Um dia depois de garantir o melhor resultado do Brasil na história da marcha atlética em Jogos Olímpicos, o atleta brasiliense Caio Bonfim subiu ao pódio, ontem, em Paris, para colocar a medalha de prata no peito. Enquanto isso, em Sobradinho, cidade natal do novo ídolo candango, colegas de treino mantinham a rotina de atividades, sonhando um dia repetir a façanha do maior marchador do país.
Como reza a tradição no torneio, os vencedores da modalidade costumam aguardar até o dia seguinte para participar da cerimônia de premiação nos estádios olímpicos das respectivas cidades sede. Após receber a honraria ao lado do campeão Brian Pintado, do equador, e do terceiro colocado Álvaro Martin, da Espanha, Caio disse não ter se importado com a necessidade de esperar.
"Ontem foi um dia muito especial, mas receber a medalha é mais especial ainda. Dormi medalhista, mesmo sem ela. É legal, porque você é um medalhista por dois dias. É bom curtir isso dessa forma", disse o brasiliense, em entrevista à TV Globo.
O marchador candango também alcançou um outro feito inédito. Presente em uma edição de Jogos Olímpicos pela quarta vez, Caio foi o primeiro brasileiro a conquistar a primeira medalha depois de passar em branco nas três participações anteriores.
Perguntado sobre a noção que tem em relação ao impacto que gerou à modalidade e ao esporte brasileiro, o candango relatou que ainda está assimilando o feito alcançado. "Estou percebendo e tentando entender: as redes sociais, as mensagens, o apoio. Fico muito feliz com isso e por ter conseguido esse passo importante dentro da marcha atlética. Esse apoio é muito bom, porque você se sente abraçado pelas pessoas vibrando pelo seu resultado", comentou.
Ao lado da carioca Viviane Lyra, heptacampeã brasileira e campeã sul-americana da marcha de 50km, Caio Bonfim integrará a dupla responsável por representar o Brasil na maratona de marcha atlética revezamento misto, na próxima quarta-feira. A modalidade é uma das estreantes nos Jogos de Paris-2024. "Viemos aqui para fazer o nosso melhor. Eu e a Viviane estamos na nossa melhor forma. Estamos numa Olimpíada e sabemos que o nível é muito alto, mas a entrega vai ser a mesma, vamos para cima", garantiu Caio.
Caso de amor
Enquanto Caio cortejava a medalha de prata que acabara de receber, colegas de treino, em Sobradinho, mantinham a rotina de preparação física. De segunda a sábado, pelas manhãs ou à tarde, atletas a partir de oito anos marcham e correm na pista de atletismo no Estádio Augustinho Lima ou pelos arredores do Parque Jequitibás. Os treinamentos fazem parte de um projeto social idealizado para apoiar jovens talentos.
O Centro de Atletismo de Sobradinho (Caso) foi um gesto de Gianetti Sena e João Evangelista, pais de Caio, de paixão e contribuição para a modalidade esportiva. Os dois treinadores concretizaram nos anos 1990 a iniciativa que seria referência para atletas candangos. Hoje, o projeto conta com pelo menos 150 alunos e quatro pontos de treinamento.
Diego Lima é marchador e professor do Caso. Para ele, o projeto tem uma relevância que vai além da prática em si. "A gente é capaz de tirar um jovem das ruas, de envolvimento com drogas. Eu vi muitos atletas criarem uma perspectiva de vida por meio do esporte", contou.
O treinador exaltou a conquista de Caio Bonfim em Paris e comentou que a vitória auxilia a modalidade no crescimento e reconhecimento. "Isso coroa a marcha atlética, traz visibilidade, porque, às vezes, não é bem vista e as pessoas nem conhecem", completou Diego. Ainda abordou a questão do preconceito por conta do movimento feito pelos atletas, semelhante a uma rebolada. "Isso é desanimador. Você está lá muito cansado, o treino está dando tudo errado e uma pessoa ainda passa te xingando", desabafou.
Os 20km completados em 1h19min09s por Caio Bonfim nos arredores da Torre Eiffel, por incrível que pareça, consegue ter um significado ainda maior do que a medalha inédita para o Brasil na modalidade. Aos 18 anos, Marina Ferreira treina com o medalhista e enxerga a oportunidade como inspiradora. Para a jovem atleta, ver alguém próximo dela chegando tão longe serve como combustível para seguir marchando pelo sonho.
"Foi emocionante vê-lo na televisão. Eu chorei, foi lindo. É como se a gente estivesse ali ganhando", explicou. Marina pratica o esporte desde os 12 anos. Passava pelo local onde aconteciam os treinos, na época no Paranoá, com a mãe, quando viu os atletas praticando e se encantou de primeira. A jovem tem no currículo participações em competições em Santa Catarina e São Paulo e sonha repetir o feito do colega e ídolo, Caio Bonfim.
* Estagiários sob a supervisão de Fernando Brito
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