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Futebol americano à brasileira: fãs vibram com dia de NFL em São Paulo

Público se emociona em dia marcante com a primeira partida da história da NFL no Brasil; partida entre Eagles e Packers em São Paulo reuniu fãs da modalidade e deixou gosto de quero mais

Torcedores do Green Bay Packer durante o jogo da NFL na Neo Química Arena, em São Paulo: evento reuniu 47.236 pessoas na capital paulista -  (crédito: Arthur Ribeiro/CB/DA Press)
Torcedores do Green Bay Packer durante o jogo da NFL na Neo Química Arena, em São Paulo: evento reuniu 47.236 pessoas na capital paulista - (crédito: Arthur Ribeiro/CB/DA Press)

São Paulo — A multidão de pessoas vestindo camisas coloridas com números na frente, atrás e nos ombros deixava quase impossível confundir a maré de apaixonados por futebol americano que visitou a capital paulista para prestigiar a história sendo feita. O primeiro jogo da NFL no Brasil, na sexta-feira, terminou com vitória do Philadelphia Eagles por 34 x 29 contra o Green Bay Packers, na Neo Química Arena, em São Paulo, e deixou o torcedor com o sentimento de dever cumprido em passar o recado: o brasileiro também ama o esporte da bola oval.

O estádio em Itaquera recebeu mais de 47 mil fanáticos, divididos entre os gritos de "fly, Eagles, fly" e "go, Pack, go". As arquibancadas foram um show à parte, com Hino Nacional cantado a plenos pulmões, assim como fizeram quando o sistema de som tocou a música Evidências e na hora de aplaudir as medalhistas olímpicas Rebeca Andrade, Beatriz Souza, Duda Lisboa e Rayssa Leal. Do outro lado da cidade, o Parque Villa-Lobos, em Pinheiros, recebeu mais fãs no NFL Experience, evento gratuito organizado pela liga com atividades, exposições e telão. Foi a festa do futebol americano em solo verde-amarelo.

"Brasil, obrigado. Que atmosfera inacreditável para um jogo de futebol americano. Eu sei que convertemos algumas pessoas a serem grandes fãs agora. Só penso nessa partida, foi ótimo. Era barulhento quando os dois times estavam na defesa, por causa da paixão dos torcedores. Não tenho palavras para o que vivemos aqui", agradeceu Nick Sirianni, técnico do Eagles.

Vitor e Cecília, os brasilienses presentes no jogo da NFL em São Paulo
Vitor e Cecília saíram de Brasília para ver jogo na Neo Química Arena (foto: Arthur Ribeiro/CB/D.A. Press)

O casal Vitor Hugo Ribeiro e Cecília Cipriano (foto acima), ambos de 25 anos, foi um dos representantes do Distrito Federal no momento histórico. Apaixonado pelo futebol americano desde 2014, quando viu pela televisão o Seattle Seahawks vencer o Super Bowl, o dentista incentivou a gestora de políticas públicas a acompanhar o esporte durante a pandemia e, agora, puderam ver um jogo ao vivo pela primeira vez.

"A experiência é sensacional. Tinha muito estrangeiro, todos felizes, e conseguimos fazer algo do nosso jeito, sem manter o padrão estadunidense. Foi Brasil e deu tudo certo", contou Vitor. "Me deu vontade de chorar. Até comentamos que Brasília tem toda a estrutura para receber um evento desses. Foi excelente. Já fico ansiosa para os próximos, porque temos tudo para ter jogos sempre. Aqui é mais legal que Inglaterra e Alemanha. O brasileiro arrasa, fizemos uma festa muito massa", complementou Cecília.

O público da casa também não ficou de fora. Paulista de Higienópolis, Rogério Vieira juntou dinheiro desde o anúncio para conseguir ir à partida e ficou ainda mais feliz quando o time escolhido foi o Packers, para quem torce desde a adolescência. O advogado de 34 anos afirmou ter realizado um sonho em dobro: ver a liga em ação no país e ter o Green Bay envolvido.

Até quem estava acompanhando de casa se sentiu parte do momento marcante da primeira partida da NFL no Brasil. Sem conseguir ir a São Paulo em razão do preço dos ingressos, Vinícius Dantas, de 21 anos, fez a festa em casa com os amigos para assistir à partida de Brasília. "Não deu para estar lá pessoalmente, mas estava em espírito. Somos todos parte disso. Todos que amamos esse esporte. Isso é por nós", comemorou o estudante. As entradas, inclusive, não escaparam do problema dos cambistas. Horas antes do jogo, os vendedores ofereciam lugares por cifras na casa de R$ 2 mil.

Sem fronteiras

Job Antonio "el Coronel" e Mariana, os mexicanos presentes no jogo da NFL em São Paulo
Job Antonio "el Coronel" e Mariana saíram de mais longe: do México (foto: Arthur Ribeiro/CB/D.A. Press)

Nem mesmo a distância continental de São Paulo para Filadélfia e Green Bay, cidades dos Eagles e dos Packers, foi capaz de criar fronteiras na paixão. Até gente de outros países quis aproveitar a festa. Fanático pelo Pittsburgh Steelers e por futebol americano, o mexicano Job Antonio "el Coronel" Meneses, de 54 anos, traz a paixão consigo desde a infância, quando começou a assistir a NFL junto com a mãe. Ele praticou a modalidade por dez anos em ligas menores e, atualmente, é treinador e árbitro certificado. Por isso, não quis deixar de lado a oportunidade e veio ao Brasil com a esposa, Mariana Escoto (foto acima).

