Uma linguagem simples e delicada, marcada pela sensibilidade. A escrita é, praticamente, uma extensão de Kaio Bruno Dias, 30 anos. Natural de Imperatriz, no Maranhão, se mudou com a família na década de 1990 para Goiânia, capital de Goiás. Em busca de uma vida melhor na companhia dos pais, acreditavam que, no Centro-Oeste, poderiam alcançar esse objetivo. Mas, por ironia do destino, foi na cidade ao lado que o escritor ganhou o caminho necessário para encontrar o próprio destino.
Ao vir para Brasília, Kaio estudou na Universidade de Brasília (UnB), onde fez mestrado em linguística cognitiva. "Tenho um apreço e um carinho muito grandes por essa Instituição", detalha. No poder da palavra e em todas as belezas proporcionadas pela comunicação, decidiu, também, escrever livros. Ele, inclusive, está na sua sexta obra, lançada oficialmente no começo de agosto.
O dia em que perdi a minha voz, ilustrado em parceria com a artista visual japonesa Mirin Takano, é dividido em quatro capítulos e está sendo publicado e distribuído junto à editora Devir, poesia e prosa. "Um livro que reúne observações, diálogos, pequenas narrativas e prosas poéticas escritas ao longo dos últimos anos, enquanto eu transitava da fase jovem adulto rumo aos 30 anos de idade", descreve o autor.
Renomado entre os jovens e adultos, com textos e obras voltadas para este público, Kaio vasculha as miudezas do cotidiano de forma singular e prosaica. Ausência, saudade, solidão e desencontros amorosos são apenas alguns dos muitos temas escritos por ele. De surto em surto e Eu sempre morro são obras aclamadas no cenário da literatura brasileira, publicadas por Kaio em 2019 e 2021, respectivamente.
Paixão de infância
Quando tinha 18 anos, Kaio trabalhava e estudava bem longe da casa onde vivia com os pais, na periferia de Goiânia. No intervalo entre a escola e o trabalho, descobriu um centro municipal de cultura. Lá, aconteciam saraus de poesia e inúmeras atividades de artes integradas. Conheceu pessoas interessantes, obras literárias e jovens autores. Diante de um espaço completamente artístico, a paixão foi inevitável.
"Me encantei de imediato, pois no bairro onde cresci essas coisas não existiam. E resumindo bastante essa história, naquele mesmo ano, resolvi largar o meu emprego na farmácia e o projeto de ser um farmacêutico, comecei a fazer bicos como ajudante de produção em alguns projetos deste centro cultural", relembra.
Depois de três anos de muito perrengue financeiro e aprendizado em produção cultural, ele conseguiu uma vaga de emprego no mesmo local pelo qual se encantou. Isso, enquanto mesclava, ainda, os estudos para o Enem, em busca de um sonho que logo em seguida alcançou: estudar letras.
Hoje, Kaio vive em São Paulo e persiste na carreira de escritor. Acumula milhares de pessoas em todas as redes sociais, como no Instagram, onde possui mais de 170 mil seguidores. "Escrever é a minha forma de linguagem preferida. Funciona como o ato de conversar sozinho. Como quem envia cartas a si mesmo. Ler rascunhos, poemas, prosas, textos e observações feitas por si mesmo num passado recente, e compreendê-las por meio do 'eu' de agora, num diálogo que distorce o espaço-tempo", finaliza.