Torre de TV de Brasília, 10 de setembro de 2024. É fim de tarde, quando Hana Tavares se senta sobre um banco, tira os patins de uma mala e aperta bem rolamentos e rodinhas. Trabalho artesanal e cauteloso para tratar bem os equipamentos, avaliados em aproximadamente R$ 8 mil, enquanto espera as amigas Gabriele Araújo, Luana Fontana e Letícia Fonseca para muito mais do que uma volta. É dia de mais um ensaio importante. Foi-se o tempo em que patinação era brincadeira. A coisa ficou séria com a responsabilidade de representar a cidade em competições da modalidade artística. E o quarteto fantástico conta as horas para iniciar a missão mais nobre das carreiras: competir no World Skate Games, o Mundial, na Itália.
Gabriele, 23 anos, Hanna, 17, Luana, 19, e Letícia, 20, embarcam para a Europa nesta terça-feira (16/9), quatro dias antes de competirem na categoria sênior. É o capítulo mais especial das carreiras. Afinal, no primeiro ano como quarteto, desfilarão na casa de uma das potências da patinação. No entanto, as patinadoras da escola Impulse não se intimidam. Credenciaram-se com um título brasiliense e dois nacionais, sob a batuta do treinador Alexandre Simas e da coordenadora-técnica Bruna Santos.
As brasilienses levarão uma reflexão sobre até que ponto você iria para realizar um sonho. “Somos todas violinistas, o nome do nosso quarteto é The First Chair. Tratamos basicamente de um lugar de ascensão em uma orquestra, na qual há uma principal e todas estamos lutando por esse posto. Levamos os arcos do violino, com tinta, começamos a nos cortar durante a coreografia, simbolizando coisas ruins que temos de passar, lesões, problemas psicológicos e todos os esforços”, explica Hanna.
Os treinos são realizados aos pés da Torre de TV, devido ao espaço disponível para repassar a coreografia completa. O espaço de atividades delas, na Associação Atlética Banco do Brasil, é bem menor em relação ao ginásio que encontrarão no Mundial. Quando ensaiam lá, precisam fracionar a apresentação.
Elas apostam no entrosamento fora do esporte para fazer bonito. “Antes de formarmos o quarteto, éramos muito amigas, viajávamos juntas, comemorávamos aniversários, cinema, restaurante”, compartilha Letícia. “Isso facilita a união e a conexão. O fato de nos conhecermos e sermos amigas ajuda muito a harmonia. Puxamos uma a outra quando alguma não está em um dia bom. Isso faz a diferença”, emenda Gabriele.
Competir, e não apenas participar, é a meta traçada. “Estamos muito felizes de representar o Brasil em um campeonato tão importante. Nosso maior objetivo é estar entre os melhores”, projeta Luana. Embora estejam motivadas, as patinadoras do DF convivem diariamente com o obstáculo de se dedicarem a uma modalidade não olímpica. A patinação artística não faz parte dos Jogos de Verão, pois é considerada variação da disputa no gelo.
“É preciso amar muito e ter muita disciplina, foco e vontade. Temos muitas dificuldades com patrocínios. Tem muita gente que nem sabe que a patinação artística existe no Brasil. Hoje, está sendo muito mais divulgada e tem melhorado”, comenta Gabriele. “Sempre que falamos que somos patinadoras, perguntam se é no gelo”, completa Letícia.
A patinação no gelo tem mais visibilidade, mas será que é mais difícil? “Os nossos patins são mais pesados. Eles têm a lâmina. Nós temos a base e as rodas”, analisa Letícia. O técnico Alexandre concorda. “Temos mais atritos, necessita de um pouco mais de esforço para ganhar velocidade. O equipamento do gelo é mais leve, consegue-se saltar mais alto e fazer movimentos com mais suavidade.”
As patinadoras tiveram as passagens financiadas pelo programa Compete Brasília, do GDF, mas levantam recursos, por meio de uma vaquinha on-line, para outras despesas. Além do quarteto, a equipe conta com uma atleta reserva, Júlia Fontana, irmã de Luana.
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