversas formas de expressão", acrescentou Rodrigues, o primeiro presidente negro da CBF.

Vinicius Jr., alvo constante

A entidade máxima do futebol e o Grupo de Estudos sobre Esporte e Discriminação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul colaboraram na elaboração do documento.

O relatório também registrou 250 discriminações raciais, de gênero, sexuais e xenofóbicas contra diversos tipos de atletas brasileiros, que atuam dentro e fora do Brasil, em 2023.

A maioria dos incidentes (222), no entanto, ocorreu no futebol, sendo os jogadores as principais vítimas, seguidos pelos torcedores e árbitros.

Os estádios e as redes sociais são os principais espaços de agressão, segundo o estudo. Torcedores, outros jogadores e dirigentes costumam ser apontados como os maiores responsáveis.

"Muitos" dos 26 casos de racismo no futebol detectados fora do Brasil tiveram como alvo Vinicius Jr., atacante do Real Madrid e da Seleção, explicou Marcelo Carvalho, diretor executivo do Observatório de Discriminação Racial no Futebol.

Um torcedor do espanhol Mallorca foi condenado nesta quinta-feira a doze meses de prisão e a três anos de proibição de entrar num estádio por injúria racial contra 'Vini'.

A CBF aumentou as penas para atos discriminatórios no futebol, com sanções que vão desde multas até a possibilidade de os times perderem pontos.

O preconceito racial é crime no Brasil, onde 56% dos mais de 200 milhões de habitantes se identificam como afrodescendentes ou pardos.

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postado em 26/09/2024 19:20
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