OLIMPÍADAS

Los Angeles 2028: o que os americanos esperam da próxima edição olímpica

Anfitriões da terceira versão do megaevento na Califórnia projetam grande festa, mas têm pé atrás com o transporte público

Paris — Olimpíadas têm disso: te impõem uma espera de quatro anos para viver pouco mais de duas semanas de emoções. Vale a pena? Todos dirão que sim. Porém, quando você se acostuma a acompanhar tantas boas histórias e a comemorar resultados sem precedentes, acontece o que menos se espera. É decretado o fim da festa. No entanto, o adeus de uma edição é um “olá” para a outra. Paris-2024 chegou ao fim neste domingo (11/8) , mas estamos a 1.433 dias da abertura de mais uma versão com o selo americano de qualidade em Los Angeles-2028.

País mais vitorioso da Olimpíada da França, com 126 medalhas — 40 de ouro, 44 de prata e 42 de bronze —, os Estados Unidos receberão o maior evento do esporte pela quinta vez. A última foi em Atlanta-1996. Será a terceira de Los Angeles, depois das disputas em 1932 e 1984. A Cidade dos Anjos se igualará a Londres (1908, 1948 e 2012) e a Paris (1900, 1924, 2024) e será a primeira a reabrir as fronteiras para os Jogos em um espaço tão curto de tempo. Um dos trunfos para ter sido escolhida em 13 de setembro de 2017 como a capital do esporte foi o apelo turístico, urbano, de infraestrutura disponível, além da “autenticidade”, proposta pelo chefe da organização de LA-2028, Casey Wasserman.

As novidades para daqui a quatro anos em Los Angeles começam pela inclusão de cinco esportes: squash, críquete, lacrosse, beisebol/softball e flag football e pela saída do breaking, estreante em Paris-2024. Outro movimento ousado é a promessa de uma Olimpíada sem carros, algo que desafia a lógica de uma metrópole com região habitada por cerca de 18 milhões de pessoas e de tráfego intenso. É daí que sai o maior desafio tanto do Comitê Organizador quanto da prefeitura. A Los Angeles cinematográfica carece de transporte público eficiente. Embora estejam animados, americanos ouvidos pelo Correio em Paris também demonstram preocupação com o assunto.

Moradores de San Antonio, no Texas, o casal Tony Ogburn, de 66 anos, e Jane Orburn, 67, conhecem bem a cidade na qual viveram anteriormente e costumam visitar. “Los Angeles-2028 será muito bom. É uma cidade grande, bonita, mas em que eles precisam melhorar. O transporte será um problema. Eles não têm metrô, têm trens de superfície”, explica Tony. Jane endossa o discurso do marido. “Todo mundo dirige. Não é como Paris. Quando LA recebeu a Olimpíada, organizaram para que as empresas mudassem os horários e houvessem menos pessoas na rua”, recorda-se.

A iniciativa, inclusive, está nos planos da prefeita de Los Angeles, Karen Bass. “Estamos trabalhando para criar empregos expandindo nosso sistema de transporte público para termos Jogos sem carros. É um marco para Los Angeles, pois sempre fomos apaixonados por nossos carros. Estamos trabalhando para garantir que possamos construir uma Los Angeles mais verde”, garante. “Em 1984, não tínhamos nenhuma das tecnologias que temos hoje. Aprendemos com a covid-19 que é possível trabalhar remotamente", emenda. Como tornar isso realidade? As autoridades acreditam no escalonamento de trabalho.

Outra promessa de LA-2028 é tirar pessoas de situação de rua, permanentemente. Atualmente, o número de pessoas desalojadas está em cerca de 75 mil, sobretudo devido ao inflacionamento do mercado imobiliário. "Como vimos aqui em Paris, as Olimpíadas são uma oportunidade de fazer mudanças transformadoras", acredita a prefeitura. Comparações, porém, entre a capital francesa e Los Angeles são evitadas nos bastidores. "Serão os Jogos próprios de Los Angeles e da Califórnia. Não temos a Torre Eiffel, mas temos o letreiro de Hollywood. Temos locais de competição incríveis e um ambiente magnífico", defendeu Wasserman.

Cidadãos e até a imprensa americana, porém, tratam de exaltar a maneira como os Jogos foram conduzidos em Paris e duvidam se Los Angeles será isso tudo. “O clima em LA é melhor, mas não a cidade. Adorei como Paris colocou muitos dos eventos em comunidades: futebol no estádio do PSG, vôlei de praia na Torre Eiffel. LA deveria fazer isso e não em alguma Vila Olímpica, muito fora da cidade”, pede Tony Ogburn. A revista Sports Illustrated escreveu: "Boa sorte, Los Angeles, se quiser fazer melhor que Paris".

Morador da região norte da Califórnia, Dave Kulbarsh, 65 anos, também foi ao Rio de Janeiro, em 2016, e defende a tese de que existem outras cidades americanas mais bem preparadas no país para receber o megaevento, como Nova York, Chicago, Boston e Atlanta. Também acredita ser necessário LA aprender com Paris em alguns aspectos. Ele é mais um crítico do esporte público californiano. “Se mesmo os franceses podem organizar uma Olimpíada tão boa, as pessoas de lá e dos Estados Unidos devem ser capazes de fazer isso”, cutuca. Kulbarsh não é de todo crítico. Veste a camisa do “Team USA” para vender o peixe americano e dar aos turistas um roteiro do que não perder na Cidade dos Anjos. “Todos os Parques, as praças, Venice Beach, o Pier de Santa Monica. Há eventos lindos espalhados. Há muitos estádios de futebol e estruturas esportivas para Olimpíadas”, compartilha.

Embora viva em Boston para cuidar do pai centenário, Rosine Hatem conhece bem a próxima casa dos Jogos Olímpicos. Morou em Los Angeles por 45 anos e acompanhou de perto a edição de 1984 e não crê em uma edição mais compacta, de fácil acesso, mobilidade e atenciosa do que Paris-2024. “O transporte público é pobre, não existente. Paris fez um trabalho fantástico, assim como os voluntários, que nos trataram como estrelas. Foi maravilhoso. LA tem muito para tentar melhorar, colocará um bom show, mas Paris não será superada”, destaca.

Los Angeles planeja ser a primeira sede sem nenhuma arena permanente construída. Em Paris-2024, 95% das arenas eram pré-existentes. A cidade americana, porém, vai além, com mais de 20 locais de competição à disposição para 3 mil horas de eventos ao vivo. Legado de 1932, o Exposition Park reabrirá as portas para saltos ornamentais. O Estádio SoFi dos Rams e dos Chargers, do futebol americano, serão rebatizados de Inglewood Stadium, espaço da natação para 38 mil pessoas. A Crypto Arena receberá as ginásticas. O Centro de Convenções será casa do tênis de mesa, do judô, do wrestling, do taekwondo e da esgrima. Cerimônias de abertura, de encerramento e atletismo serão no imponente Coliseum Stadium, presente nas duas edições anteriores.

Quando você não tem nenhuma construção permanente, pode-se realmente gastar tempo na experiência, na inovação e na criatividade. Podemos dedicar muito mais tempo à criação da melhor e melhor experiência para todos os envolvidos”, ressalta Wasserman, chefe do Comitê LA-2028. Os objetivos são: oferecer a melhor experiência para os atletas, maximizar uso da infraestrutura esportiva existente para garantir promover legado e produzir uma nova mistura de esporte e entretenimento, tudo focado em aumentar a paixão das novas gerações pelo Movimento Olímpico.

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