PARALIMPÍADAS PARIS-2024

Jéssica Vitorino entrou no golbol 'por acaso' e hoje é pilar da Seleção

História da moradora do Paranoá começou com convite para completar time em Jogos Escolares, em 2009. Quinze anos depois, ela sonha com o pódio na Paralimpíada de Paris

Referência no esporte paralímpico, o Brasil busca se estabilizar também como potência do golbol, uma das duas modalidades exclusivas do programa e não adaptadas. Para consolidar o objetivo, o foco é claro: subir no pódio com as mulheres. O sonho passa muito pelos gols e defesas da brasiliense Jéssica Vitorino, destaque da Seleção. Moradora do Paranoá, a atleta de 31 anos é a protagonista do nono capítulo da série Équipe Brasília, especial do Correio sobre os personagens da capital nos Jogos de Paris-2024.

Antes de se tornar destaque do Brasil na modalidade, as primeiras interações de Jéssica com o esporte foram por acaso. Nascida com baixa visão devido a uma catarata hereditária, ela não tinha tanto contato com o paradesporto. Mas, em 2009, Brasília receberia as Paralimpíadas Escolares e faltavam atletas para representar o DF na competição. A três meses do início do torneio, vagas foram oferecidas para testes da natação ou do golbol, o escolhido pela jovem. "Eu me animei e fui conhecer. Já tinham duas meninas treinando, então fomos nós três para o escolar. Ganhamos o bronze e me animei muito. Foi a primeira vez que pude entrar em uma competição, é legal participar e ganhar uma medalha", relembra, em entrevista ao Correio.

Apesar da empolgação, Jéssica parou de treinar e voltou no ano seguinte. Participando de atividades com a equipe principal da Associação de Centro de Treinamento de Educação Física Especial (Cetefe), foi para o regional Centro-Norte, desfilou novamente nos Jogos Escolares e faturou o vice-campeonato. Apaixonada, pelo golbol, a brasiliense começou a mirar mais alto e imaginava o dia em que representaria o Brasil na modalidade.

"As meninas da Seleção foram para o Parapan de Guadalajara, em 2011, e eu tentei ter contato com elas. Foi uma experiência muito boa, lembro que, na época, a gente só sabia dos resultados pelo Twitter (atual X), porque a Confederação publicava como foi. Elas foram prata e achei aquilo tão legal que comecei a sonhar em querer ir", compartilha.

O sonho se tornou realidade em 2013, quando foi convocada pela primeira vez para a equipe jovem do Brasil. Porém, prestes a completar 20 anos, não poderia participar do Mundial e jogou apenas duas fases. A nova oportunidade surgiu em 2015, quando, inclusive, jogou o Parapan de Toronto-2015 e foi medalhista de ouro. As conquistas viraram frequentes depois disso, com mais um título e um bronze em Parapan-Americanos (Lima-2019 e Santiago-2023), terceiro lugar no mundial (Malmo-2018), nos Jogos da IBSA (2023) e primeiro lugar no Campeonato das Américas de 2022. Para completar o currículo, falta apenas subir ao pódio nas Paralimpíadas.

Fora do time nos Jogos do Rio-2016, Jéssica esteve na Seleção que terminou em quarto lugar em Tóquio-2020 e prevê um cenário diferente para Paris, conquistando a primeira medalha do golbol feminino brasileiro. "Estamos com uma grande possibilidade de estar no pódio. Hoje, o Brasil é a quarta força no ranking, mas os Estados Unidos, que estão em segundo, não vão para os Jogos. Somos uma das favoritas, entendemos que temos grandes chances. Nosso grupo é forte, mas estamos preparadas. Tenho certeza que dessa vez será diferente", projeta.

A vaga para o megaevento em solo francês, no entanto, foi quase uma surpresa. O golbol reduziu o número de países participantes de 10 para oito e o Brasil ficou de fora. Tudo mudou quando a competição do continente africano não teve o número mínimo de equipes e liberou uma vaga para a Seleção.

Reprodução/Instagram/@jessica_viitorino - Jéssica Vitorino exibe com orgulho a medalha de bronze conquistada no Parapan de Santiago-2023

Especialidade da casa

O golbol é o esporte mais brasiliense da delegação do Brasil em Paris, a maior da história para um torneio fora do país, com 280 atletas. Além de Jéssica, o time feminino conta com Ana Gabriely, que nasceu na capital e se mudou ainda jovem para o Rio de Janeiro, e Katia Aparecida. Entre os homens, André Dantas tem o DNA de Brasília, assim como Leomon Moreno, amigo de longa data de Jéssica.

"Estudamos juntos quando crianças, mas nós nos conhecemos desde a barriga, porque nossas mães estiveram grávidas quase ao mesmo tempo. Fomos juntos para os Jogos Escolares, treinamos no mesmo clube e agora juntos novamente em Paris. Tomara que nós dois possamos sair daqui com medalha no peito", torce.

Jéssica tem outro sonho: ser professora. Formada em pedagogia, vive do esporte, mas tenta conciliar a rotina com os estudos para passar no concurso da Secretaria de Educação do DF. "Tentei outras vezes, mas a correria de ser atleta dificulta. Hoje, aos 31 anos, estou me dedicando para passar, esse é meu maior objetivo. Também quero fazer pós-graduação para me especializar", conta. A torcida por Jéssica começa nesta quinta-feira (29/8), às 5h30, contra a Turquia. O Brasil está na chave ao lado das turcas, de Israel e da China.

*Estagiário sob a supervisão de Victor Parrini 

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