Surfe

Tati Weston-Webb quer inspirar meninas no surfe: 'Estamos dominando'

A medalhista de prata em Paris-2024 diz ao Correio que espera inspirar meninas à prática do surfe e se posiciona sobre a possibilidade de piscina com ondas em LA-2028

Os Jogos Olímpicos de Atlanta começavam, em 19 de julho de 1996, quando o surfista britânico Douglas Weston-Webb e a bodyboarder brasileira Tanira Guimarães decidiram mudar-se de Porto Alegre para a Ilha de Kauai, no Havaí, com o filho mais velho, Troy, e uma bebê de dois meses nascida na capital gaúcha em 9 de maio daquele ano: Tatiana Guimarães Weston-Webb.

A menina cresceu fora do país. Abraçou o esporte do pai e o país da mãe e do companheiro Jessé Mendes, surfista com quem é casada desde 2014. Ela poderia competir pela Grã-Bretanha, Estados Unidos... Para sorte nossa, a medalhista de prata em Paris-2024 preferiu o Brasil.

Em entrevista ao Correio, Tati fala sobre a realização do sonho de brindar o Brasil com uma das 20 medalhas na França. Posiciona-se sobre a sugestão do amigo Gabriel Medina para que o surfe seja disputado em uma piscina com ondas em Los Angeles-2028, faz projeções para a reta final da WSL, em Fiji, a partir de terça-feira, fala sobre fé e compartilha leituras inspiradoras: a Bíblia e o livro The Alchemist, de Paulo Coelho.

Gabriel Medina defende que o surfe seja disputado na piscina em Los Angeles-2028. Concorda?

Surfe numa piscina é muito diferente do surfe no mar, onde tem uma conexão com Deus. São sentimentos diferentes. No mar, você não sabe se a onda vai vir e, na piscina, você sabe que ela virá. Eu acho que se transforma em algo mais previsível. No oceano, é mais sobre reação e adaptação.

Duas das finais mais apertadas em Paris foram no atletismo e no surfe. Noah Lyles ganhou a prova dos 100m por causa de cinco milésimos. Você não conquistou o ouro devido a dois décimos...

Não temos controle sobre tudo. Precisamos de muita paciência. Às vezes, não vai acontecer do jeito que queremos. Fiquei muito feliz com a minha performance, por alcançar esse sonho gigante de ganhar uma medalha olímpica. Prefiro pensar positivo e aproveitar essa conquista!

Você repetiu sete frases na semana da decisão e compartilhou com seguidores.

Muitas dessas frases vieram para mim na meditação que eu estava fazendo todos os dias no Taiti. O versículo (Jeremias 17.7) foi retirado da bíblia. Senti no meu coração que deveria compartilhar. São palavras que me acalmaram na preparação para as etapas, para me ajudar na concentração e acreditar que coisas boas viriam. E deu certo!

Qual é o peso da família no êxito?

Meu marido Jessé e a minha família me dão muito suporte emocional. Jessé e eu completamos quatro anos de casados dias antes do início das Olimpíadas. Ele também é surfista e me acompanha. Sou muito grata a ele pelo apoio e por sempre me incentivar. Meus pais são tudo pra mim! Sem a minha mãe (Tanira), nada disso seria possível. Ela era surfista profissional, bodyboarder, sempre competia. Quando ela me viu no mar, percebeu que eu iria longe. Sem esse apoio dos meus pais, eu nunca chegaria até aqui. Minha mãe é a grande referência na minha vida. A minha heroína.

Faltou sorte ao Medina na semi?

Dependemos da natureza e do que o mar vai nos proporcionar. Essas coisas podem acontecer com qualquer um de nós, mas o Medina surfou muito bem e fez história com a medalha (de bronze).

A falta de ondas irritou?

Se tivéssemos ondas um pouquinho maiores, os resultados poderiam ser diferentes. Mas foi como era para ser. Surfar em Teahupoo é sempre uma bênção. O lugar é incrível. Cada vez que estou naquele mar, me sinto muito privilegiada.

O surfistas brasileiros dividiram uma casa. Como foi essa experiência?

Incrível. O Taiti é lindo, tem muita natureza. O COB e a CBSurfe organizaram dois acampamentos antes das Olimpíadas para nos acostumarmos com o local. Isso ajudou muito! Mesmo estando longe de Paris, nos sentimos em casa. A gente se apoia muito, como uma família. Torcemos um pelo outro. Conseguimos nos concentrar e aumentar as conexões.

Como lida com a fé?

Sou evangélica. Acredito que Jesus Cristo é o caminho. Surfe é um jeito com que eu consigo me sentir ainda mais perto de Deus. Ele traz as ondas e essa alegria de estar na água. Pratico essa conexão com Deus diariamente.

Foi a Olimpíada das mulheres?

As mulheres estão arrasando! Tenho muito orgulho de representá-las, principalmente as surfistas brasileiras. É uma honra gigante. Espero que tudo isso inspire outras meninas a começarem no esporte e a lutarem pelos sonhos.

Como se sente fazendo parte da tempestade brasileira, uma expressão que ficou muito machista. Referência mais ao sucesso dos homens do que aos resultados das mulheres?

As pessoas puderam perceber o quanto o surfe brasileiro é grande, e o quanto as mulheres são vitoriosas! Estou muito orgulhosa de fazer parte dessa tempestade no esporte. Isso é resultado da dedicação das mulheres, do nosso trabalho e da vontade de vencer. Enfrentamos o machismo e hoje estamos mudando a visão do esporte. Estamos dominando agora, imagina no futuro! Rebeca, Bia, Duda, Ana Patrícia, todas estão de parabéns.

Foi possível curtir os Jogos lá do Taiti?

Sempre amei assistir aos Jogos Olímpicos desde criança. Além de surfista, amo esportes. Torci demais pelo nosso Time Brasil! Depois de ganhar a medalha, fui a Paris curtir de perto! Assisti ao vôlei das meninas e às finais de futebol feminino. Foi maravilhoso!

Qual é a sua imagem dos Jogos?

A foto em que estou beijando a medalha na praia de Teahupoo. Significa um sonho realizado para mim! Nunca vou me esquecer daquele momento!

Algum livro a inspirou?

Estou lendo The Alchemist, escrito por Paulo Coelho. Eu também amo ler livros de fantasia. Amo ficar vivendo em outros mundos quando estou lendo. Além disso, leio a Bíblia todos os dias para manter a minha fé!

Vem ouro em LA-2028?

Ainda não pensei muito sobre isso. Estou aproveitando cada momento da minha primeira medalha olímpica. Neste mês, ainda temos mais uma etapa da WSL, em Fiji. Estou me sentindo ótima.

Gostaria de ter ido a Porto Alegre com a medalha para dar alegria aos gaúchos depois das enchentes na cidade em que nasceu?

Com certeza, sim! Queria muito ir direto para o Brasil celebrar esta medalha, mas eu tenho a próxima etapa do Mundial em Fiji começando no dia 20. Em breve estarei de volta para celebrar esta conquista com todos. Sou muito grata ao povo de Porto Alegre por todo o apoio, sou gaúcha e meu coração está com eles.

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