» Karin Santin*
Cientistas desenvolveram chips que simulam vasos sanguíneos e linfáticos para ajudar na produção de medicamentos. A ideia é que sejam utilizados desde o processo pré-clínico à testagem farmacêutica. Contribuições potenciais incluem acelerar testes, aumentar a segurança e reduzir experiências com animais. A pesquisa é conduzida pela Universidade de Agricultura e Mecânica do Texas (TA&MU), nos Estados Unidos, cujo foco se concentra em análises clínicas relativas de doenças vasculares e hematológicas.
Os resultados do estudo foram publicados na revista científica TA&MU. Os autores buscam aplicar a pesquisa em células para desenvolvimento de tratamentos sob medida. "Testar medicamentos é o valor comercial final porque você está sempre interessado em lidar com uma doença e curar pacientes", afirma Abhishek Jain, professor de Engenharia Biomédica e líder do laboratório responsável pelo estudo, em comunicado à imprensa.
Os chips utilizam sistemas microfluídicos com uma rede de capilares (tubos) de diâmetro similar ao de um vaso sanguíneo em que células sanguíneas são bombeadas em velocidade semelhante à do corpo humano. "Os capilares podem ser revestidos com células parecidas com as da parede vascular ou com proteínas encontradas na parede vascular. Assim, é possível verificar interações entre as células no vaso e as respostas das células às drogas a serem testadas", destaca Nicola Conran Zorzetto, coordenadora do Laboratório de Inflamação Vascular do Hemocentro da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e doutora em Bioquímica.
Para a conclusão dos testes clínicos, são esperados, em média, de 10 a 15 anos, considerando, o intervalo entre a descoberta e a aprovação final. "A implementação (dessa tecnologia) também tem potencial de reduzir custos e melhorar a eficiência do processo de desenvolvimento farmacêutico", diz a pesquisadora Suélia Siqueira, doutora em Engenharia Eletrônica Biomédica que pesquisa a tecnologia organ-on-a-chip ("órgão em chip" em tradução livre) na Universidade de Brasília (UnB).
Segundo Siqueira, essa tecnologia pode ser equipada com microssensores que monitoram o comportamento celular em resposta a estímulos em tempo real. De acordo com ela, esses aparelhos atuam como biomiméticos, que buscam reproduzir funções fisiológicas de órgãos e tecidos humanos. "Células humanas do tecido de interesse ou células-tronco são cultivadas dentro do dispositivo e mantidas com soluções que promovam seu crescimento e manutenção", descreve.
Para Nicola Zoerzetto, da Unicamp, uma das utilidades de chips microfluídicos seria avaliar a deformabilidade de células - brancas e cancerígenas -, para a pesquisa e tratamento de doenças relacionadas ao sangue. Ela acrescenta que a análise dos glóbulos vermelhos é outra via potencial de pesquisa, como no caso de alterações de deformabilidade e formato em quadros de malária. "No nosso laboratório, utilizamos o sistema microfluídico com biochips para estudar como células sanguíneas de pacientes com anemia falciforme interagem e aderem para entender os mecanismos da doença. Acompanhamos também os efeitos benéficos de tratamentos recebidos por eles", relata.
Suélia Siqueira, da UnB, afirma que a área de pesquisa e confecção de chips biomiméticos enfrenta desafios de infraestrutura e financiamento no Brasil, principalmente em comparação a países como os Estados Unidos e a Alemanha, avançados na área. Ela desenvolve um trabalho junto à equipe de cientistas do Núcleo de Pesquisas e Inovação em Organ-on-a-chip e Engenharia de Tecidos da UnB para análise da angiogênese em feridas crônicas. "A proposta principal seria o teste de equipamentos médicos desenvolvidos pela equipe, como os de luz LED e biomembrana de látex natural, que promove a cicatrização", destaca. (K.S.)
* Estagiária sob supervisão de Renata Giraldi