Vaires-sur-Marne (FRA) — Isaquias não deixará a França da mesma forma que chegou. Desembarcou como grande atleta e querido pelos brasileiros, mas sairá com orgulho estampado por ser agora o segundo maior medalhista olímpico do país, ao lado dos velejadores Robert Scheidt e Torben Grael, após a conquista da prata no C1 1000m, a quinta dele dos Jogos do Rio-2016 para cá. Como o baiano de Ubaitaba conseguiu navegar por essas águas? A resposta está em um amuleto entregue por Torben.
Em um desses encontros da vida, Isaquias tabelou com Torben Grael. O bate-papo amistoso entre duas referências do esporte, porém, virou quase uma passagem de bastão e ganhou um simbolismo após Isaquias ser presenteado com uma bússola. Lembrança de um velejador para um canoísta, mas tem tudo a ver. “Tínhamos participado de uma amigo secreto. Está na minha casa, na prateleira. No começo, não entendi. Depois vi o que ela significava. Para mim, foi muito especial receber um presente do Torben Grael. Todo mundo sabe quem é Torben Grael, Robert Scheidt, Martine e Kahena (velejadoras bicampeãs olímpicas)”, ressalta.
“Foi muito feliz, foi muito especial. Na época, eu tinha três medalhas olímpicas. Hoje, chego à minha quinta. São baita exemplos de atleta e seres humanos. Fico feliz com essa lembrança e de ter recebido esse amuleto”, conta. Aliada ao esforço diário de Isaquias, a bússola o conduziu ao segundo lugar mais alto do pódio na França após uma prova turbulenta. Isaquias teve dificuldades para colar nos líderes na primeira parte dos 1000m. No entanto, nos últimos 250m, abdicou da estratégia para dar à raça e sair da quarta colocação para o vice-campeonato, atrás somente do tcheco Martin Fuksa. Valeu cada remada.
“Essa medalha de prata tem gosto de ouro. Eu estava muito atrás na prova, tentei sair rápido, mas o Martin Fuksa foi ainda mais. Acho que na minha subida tirei garra de onde não tinha, eu estava quase em quinto. Pensei que não teria mais como passar mais ninguém e falei: ‘Vou arriscar tudo’. Fui subindo, subindo e achei que dava e, quando cheguei nos 100m finais, senti que precisava segurar até o fim. Como Jesus Morlán (ex-técnico, morto em 2019) falava: no final, é só soltar a remada, não tem mais força e mais braço, é deixar o barco andar”, compartilha.
E o “barquinho” foi em direção ao pódio pela quinta vez. A vasta experiência como medalhista olímpico não impediu a emoção. Antes de ter o nome anunciado na cerimônia de premiação, Isaquias foi às lágrimas. “Vi a arquibancada lotada de brasileiros, eu não imaginava. Pensava que teria um aqui, outro ali, uma bandeirinha… pensei: vieram me ver? Passa pela minha cabeça: quem sou para virem me prestigiar? Eu não imaginava que seria tudo isso. Foi uma emoção muito grande, pois vi todo carinho que o brasileiro tem por mim. Por isso é difícil sair de uma competição sem medalha olímpica. Fazer valer a pena ter feito o pessoal sair de casa, do Brasil, para vir me ver foi muito gratificante”, discursa.
O Isaquias não apresentou a melhor versão nos Jogos de Paris-2024. Foi último colocado na final do C2 500m, ao lado do conterrâneo baiano Jacky Godmann, e não esteve à vontade na preparação na França. “Não me senti muito bem aqui na Olimpíada, estava bem no Brasil. O ritmo caiu um pouco, mas mesmo assim o tempo aqui foi bem rápido. Não foi exatamente como queria, mas sair com a prata é gratificante. Esse é o nosso dilema: sair de pescoço pelado não dá.”
Quem observa somente as conquistas de Isaquias Queiroz nas edições do Rio-2016, Tóquio-2020 e Paris-2024 talvez não saiba dos problemas enfrentados pelo baiano fora da canoa. Em 2023, precisou de uma pausa para ter mais contato com a família e cuidar do corpo e da mente para não desistir do esporte. “Eu estava muito carregado psicologicamente, com muito estresse mental. Não conseguia raciocinar direito, estava muito mal. Tinham vezes em casa em que eu explodia por qualquer coisa com o Sebastian (filho primogênito, sete anos). Falei para a Doutora Ana (médica da Confederação) que não sabia o que estava acontecendo, pois sentia que estava descontando no meu filho. Tive que tomar remédios para me ajudar nessa questão”, revela.aquias que
“Eu vinha há nove anos brigando por pódio. No primeiro ano sem conquista, vi tanta gente me massacrar, por causa de um ruim. Falei tudo, o foco era Paris. Conseguimos. Hoje, não foi o ouro que todos esperavam, mas não saímos sem medalha. Todo mundo quer ganhar, todos treinam. Se eu tivesse a oportunidade de ver os meus adversários treinando, talvez treinaria melhor, porque não tem como saber o que o adversário está fazendo. Quando chega aqui, você é surpreendido”, analisa.
Nesta edição, Isaquias tinha a possibilidade de não somente igualar, mas passar Scheidt e Grael. Não conseguiu. A missão, porém, foi bem sucedida por Rebeca Andrade. A ginasta somou o ouro no salto e a prata do individual geral em Tóquio-2020 a duas pratas, um ouro e um bronze nesta edição. Agora, reina absoluta como maior medalhista brasileira em Olimpíadas, com seis.
“Fico feliz em chegar à quinta medalha. Será muito difícil para os moleques virão agora (da canoagem). Fico feliz em ser o terceiro atleta olímpico do Brasil com mais medalhas. A Rebeca, a gente tira de cena, ela é fora da curva. Fico feliz em chegar ao Robert Scheidt e Torben Grael e perto desses caras, em um esporte que não tinha medalha olímpica e hoje tem cinco”, destaca Isaquias.
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