Dentre os vários fatores que compuseram a eliminação do brasileiro Hugo Calderano no tênis de mesa diante do sueco Truls Moregardh, na manhã desta sexta-feira (2/8), na semifinal pelos Jogos de Paris 2024, um chamou muito a atenção: a raquete do europeu.
Diferente da forma convencional usada pela maior parte dos atletas do tênis de mesa, o curvo com a ponta arredondada, inclusive pelo próprio Calderano, o equipamento utilizado pelo sueco tem formato hexagonal. O detalhe pode passar longe de ser uma novidade para os amantes da modalidade, mas é pouco conhecido por parte do público geral.
Número 26 do mundo, Moregardh possui uma relação íntima com o principal aliado nas mesas. Além de garoto propaganda, é o grande rosto da Stiga, marca originada no mesmo país do atleta e responsável pela produção das raquetes no formato diferente.
Conhecido como Cybershape, o objeto possibilita uma maior área de impacto com a bolinha em relação à versão arredondada. É isso o que explica o mesatenista brasiliense Gleisson Carmo, 51 anos. Iniciado no esporte aos 30, Gleisson deu as primeiras raquetadas no Sesc da 504 Sul com um colega japonês. Em seguida, entrou para a academia Asmett, em Taguatinga, antes de migrar ao Fitpong, na 514 Sul. Dali, iniciou uma trajetória de sucesso. Além de campeão brasileiro master por clubes e seleções, organizou diversos eventos da modalidade pelo país.
Devoto amante e pesquisador assíduo do tênis de mesa, Gleisson explica que a raquete utilizada por Truls Moregardh não foi um fator determinante para que ele vencesse Calderano. Contudo, é algo significativo, pois o sucesso do uso do curioso formato passa pela adaptação do próprio atleta.
“A Stiga, que é uma marca europeia, inventou várias raquetes. Uma delas, há três anos atrás, mais ou menos, foi essa hexagonal. Na época, foi um risco que o Truls correu. Depois de ter sido escolhido garoto propaganda, o negócio vingou”, conta.
“Realmente ela é maior. O campo de contato é maior nas extremidades. Mas vai muito do teu feeling, muito do teu modo de jogar, do que você quer ser na mesa e da adaptação. Ele apareceu no circuito e começou a incomodar as pessoas. Não é um fator determinante, mas a raquete realmente ajuda na estratégia de jogo que ele tem”, complementa Gleisson.
Apesar disso, o brasiliense ainda explica que o formato hexagonal é pouco utilizado no Brasil. Em decorrência do poderio chinês no ramo, 70% a 80% de todos os materiais da modalidade, de acordo com ele, vêm do país asiático.
Na década passada, os equipamentos chegados do oriente para cá não ostentavam boa qualidade. Esse cenário, porém, mudou na última década. Isso contribui para a pouca comercialização do modelo europeu das raquetes no Brasil. Gleisson conta que, na época do lançamento, as Cybershapes eram vendidas por até R$ 1.900.
"A gente encontra preços muito menores do que isso para as convencionais. Acabei achando uma no Aliexpress, por uma fonte confiável, e paguei R$ 89. É a melhor raquete que eu já usei. E eu falo muito para os amigos: 'cara, o dia que você usar uma hexagonal, não vai voltar para a redondinha'", finaliza o brasiliense.
*Estagiário sob a supervisão de Fernando Brito
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