Paralimpíadas Paris-2024

Seleção de futebol de cegos treina junto há oito meses para manter hegemonia

Em cinco edições da modalidade no programa dos Jogos Paralímpicos, Brasil ainda não perdeu um jogo sequer e aposta no planejamento da seleção permanente para manter domínio em busca do sexto ouro consecutivo

O futebol de cegos, ou de cinco, estreou no programa dos Jogos Paralímpicos na edição de Atenas-2004 e, até hoje, o Brasil ainda não sabe o que é perder na modalidade. São 21 vitórias e seis empates em 27 confrontos, resultando em cinco ouros para a Seleção Brasileira — dois deles em cima da rival Argentina (2004 e 2020). Se depender do tempo de preparação da equipe antes de chegar a Paris-2024, a promessa é de manutenção da invencibilidade pela conquista do hexacampeonato.

Se a falta de oportunidades para treinar é um problema recorrente para os técnicos, o time verde-amarelo não sofreu com isso. Os atletas estão reunidos desde janeiro em João Pessoa, com atividades em dois períodos de segunda a sábado no Instituto de Cegos da Paraíba Adalgisa Cunha. O foco da preparação de oito meses com todos os jogadores em regime de concentração é para tentar manter a diferença de nível em relação aos adversários.

"Hoje, cada vez mais, as outras equipes estão se aproximando de nós. Por mais que a gente treine, o nível está tão alto que acabam sendo os pequenos detalhes que definem resultados. Por isso, colocaram esse tempo disponível para que a Seleção de futebol de cegos continue a evoluir. É o tempo de bola, o entrosamento, uma lapidação técnica e tática muito mais aguçada, com tempo suficiente para trabalhar cada elemento. Acredito que foi uma decisão acertada e, se Deus quiser, o resultado virá dentro de cada jogo", explica ao Correio o fixo Cássio Lopes dos Reis.

A escolha da sede foi motivada por 15 atletas convocados morarem em João Pessoa, assim como a maioria da comissão técnica. No local, com a ajuda do Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB), o grupo executa a ideia de seleção permanente, que permite maior preparo antes das competições. "Eu me lembro bem quando comecei a jogar, estive no Mundial de 2006. Recebi a convocação, treinamos 15 dias e fomos para a competição. O Brasil evoluiu, passamos a ter as semanas de treinamento. Mas a seleção permanente vai ser algo fundamental para chegarmos no melhor da nossa forma e, assim, alcançarmos o nosso objetivo, que é conquistar os Jogos de Paris", projetou ao CPB o ala Jefinho, tetracampeão paralímpico.

Domínio

Não é fácil ser considerado imbatível em uma modalidade. Ainda assim, os números não escondem. O Brasil entrou em quadra em 27 partidas ao longo das cinco edições com futebol de cegos no programa paralímpico. Além da invencibilidade, são 57 gols marcados e apenas seis sofridos, dos quais metade vieram na final. "O diferencial é o nível de qualidade técnica que a maioria dos atletas brasileiros tem e o conjunto que essa qualidade consegue trazer por meio de um grande trabalho técnico, tático e físico", define Cássio.

A equipe canarinha precisa lidar com a pressão de manter a invencibilidade paralímpica que dura 20 anos, mas o pensamento é que os adversários também lidam com esse peso pelo tamanho do megaevento. "A responsabilidade é gigantesca, como em qualquer outra competição que o Brasil entre. Mas, nos Jogos, a visibilidade chega ao ápice, com total destaque, então esse peso de ser acompanhado e aproveitar esse momento é muito mais vivenciado por todos. A gente tem a real certeza de que é a vitrine do futebol de cegos. É a maior competição e a a gente tem de fazer, de fato, um trabalho com excelência para o resultado ser o melhor possível", comenta o atleta.

Na contagem regressiva para Paris-2024, a Seleção conta os dias para a estreia, em 1º de setembro, contra a Turquia. Os países estão no grupo A, ao lado de França e China. Os dois melhores colocados avançam para a semifinal e, depois, a decisão, no dia 7.

"Confiamos muito no trabalho que vem sendo realizado, com cada atleta, no coletivo e na comissão técnica. Todos os jogadores estando no melhor possível, sabemos que o resultado também será o melhor possível", completa Cássio.

Brasil no futebol de cegos em Paralimpíadas

27 jogos

21 vitórias

0 derrota

57 gols marcados

6 gols sofridos

5 medalhas de ouro

*Estagiário sob a supervisão de Fernando Brito

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