Mil e oitenta e nove dias depois do encerramento esvaziado na edição de Tóquio-2020, devido à pandemia de covid-19, os Jogos Paralímpicos foram devolvidos ao povo com uma cerimônia de abertura na rua. Ou melhor, no coração de Paris, com desfile das delegações entre a charmosa avenida Champs-Élysées e a histórica Place La Concorde, berço da Revolução Francesa. A história sangrenta da praça foi substituída pela alegria e pelo calor humano no desfile dos mais de 4 mil atletas envolvidos na versão mais inovadora do megaevento, organizado desde Roma-1960.
Assim como na inauguração dos Jogos Olímpicos, o início da Paralimpíada também foi decretado pela primeira vez fora de um estádio. Para isso, foram necessários 3 mil metros quadrados de palco, 60 dias de ensaios, estrutura para receber mais de 50 mil espectadores e profissionais credenciados, além de 168 delegações, com 5.100 personagens, entre atletas e apoio.
O tema da abertura da primeira Paralimpíada em Paris — a cidade recebeu edições de 1900, 1924 e 2024 da Olimpíada — foi Paradoxo, da Discórdia à Concórdia. O objetivo das apresentações era passar uma mensagem duradoura, direcionar todos os holofotes aos atletas de uma forma inédita e fazer refletir sobre o lugar das pessoas com deficiência na sociedade.
O Paradoxo ao qual o diretor artístico Thomas Jolly se referiu nas exibições foi sobre uma sociedade que se afirma como inclusiva, mas continua repleta de preconceitos com pessoas com deficiência, que representam 15% da população mundial, segundo a Organização das Nações Unidas (ONU).
Responsável pela coreografia, o sueco Alexander Ekman retratou dois grupos que se mudam da Discord para a Concord, usando a criatividade da dança e do esporte para diminuir a distância entre eles, redescobrindo-se e trabalhando juntos para uma comunidade mais inclusiva e pacífica. A apresentação contou com 140 bailarinos, 16 com deficiência.
Presidente da França, Emmanuel Macron acredita que a versão 2024 da Paralimpíada deixará um legado. "Todos os eventos paralímpicos serão realizados na encruzilhada da tradição e da modernidade, nos locais mais icônicos da França, proporcionando aos atletas paralímpicos locais que estão no mesmo nível das realizações pessoais. A cerimônia de abertura é mais do que apenas um espetáculo, é também um símbolo. Ela representa a intenção de Paris-2024 de fazer com que os Jogos Paralímpicos entrem em um novo capítulo de uma mesma aventura olímpica, a da inclusão e de superar os próprios limites. A competição também será tão dura e desenfreada quanto o que vimos no mês passado", ressaltou.
"Esforço e coragem fazem dos atletas paralímpicos fontes de inspiração para a sociedade inclusiva que desejamos construir. Esses Jogos, que celebrarão todos os talentos da humanidade, são um hino a um mundo mais inclusivo, em linha com nossos valores franceses de universalidade e audácia. Que os Jogos comecem!", completou Macron.
Antes de acender a pira no Jardim das Tulherias, a tocha passou nas mãos de 12 campeões paralímpicos, seis homens e seis mulheres. Os responsáveis por acendê-la foram três homens e duas mulheres: Charles-Antoine Kouakou, Nantenin Keita, Fabien Lamirault, Alexis Hanquinquant e Elodie Lorandi.
"Ao realizar este evento na Place de La Concorde e Champs-Élysées, sinto que Paris está calorosamente abraçando o Movimento Paralímpico no coração desta cidade e no núcleo deste país. A apresentação desta noite foi o começo perfeito para o que serão os Jogos Paralímpicos mais espetaculares da história", transmitiu Andrew Parsons, presidente Comitê Paralímpico Internacional (IPC).
O Brasil foi a 21ª delegação a desfilar. Os porta-bandeiras da delegação de 280 atletas, a maior verde-amarela para uma disputa fora do país e a segunda mais robusta dos Jogos, atrás somente da China (282), foram Gabrielzinho, três vezes medalhista olímpico da categoria S2 natação (limitações físico-motoras), e Beth Gomes, recordista mundial do lançamento de disco. A turma brasileira foi uma das mais animadas, com danças e muita descontração.
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A missão do Brasil é fechar os Jogos pela primeira vez entre os cinco principais países do quadro de medalhas. A expectativa do Comitê (CPB) é quebrar os recordes de 72 medalhas e 22 ouros e a sétima colocação, obtidos em Tóquio.
Hoje, o país pode conquistar 14 medalhas. A maior chance vem da natação, com 12 atletas em ação, incluindo Gabrielzinho, nos 100m costas. Carol Santiago (categoria S12, para baixa visão), dona de cinco medalhas em Tóquio-2020, entrará na piscina para os 100m borboleta. O ciclista Carlos Alberto Soares e a gaúcha do taekwondo, Maria Eduardar Stumpf, podem brindar o país com pódios.