A bagagem com quatro participações em Paralimpíadas e dois bronzes, ambos na Rio-2016, são credenciais de sobra para classificar Sérgio Oliva, de 42 anos. Rumo à quinta edição do megaevento na carreira, o cavaleiro experiente é o maior medalhista brasileiro no hipismo, porém quer mais. Em parceria com o cavalo Millenium, ele mira ainda mais alto em Paris: o topo do pódio. O veterano é o protagonista do décimo e último capítulo da série Équipe Brasília, série especial do Correio sobre os personagens da cidade nos Jogos da capital francesa.
Nascido com paralisia cerebral triplegia, que causa perda das funções motoras em três membros, Sérgio conheceu o hipismo aos 7 anos de idade, mas como forma de terapia e não permaneceu por muito tempo. Aos 13, tropeçou na saída de casa e caiu na vidraça da portaria, se cortando com os estilhaços. O acidente lesionou os nervos próximos das axilas e o fizeram perder os movimentos do braço direito também.
O retorno ao hipismo e o começo no esporte de alto rendimento aconteceu somente na maioridade, aos 20 anos, em 2002. De volta ao Brasil após um período de intercâmbio no exterior, ele tinha como vizinho o vice-presidente de uma hípica, cuja namorada sugeriu a Sérgio fazer uma aula inicial. Após montar o cavalo, o brasiliense, incentivado pela treinadora e com suporte da mãe, se empolgou e mirou alto na classe
grau I, para atletas com comprometimento severo nos quatro membros.
"Quando vi que era um esporte interessante, pensei na possibilidade de ir para a Paralimpíada e comecei a me dedicar com afinco até chegar nos Jogos pela primeira vez", conta ao Correio.
O sonho virou realidade em Pequim-2008, quando estreou no principal torneio do mundo, mas antes disso o brasiliense somou conquistas mundo afora. A primeira foi o ouro no Parapan de Mar del Plata-2003, e depois no mundial da Inglaterra de 2007. O ápice veio mais de uma década depois, na terceira Paralimpíada da carreira, e tinha que ser no país natal: dois bronzes nos Jogos do Rio-2016, no individual e no estilo livre. Hoje, ele é dono do posto de campeão brasileiro de hipismo.
O desempenho o sacramentou como brasileiro com mais medalhas na modalidade, ao lado de Marcos Fernandes Alves, o Joca, e a meta é aumentar o número de conquistas, agora na quinta participação nos Jogos. "Estou muito esperançoso e confiante. Foi um ano de muito treino, dedicação e campeonatos. Minha expectativa é de fazer uma boa apresentação com o Millennium, que está ótimo, e conseguir minha melhor performance em Paralimpíadas. Vou em busca do pódio", projeta.
O cavalo montado, inclusive, é usado apenas em competições disputadas no exterior. Para torneios no Brasil, o escolhido é o SL Sabacord, e Sérgio afirma ter tranquilidade para migrar entre os parceiros de prova. "Ambos são bons cavalos, ótimos para competições. Claro que possuem características distintas, mas sou um atleta experiente e, junto dos treinadores, consigo me adaptar bem às diferenças", explica.
Rotina dividida
Longe dos centros hípicos, o brasiliense troca o uniforme de cavaleiro pelos ternos. Formado em direito e servidor do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios (TJDFT) desde 2003, Sérgio aprendeu a lidar com a vida dupla, que foi fundamental para ajudar a se manter no esporte, considerado de alto custo. Além do salário, ele também recebe investimento do programa Bolsa Atleta.
"É relativamente tranquilo para conciliar. Claro que exige muita disciplina, como se espera de um atleta de alta performance. Pela manhã, me dedico ao esporte, com fisioterapia após o treino e academia nos intervalos, e de tarde foco no meu trabalho no TJDFT. Consigo equilibrar ambas as atividades e não possuo uma favorita. Afinal, o hipismo é a realização de um sonho, mas amo meu trabalho e é a minha realidade", compartilha.
Mesmo longe de Brasília, o candango também vai se sentir confortável em Paris. Nas mais de duas décadas de carreira, ele passou mais da metade em treinamentos na região e diz considerar a França como a segunda casa no esporte. Até por isso, ele conta com o apoio do público francês, mas o principal é que vem da cidade natal.
"É um orgulho ser do Distrito Federal e uma honra poder representar meu país em uma Paralimpíada, ainda mais por ser a quinta vez. Realizo um sonho. Conto muito com o incentivo dos meus amigos, familiares e da melhor torcida do mundo: a brasileira. Peço a todos que me mandem essa energia maravilhosa que só o brasileiro tem", pede.
É com o público do Brasil inteiro acompanhando que Sérgio quer estrear nos Jogos Paralímpicos de 2024, na próxima terça-feira, às 8h45. Ele e o cavalo Millenium vão juntos na prova de adestramento individual da classe grau I. Depois, retornam em 7 de setembro, às 7h39, para o adestramento freestyle.
*Estagiário sob supervisão de Marcos Paulo Lima