Paris — “Quartas de final são os jogos mais tensos em Olimpíadas.” A entrevista do técnico Bernardinho após o alívio momentâneo da classificação com a vitória sobre o Egito, na sexta-feira, deu ao torcedor brasileiro uma dimensão do desafio que a Seleção masculina de vôlei encontraria no primeiro ato do mata-mata nesta edição dos Jogos. Falta de aviso não foi. Sete vezes medalhista olímpico — uma como jogador e seis como treinador —, o ex-levantador viu a equipe sofrer nos mais de 1h54 minutos de partida contra os Estados Unidos, ser derrotada por 3 sets a 1 (parciais de 26/24, 28/30, 25/19 e 25/19) e se despedir da França nesta segunda-feira (5/8) sequer entre os quatro melhores, diferentemente das últimas cinco edições.
Nos Jogos de Atenas-2004, Pequim-2008, Londres-2012, Rio-2016 e Tóquio-2020, a Seleção Brasileira havia terminado, pelo menos, em quarto. Tirando a campanha no Japão, existe um ponto em comum entre as anteriores, entre pelo menos os três melhores. Em todas, o técnico era Bernardinho. Na era recente, com ele à beira do gramado, a Seleção jamais havia ficado de fora de um pódio olímpico. Orquestrou a equipe feminina aos bronzes em Atlanta-1996 e Sydney-2000. Com a masculina, foi ouro em Atenas-2004 e Rio-2016 e prata em Pequim-2008 e Londres-2012.
A Seleção dá adeus a Paris com três derrotas e uma vitória. A jornada representa a oitava campanha geral, o segundo pior resultado do país na versão masculina do torneio olímpico, atrás somente da campanha na Cidade do México, em 1968, quando fechou na nona colocação.
O duelo entre Brasil e Estados Unidos fechou o trabalho das quartas de final masculina em Tóquio-2020. Mais cedo, a França bateu Alemanha e enfrentará a Itália na semifinal de quarta-feira (7/8), às 15h (de Brasília). No outro lado da chaveamento, a Polônia despachou a Eslovênia e enfrentará os estadunidenses também na quarta, às 11h.
Tanto brasileiros quanto estadunidenses miram o regaste do prestígio. Se o Brasil ficou fora do pódio na última edição da Olimpíada, os norte-americanos sequer se classificaram ao mata-mata. Terminaram na quinta colocação do Grupo B após derrotas para Comitê Olímpico Russo, Brasil e Argentina.
Recordista de títulos olímpicos, com três, ao lado dos Estados Unidos e da extinta União Soviética, a Seleção Brasileira está em crise identidade. Desacostumou-se a estar entre os melhores. Não bastassem as decepções do Japão e de Paris, tem dificuldades para se reerguer nos torneios de maior apelo durante os ciclos. Criada em 2018 para substituir o Grand Prix, a Liga das Nações só viu a equipe verde-amarela subir ao pódio uma vez, em 2021, quando faturou o título. De lá para cá, acostumou-se a cair nas quartas de final — em 2022, justamente diante dos EUA.
Quando o assunto é o Mundial, o segundo torneio mais importante do calendário da modalidade, a cada quatro anos, o jejum é maior. Lá se vão 14 anos desde que Bruninho, Murilo, Rodrigão, Giba e companhia lideraram a Seleção ao terceiro troféu da competição. Disputou as finais de 2014 e 2018, mas foi travada pela Polônia. Neste ano, deu Itália.
A lista de amarguras também contempla até competições continentais, nas quais o Brasil reinava absoluto. Em 2023, a equipe então comandada por Renan Dal Zotto sofreu nas mãos da Argentina e perdeu pela primeira vez o título do Sul-Americano. Até então, havia comemorado títulos em todas 33 edições que participou. A Argentina venceu em 1964, mas justamente quando o Brasil esteve ausente.
O jogo
A partida escancarou a dificuldade da Seleção Brasileira em administrar vantagem e fechar partidas. No primeiro set, a companhia verde-amarela chegou a abrir cinco pontos de vantagem, mas cedeu o empate e a virada por 26 x 24 após erros cruciais, que permitiram a reação dos norte-americanos. A principal veia ofensiva estadunidense no período foi o ponteiro Torey Defalco, cinco pontos.
Na parcial seguinte, os EUA tomaram as rédeas, impuseram seis bolas à frente. A gordura, porém, foi pulverizada pelo Brasil na sequência dos 33 minutos de período com mudanças de Bernardinho. Alan no lugar de Darlan e Adriano na função de Leal ditaram os caminhos para o empate. Lucarelli foi o nome da parcial, com sete pontos na conta e aproveitamento seis de 11 no ataque.
O terceiro set começou parelho, sem que nenhuma equipe deslanchasse no placar. Porém, não demorou para que os Estados Unidos seguissem se aproveitando das falhas brasileiras, em saques e até levantamentos. Repetiram o feito da parcial anterior ao colocarem seis de vantagem com 15 x 9 e forçasse nova reviravolta verde-amarela. O ponteiro/oposto Matthew Anderson foi o principal incômodo à defesa da Seleção, com seis pontos na vitória por 25 x 19.
Ameaçado, o Brasil foi para o tudo ou nada. Iniciou a quarta parcial com imposição e colocou 3 x 0 nos primeiros movimentos. O domínio, porém, não durou muito tempo. Confortáveis e confiantes pelos desempenhos nos sets anteriores, os Estados Unidos viraram para 5 x 4 aproveitando bem os contra-ataques. Embora o Brasil fizesse de tudo para se manter na cola, não controlou os animos e, muito menos, segurou o ritmo adversário. Viram os EUA abrirem quatro de vantagem e escancarem o caminho para fechar a partida por 25 x 19.
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