O foco de todo atleta é subir ao pódio, mas tem quem, literalmente, mire nesse objetivo. No sentido figurado e no literal, Luciano Rezende vai para a capital francesa querendo colocar uma medalha no peito e reafirmar o posto de detentor da melhor campanha do Brasil em Olimpíadas e Paralimpíadas. Quarto lugar no Rio-2016, o arqueiro é o protagonista do quarto capítulo da série Équipe Brasília, sobre os personagens da capital presentes nos Jogos Paralímpicos de Paris.
Paciente com sequelas de mielomeningocele, uma deficiência congênita na coluna vertebral, Luciano nasceu em 1978, em Balsas, município do interior do Maranhão de pouco mais de 100 mil habitantes, mas desembarcou no Distrito Federal aos dois meses de idade para tratamento.
"Foi constatada minha deficiência após o nascimento. Minha mãe foi orientada a procurar o Hospital de Base do DF. Lá, foram feitos exames e a cirurgia para o fechamento do tubo neural. Por isso, essa cidade é tão importante para mim. Hoje, com 46 anos, faço reabilitação desde 1984 no Hospital Sarah. Só estou vivo graças a Deus, minha mãe, minha família e à rede pública de saúde do Distrito Federal. Sinto-me muito brasiliense, é uma honra representar o DF", conta ao Correio.
A paixão pelo esporte vem desde a infância, principalmente na natação. Dedicado à modalidade desde jovem, o cenário mudou em 2008, quando foi submetido à terceira cirurgia de liberação de medula presa. As sequelas fizeram o atleta praticamente reiniciar a trajetória nas piscinas, aos 28 anos, mas, apesar da rotina de treinos, só alcançava os índices nacionais para participar de provas do circuito regional do Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB).
O encontro com o tiro com arco veio somente em 2009, com o então professor Reginaldo Salles, na Associação de Centro de Treinamento de Educação Física Especial (CETEFE). Depois, partiu para o Clube do Exército, sob o comando do técnico alemão
Christian Haensell.
A mudança de modalidade deu certo. O currículo dele é prova disso. A galeria de Luciano ostenta seis títulos de campeão brasileiro individual, três por equipes mistas, ouro nos Jogos Parapan-Americanos da modalidade de 2015 e também o topo do pódio na equipe masculina na edição de 2024 do torneio, fora uma série de outras condecorações pelo mundo. Para coroar a estante de prêmios, falta só a medalha paralímpica, mas, se depender do arqueiro, não demorará para acertar em cheio no alvo.
"É minha segunda participação em Paralimpíadas, a expectativa é alcançar um resultado ainda melhor para Brasília, para o nosso país e para fazer história. No Rio-2016 faltou pouco, mas, neste momento, com mais preparação, eu me sinto pronto para fazer um desempenho ainda melhor", projeta Luciano.
Crescente
Enquadrado na classe open, para atletas com deficiência em um ou dois membros, o maranhense cria do DF é parte da delegação do Brasil que faz apenas a quarta participação do país no tiro com arco em Jogos Paralímpicos. Com o desenvolvimento da modalidade, principalmente com mais torneios promovidos pelo CPB e pela Confederação Brasileira de Tiro com Arco (CBTArco), a expectativa é de muito apoio dos torcedores, ainda mais juntando as cidades vinculadas ao arqueiro.
"O tiro com arco está em pleno crescimento no Brasil. A torcida de Brasília e de Balsas é muito importante, ainda mais por estarmos distantes, em outro continente. É o evento esportivo paralímpico mais importante do mundo, acontece só de quatro em quatro anos, é fundamental essa energia para nos ajudar a ter um resultado excelente, ainda mais por representar todos os brasileiros", pede.
Luciano atira as primeiras flechas em Paris em 29 de agosto, para a fase classificatória do arco recurvo. A classe open varia em dois tipos de arco, com a principal diferença sendo a distância. No usado pelo brasileiro, o alvo fica a 70 metros, apesar de ser maior, enquanto no composto as flechas são atiradas a 50 metros da mira.
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