OLIMPÍADAS PARIS 2024

Caio Bonfim celebra prata na marcha atlética: 'Trabalho de uma vida'

Brasiliense de 33 anos colhe o primeiro fruto de quatro tentativas de pódio em Olimpíadas. Conquista é a primeira do Brasil na modalidade

Paris* — Envolto de uma bandeira do Brasil, Caio Bonfim entra na zona mista aos pés da Torre Eiffel e diz aos jornalistas do país: “Achei que vocês não vinham”. A declaração era de quem há pouco conquistava a medalha prata nos 20km da marcha atlética, a primeira dele e do país na modalidade. Estava ansioso para falar e compartilhar o feito em alto e bom português.

“Chegamos aqui para o trabalho de uma vida. Não sei dizer o que significa isso tudo. Não estou acostumado a ouvir ‘medalhista olímpico’. Sempre foi um sonho. Sou de Brasília, cresci com Joaquim Cruz. Hoje, tenho uma medalha igual a dele para levar para casa — Cruz foi segundo dos 800m em Seul-1988 e ouro em Los Angeles-1984. É um momento muito especial, que representa todos esses anos, não só o ciclo olímpico”, discursa.

Caio Bonfim cruzou a linha de chegada dos 20km da marcha com a marca de 1h19min09s. Ficou atrás somente do equatoriano Daniel Pintado e à frente do espanhol Alvaro Martin, dono do bronze. É um momento que não imaginava viver. “Quando passei a linha de chegada, no Rio de Janeiro, pensei se teria outra oportunidade. Tive de trabalhar para conseguir. Cheguei tão perto, mas tenho muito orgulho do meu quarto lugar, abriu muitas portas para mim. Na minha cidade, brinco que antes da Olimpíada eu era xingado quando ia marchar. Depois, o som da buzina mudou e os caras até exigiam: ‘Bora campeão, está flutuando’. Eu queria mudar isso”, conta.

O talento das pistas de Sobradinho diz que os Jogos de 2016 colocaram-no em outro status, mas que essa medalha pode ser capaz de transformar a modalidade. “O Rio mudou a história da minha marcha. O som da buzina mudou depois. Às vezes, alguém comentava depois do treino que foi xingado. Acho que essa medalha pode mudar a história da marcha atlética brasileira. Falamos tanto de legado no Rio, que isso seja um, que o Brasil seja uma potência. Imagina, temos 200 milhões de brasileiros, grandes marchadores.”

Inúmeras vezes, Caio Bonfim foi alvo de críticas e preconceito, mas jamais abaixou a cabeça. Sempre foi pés no chão. “É preciso coragem para viver de margem atlética. Dos primeiros anos, na escola até eu ir para uma Olimpíada, atleta era considerado vagabundo. Olhando onde estamos”, reforça.

Caio confidenciou ter imaginado viver esse momento durante treinamentos e projetou uma versão perfeita para subir ao pódio na Cidade Luz. “Sobradinho é uma cidade-satélite de Brasília. Marchando naquelas ruas, ganhei várias medalhas olímpicas, sonhando. Não pensei durante a prova, porque é preciso ser racional, é nos treinos. Isso estava no íntimo do meu coração, compartilha.

“Eu queria ter a ousadia do Rio-2016, a experiência de Tóquio-2020 e o primeiro amor de Londres-2012. E conseguimos aqui. Estou muito, muito contente”, finaliza o primeiro brasiliense medalhista olímpico nos Jogos Olímpicos de Paris-2024.

*Os repórteres são enviados especiais para cobrir as Olimpíadas de Paris-2024

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