Paris — A ausência de público nos Jogos Olímpicos de Tóquio-2020 foi paga com juros e correção ontem. Prova disso é a abertura extravagante e sem precedentes nas águas do Rio Sena. Mil e oitenta e três dias após o encerramento atípico na edição do Japão, a capital francesa brindou o mundo e os mais de 320 mil sortudos presentes com uma grandiosa e original festa de gala.
Foram 200 dias de ensaios, 20 mil pessoas envolvidas, 2 mil artistas, 1,8 mil trajes produzidos, 170 câmeras de transmissão e 1,7 mil alto-falantes para oferecer a melhor experiência. O desfile das delegações foi dividido em atos e passou por 12 pontos tradicionais da cidade, cada um representando um pilar: Encanto, Sincronia, Liberdade, Igualdade, Fraternidade, Irmandade, Espírito Esportivo, Festividade, Escuridão, Solidariedade, Solenidade e Eternidade, terminando na Torre Eiffel.
O céu de Paris não escureceu enquanto as estrelas do espetáculo não entraram em ação. Cartão postal, o Rio Sena dividiu os holofotes com os mais de 7 mil atletas de 205 delegações, que desfilaram em 85 embarcações pelos 6km de leste a oeste do manancial. O primeiro país a entrar foi a Grécia.
A cantora estadunidense Lady Gaga também abrilhantou o espetáculo. Contudo, a performance não foi ao vivo, o que frustrou fãs da região onde começou a festa. A reportagem do Correio, que estava no local, flagrou o momento em que a artista gravou a apresentação. Tudo ocorreu cerca de três horas antes do início oficial da cerimônia.
Quem também participou da celebração foi a chuva. Em pleno verão europeu, abriu a manhã parisiense e ameaçou atrapalhar a festa ao ar livre. No início da cerimônia, caiu levemente, sem tirar a animação das delegações e do público. No entanto, na região da Torre Eiffel, a precipitação foi maior, mas não a ponto de estragar a atmosfera festiva.
Pela segunda vez, o Brasil foi representado por um homem e uma mulher. O canoísta e quatro vezes medalhista olímpico, Isaquias Queiroz, e Raquel Kochhann, do rugby sevens, repetiram o feito de Bruninho (vôlei) e da judoca brasiliense Ketleyn Quadros na cerimônia esvaziada pela pandemia de covid-19 em Tóquio-2020. Concentrados no Taiti, os surfistas não participaram presencialmente da abertura, mas estiveram virtualmente.
A apresentação reforçou o discurso de diversidade com exibição de pessoas de diferentes gêneros e etnias. Em seguida, foi feito um pedido de paz a partir da canção 'Imagine', do beatle inglês John Lennon (1940-1980).
Antes da abertura, especulou-se insatisfação dos parisienses com a realização dos Jogos Olímpicos. Porém, não foi isso que o Correio observou no Jardin Tino Rossi, um dos primeiros pontos do desfile com presença de público. Franceses pintaram o rosto, vestiram as camisetas das seleções e exibiram o orgulho nacional. Bandeiras de outros países também coloriram o cenário. Quem não tirou a sorte grande com tíquetes para acompanhar de pertinho improvisou. As sacadas dos típicos prédios parisienses de cinco e seis andares viraram arquibancada, assim como as áreas nas quais contavam com um dos 71 telões espalhados.
O Brasil também esteve presente na abertura fora das embarcações, com o apoio da torcida. No Arco do Triunfo, monumento inaugurado em 1836 para comemorar as conquistas militares de Napoleão Bonaparte, dois gaúchos de São Leopoldo exibiram com orgulho as cores do país. "Estamos muito empolgados, porque somos do esporte e, Paris, Jogos Olímpicos…", comenta Diogo, quase sem palavras. Adriana foi curta, mas expressiva: "Estamos entusiasmados com esse grande momento".
No Jardin Tino Rossi, Mariana Sakurada realizou o sonho ao lado da mãe, Rosa. "A abertura era o que gostaríamos de ver mesmo. Eu e meu marido estávamos nos inscrevendo na plataforma e, no primeiro minuto, conseguimos comprar. Também assistiremos a vôlei de praia, tênis de mesa, hockey na grama e tênis", compartilhou a arquiteta.
O esquema de segurança foi intensificado em todos os pontos da cidade. Somente pessoas credenciadas e com os bilhetes podiam acessar as proximidades do Rio Sena. A preocupação foi redobrada após o vandalismo em estações de trem nos arredores de Paris e ameaça de bomba no aeroporto Basileia-Mulhouse, na Suíça, a 460km de Paris.