Quem observa o primeiro final feliz do nadador Gabriel Geraldo dos Santos Araújo, o Gabrielzinho, em Paris, com a medalha de ouro de número um do Brasil nos Jogos Paralímpicos 2024, talvez não tenha acompanhado os outros trechos do filme da vida do mineiro de Santa Luzia. O título conquistado nesta quinta-feira (29/8) prova dos 100m costas da classe S2 (limitações físico-motoras) com o tempo de 1min53s67 é ensaiado há nove anos por meio de uma rotina cheia de obstáculos.
Porta-bandeira da delegação na cerimônia de abertura, ao lado de Beth Gomes (atletismo), Gabrielzinho tem focomelia, doença congênita que impede a formação normal de braços e pernas. Conheceu a natação por meio de um professor de educação física da escola na qual estudava, durante edição dos Jogos Escolares de Minas Gerais (JeMG). Bastou uma participação para faturar cinco medalhas e tomar gosto pelas competições. Aos 22 anos, ostenta quatro pódios paralímpicos. O ouro na Arena Paris La Defense fará companhia aos títulos nos 200m livre e 50m costas e a prata nos 100m costas em Tóquio-2020.
Os resultados de Gabrielzinho são cultivados na piscina do Praia Clube, em Uberlândia (MG) em longas sessões de treinamentos seis vezes por semana, de segunda a sábado. As atividades também contemplam exercícios de musculação, especialmente e vértebras lombares, músculos abdominais e assoalho pélvico. "A gente não consegue nem calcular quantos obstáculos passa por dia, mas só serve para nos fortalecer", ressaltou à AFP.
Mas existe outra versão de Gabrielzinho, uma conectada às redes sociais. No tempo livre, cultiva a popularidade no Instagram. Antes do início dos Jogos Paralímpicos, somava 50 mil seguidores. Até o fechamento desta edição, dobrou os números com 114 mil fãs. Como não tem mãos nem braços, o medalhista navega pela tela do smartphone com os dedos dos pés. Também é dessa forma que o nadador utiliza o controle de videogame para passar o tempo livre com os jogos de futebol, uma das grandes paixões.
Nos outros momentos off de treinos ou competições, Gabrielzinho esbanja autonomia. Para comer, costuma se inclinar para pegar comida do prato com a boca. Após a refeição, coloca escova de dentes elétrica entre os dedos dos pés para manter a higiene bucal em dia. Foi essa destreza que cativou o técnico Fábio Pereira Antunes. "Inicialmente, o que me chamou atenção foi a habilidade que ele tinha, fora das piscinas. Ele tem muita coordenação motora, é muito inteligente, então consegue resolver muitas situações do dia a dia. Depois, na água, descobri outras potencialidades dele. Ele tem a mente de campeão. Acho que isso é o grande diferencial dele", ressalta o treinador.
Gabrielzinho desembarcou na França com foco não apenas em medalhar, mas em conquistar títulos. "Vou em busca das três medalhas de ouro nas Paralimpíadas de Paris", discursou em Brasília, durante cerimônia com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O primeiro passo para cumprir a promessa foi dado com autoridade. "É uma prova muito difícil, que mexe comigo, tanto por ter sido prata (em Tóquio), porque é a prova mais difícil para mim, e eu trabalhei muito para isso. Não nadei, não, eu amassei a prova, acabei com a prova, então estou feliz demais e com um sonho realizado", avaliou.
O brasileiro voltará à piscina para as provas dos 50m costas, em 31 agosto, e dos 200m livre, em 2 de setembro. O país fechou o primeiro dia de competições na França com mais duas medalhas, ambas da natação. Gabriel Bandeira foi bronze nos 100m borboleta S14 (deficiência intelectual) e Phelipe Rodrigues prata nos 50m livres S10 (poucas limitações físico-motoras), a nona medalha em cinco participações.
*Com informações da Agência France-Presse
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