"Tentamos seguir os jogos no exterior. Nos interessa muito. Já vimos no México e, agora, no Brasil. É difícil para os mexicanos entrarem nos Estados Unidos. Então, é mais fácil para nós quando é na América Latina. Ser aqui foi ainda melhor, porque estamos aproveitando para comemorar nossa lua de mel e de brinde veio a partida. Agora, o plano é ver os Steelers em Pittsburgh", compartilhou.

Mel Jay e Justin Johnson, os estadunidenses presentes no jogo da NFL em São Paulo
Mel Jay e Justin Johnson: americanos curtiram experiência no Brasil (foto: Arthur Ribeiro/CB/D.A. Press)

Mesmo quem está acostumado a ver a NFL de perto visitou São Paulo para sentir a atmosfera brasileira. Um "die hard" do Eagles, que seria conhecido como fanático no Brasil, Justin Johnson (foto acima), 34, deixou Maryland junto da nova-iorquina Mel Jay, 33, para conhecer a exposição da liga no Parque Villa-Lobos antes de ir para Itaquera. Na sessão com todos os anéis de campeão da história do Super Bowl, o estadunidanse quis fazer a previsão.

"Estou com meu time para onde ele for. Quero que ganhem (dos Packers), mas é sempre bom ver algo novo. Então, torço por um bom jogo e que vocês (brasileiros) entendam porque amamos isso. Que seja o começo de uma temporada que termine com Philly no topo", desejou, antes da partida.

O sentimento de cativar ainda mais o público brasileiro foi replicado entre os jogadores envolvidos na partida. "Tenho muita gratidão no coração em poder chegar tão longe na minha jornada pessoal, jogar fora do país, jogar futebol americano na América do Sul. É surreal. Espero que tenham gostado e tomara que possamos fazer isso de novo", celebrou Jalen Hurts, QB do Eagles.

Na mistura de brasiliense, com paulista, mexicano, estadunidense e muita festa em São Paulo, a missão de dar um toque brasileiro ao futebol americano deu certo. O recado do público é uníssono: volta logo, NFL.

Jake Elliott, atleta do Philadelphia Eagles
Camisa quatro comparou o estilo de chute da modalidade com o futebol (foto: Divulgação/NFL)

Dificuldade do field goal

Lance do futebol americano que mais parece com futebol tradicional, os chutes ao field goal são feitos pelos chamados kickers. Os atletas da posição têm a função de colocar a bola em jogo após o apito inicial ou depois de pontuações do time. Ele próprio pode ser responsável por somar pontos, três se acertar um field goal ou um se converter a tentativa do extra point depois do touchdown. Para isso, basta acertar o meio entre as duas traves. O resumo pode fazer parecer fácil para os boleiros, mas não é bem assim.

"O estilo de chute é muito diferente. No de vocês, geralmente é para conduzir a bola. No nosso, ele precisa ganhar altura rápido. Tivemos a sorte de ver alguns times europeus treinando no nosso CT na Philadelphia e pude acompanhar esses jogadores, tentar traduzir as habilidades deles. É divertido de assistir. Todos são super talentosos, mas eles, definitivamente, iriam ter dificuldade para conseguir fazer a bola subir. Diferença no contato, tamanho da bola. O movimento é parecido, mas existem muitas diferenças", explicou Jake Elliott, kicker do Eagles.

O dilema divide opiniões, mas para um brasileiro que ama NFL, a resposta estava na ponta da língua. "Fazer um gol de falta no estádio lotado não deve ser fácil, mas acho que chutar um field goal é mais difícil, porque são onze brucutus correndo atrás de você para tirar a bola", opinou Eduardo Castro, candango de Sobradinho, que acertou uma tentativa de field goal na NFL Experience, em São Paulo.

*Estagiário sob a supervisão de Danilo Queiroz

 

  • Vitor e Cecília saíram de Brasília para ver jogo na Neo Química Arena
    Vitor e Cecília saíram de Brasília para ver jogo na Neo Química Arena Foto: Arthur Ribeiro/CB/D.A. Press
  • Job Antonio
    Job Antonio "el Coronel" e Mariana saíram de mais longe: do México Foto: Arthur Ribeiro/CB/D.A. Press
  • Mel Jay e Justin Johnson: americanos curtiram experiência no Brasil
    Mel Jay e Justin Johnson: americanos curtiram experiência no Brasil Foto: Arthur Ribeiro/CB/D.A. Press
  • Camisa quatro comparou o estilo de chute da modalidade com o futebol
    Camisa quatro comparou o estilo de chute da modalidade com o futebol Foto: Divulgação/NFL
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postado em 08/09/2024 06:43
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