Skate

Série documental da Max retrata vida e carreira do lendário Bob Burnquist

Em entrevista ao Correio, veterano skatista revela detalhes da produção que tomou quase oito anos de trabalho e mais de 20 colaboradores pelo mundo

A produção acompanha desde as peripécias de uma infância travessa até as conquistas do maior medalhista da história dos X Games -  (crédito: Carl de Souza/AFP)
A produção acompanha desde as peripécias de uma infância travessa até as conquistas do maior medalhista da história dos X Games - (crédito: Carl de Souza/AFP)
Um dos maiores que já subiram em um skate tem nome estrangeiro, mas CPF brasileiro: Robert Dean Silva Burnquist, mais conhecido como Bob Burnquist. O atleta, que se auto-intitula um artista do skate, é um dos mais renomados, cultuados e vitoriosos do esporte que começou a praticar nos anos 1980. Toda essa trajetória é contada em Bob Burnquist: a lenda do skate, série documental de quatro episódios na plataforma Max que estreou nesta terça-feira (13/8).

A produção acompanha desde as peripécias de uma infância travessa até as conquistas do maior medalhista da história dos X Games, com 30 premiações. A ideia é homenagear um dos mais importantes skatistas de todos os tempos e exaltar a figura desse atleta que também é artista, inovou nas rampas e abriu portas fora delas. “Não é apenas uma série de um grande esportista e personagem, mas também conta sobre a mudança de um grande paradigma”, explica Patrício Diaz, gerente de conteúdo da Warner Bros. 

De forma anacrônica, a série passeia pela história de Bob e conta os melhores momentos com entrevistas de amigos próximos, familiares e ícones do skate que, de alguma forma, se relacionam com o caminho do ex-presidente da Confederação Brasileira de Skate (CBSK). Nomes como Tony Hawk, Ben Harper, Danny Way, Jake Brown, Lance Mountain e Christian Hosoi falam no documentário. “As coisas foram ficando doidas quando os ídolos com quem eu sonhava andar junto começaram a me reconhecer e me admirar também. Nesse momento, entendi que o que eu estava fazendo era especial”, afirma Bob Burnquist em entrevista ao Correio.

O projeto era de princípio ambicioso: foram quase oito anos de produção, mais de 20 colaboradores pelo mundo e um bruto que chegou a 150 terabytes de material. “Um projeto muito rico e o resultado foi ótimo”, afirma o diretor Daniel Baccaro, que exalta o protagonista dessa história real. “Multimedalhista de X Games, multicampeão do mundo, pula de paraquedas, pilota avião, helicóptero e ainda é gente boa e carismático. Foi só colocar a câmera na frente do Bob que funcionou”, brinca o cineasta.

“Ver a minha história contada, os arquivos e tudo que o Daniel gravou e orquestrou com a galera toda é como se eu tivesse andando dentro do meu cérebro”, destaca Burnquist, afirmando que, mesmo com tantas conquistas, nada sobe à cabeça. "Isso não me fez me sentir o cara, só me trouxe felicidade, realização e vontade de retribuir para a cultura o que foi feito por mim”, pontua.

A parte boa é tão boa, que até a parte ruim serve para Bob Burnquist como lembrete. “Sentir dor é bom e não tem problema. Eu faço tantas coisas que esse negócio de me machucar funciona como um 'deixa eu me beliscar para ver se eu não estou sonhando’. Eu sei que eu estou vivendo a realidade, mas é a vida dos meus sonhos”, comenta Burnquist, que nessas idas e vindas das pistas de skate quebrou mais de 40 ossos do corpo.

O skatista lembra que, no começo, a arte que faz era proibida. “Vim de uma geração em que o não apoio era o apoio. Não queria tapa nas costas, é justamente por você não gostar que eu gosto. Essa é a minha personalidade, visão do skate”, conta. Por esse motivo, ele se dá importância em todo o processo, mas enxerga o papel como uma engrenagem para a máquina girar. ”É uma sequência de pessoas, acontecimentos, evoluções, que movimentaram a cultura e a sociedade para chegar onde chegamos com skate”, reflete. “Eu sei que eu entrei na transição, o skate estava na sombra e veio para o mainstream. Quando eu vi, estava no meio disso tudo, programas na Globo, transmissão da Megarampa e os X Games”, completa.

A humildade é tanta que Patricio Diaz teve de intervir. “Acho que o Bob é muito humilde. Hoje, vemos na capa dos jornais o feito dos skatistas brasileiros nas Olimpíadas, mas, um tempo atrás, essa atividade era criminalizada e marginalizada. Os feitos do Bob e de outras grande estrelas do esporte contribuem para mudar esse cenário”, afirma o gerente da Warner, que vê muito valor no seriado. “Tentamos trazer para nossas séries histórias que têm relevância cultural e social. Essa narrativa é uma delas”, diz.

Olimpíadas

O skate é um esporte muito popular no Brasil e, após duas boas apresentações da equipe olímpica do país, tem se tornado mais ainda prestigiado. Bob Burnquist, no papel de presidente da CBSK, foi crucial para que essa arte que praticava fosse reconhecida como uma modalidade de alto rendimento. A lenda, contudo, tem críticas ao modelo adaptado para os Jogos Olímpicos.
“Eu não me identifico com a situação do skate olímpico”, afirma. O fato não anula o sentimento que ainda corre nas veias de Bob. “Identifico-me muito com a emoção do Akio e da Rayssa”, diz, em referência às medalhas de bronze de Augusto Akio e Rayssa Leal, respectivamente, no skate park masculino e skate street feminino, nas Olimpíadas de Paris.

Apesar das discordâncias, Burnquist deixa a emoção ultrapassar a razão quando assiste ao esporte que ama ganhar fãs e notoriedade. “Independentemente do que skatista tem de vestir, da forma como está a pista ou de como interagem, mesmo com o tal padrão olímpico, ainda é incrível ver onde chegou”, analisa o artista do skate, que não questiona os companheiros de profissão que se adequam ao padrão. “Cada um pode viver o skate como quiser”.

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postado em 14/08/2024 06:00
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